6 de outubro de 2024

“Gostaria de ver empresas brasileiras no Japão”

Na quinta-feira (20) às 14h, no Plenário Ruy Araújo, da Assembleia Legislativa do Amazonas, haverá uma sessão especial, de autoria do deputado João Luiz, em homenagem ao Dia da Imigração Japonesa para o Amazonas, cuja data foi instituída pela lei nº 6.683, em 4 de janeiro de 2024. Em entrevista ao Jornal do Commercio, Masahiro Ogino, cônsul geral do Japão, em Manaus, falou da ótima relação do Amazonas com seu país.

Jornal do Commercio: Qual a importância da comemoração do Dia da Imigração Japonesa no Amazonas? 

Masahiro Ogino: Para nós, japoneses no Amazonas, este dia é muito significativo, pois o início do intercâmbio entre o Japão e este belo Estado começou com a imigração. Em 1930 os primeiros japoneses imigraram para Maués, que conheci há um ano. Ainda há um grande número de nikkeis vivendo lá. Depois da minha viagem, estabeleceram a Associação Nipo-Brasileira de Maués. Em 1931, um grupo de jovens, os koutakuseis, chegou a Parintins. Os koutakuseis se formaram na escola superior no Japão como líderes dos imigrantes para a região amazônica. Cerca de 250 viajaram para cá contribuindo para o desenvolvimento da região através do cultivo e da comercialização da juta. Em Parintins há escolas, praças e postos de saúde associados aos nomes dos koutakuseis. À exceção da Colômbia e do Peru, o Japão é o único país que mantém um consulado-geral em Manaus e na Amazônia Ocidental. Este fato dá a ideia da importância que o Japão atribui a esta cidade e região.

JC: Como o senhor se sente sabendo que sua nação é uma das que mais contribui para o desenvolvimento econômico, social e cultural do Amazonas? 

MO: É uma grande satisfação e honra saber dessa contribuição. O Amazonas possui a maior comunidade nikkei da Amazônia Ocidental, com cerca de 60 mil descendentes japoneses. Aqui há cinco colônias japonesas: três no entorno de Manaus: Cachoeira Grande; Bela Vista, do outro lado do rio Negro; e Efigênio Sales. E as de Parintins e Maués. Economicamente, a comunidade japonesa contribui significativamente. Mais de 40 empresas japonesas atuam no Polo Industrial de Manaus. De acordo com a Fieam, elas representam aproximadamente 30% das vendas totais do Polo, 15 mil pessoas são empregadas diretamente e 120 mil pessoas se beneficiam dessas empresas. E ainda tem o ensino da língua japonesa. Atualmente, Manaus é considerada a cidade mais ativa no ensino da língua japonesa no Brasil, sendo a única cidade com duas escolas públicas bilíngues: a Escola Djalma da Cunha Batista e a Escola Jacimar da Silva Gama. Hoje, cerca de três mil manauaras estão aprendendo japonês.   

Masahiro, “há décadas o governo do Japão colabora com o Amazonas”

JC: O Japão é um dos países com maior responsabilidade na destinação correta dos resíduos sólidos, no mundo. Como pode ajudar o Amazonas nesta questão? 

MO: Há décadas o governo do Japão colabora com o Amazonas, principalmente na área ambiental, nos setores de conservação florestal, monitoramento florestal e conservação da biodiversidade. No dia 8 deste mês, a Câmara de Comércio e Indústria Nipo-Brasileira do Amazonas realizou o evento Gomi Zero (Lixo Zero), em conjunto com o consulado-geral do Japão. O evento contou com a participação de 100 voluntários, de 19 empresas japonesas, que promoveram a limpeza de áreas da via principal de acesso ao Porto da Ceasa, e a doação de mudas de árvores para a população moradora da comunidade do entorno feita pela ONG japonesa Instituto Soka Amazônia, que atua em Manaus. O objetivo foi disseminar o valor da limpeza para os japoneses praticado na vida cotidiana, bem como promover a conscientização sobre a conservação ambiental. A limpeza é um dos lemas das empresas japonesas.

   

JC: O que um empresário amazonense deve fazer para investir, montar uma empresa ou vender seus produtos no Japão? 

MO: O governo do Japão deseja estimular o investimento no Japão. Assim como empresas

japonesas se estabeleceram aqui, gostaria de ver empresas brasileiras lá também. O chocolate Nakau, produzido aqui, já é vendido no Japão. Os japoneses estão buscando mais produtos da região amazônica. Para obter informações, entrem em contato

com o consulado, em Manaus, ou a Jetro, em São Paulo, agência governamental responsável pelos investimentos no Japão. 

JC: Fale sobre os eventos culturais que o Japão realiza, em Manaus, como o Bon Odori e o Jungle Matsuri. 

MO: O Bon Odori é um festival tradicional de verão onde as pessoas agradecem de modo especial aos seus antepassados. As três colônias de Manaus celebram o Bon Odori, em agosto. Este ano a Nippaku (Associação Nipo-Brasileira da Amazônia Ocidental) está programando mais um Jungle Matsuri, maior festival da cultura japonesa desta região, de 27 a 29 de setembro. Além do Bon Odori e do Jungle Matsuri, meu consulado também organiza uma exposição anual para apresentar o Japão. Neste ano, fizemos uma exposição de fotografias de paisagens japonesas e, no ano passado, foi uma exposição de bonecas japonesas.

JC: Uma pessoa, ou instituição, que tenha projetos culturais, sociais e ambientais pode submetê-los ao consulado para obter apoio financeiro?

MO: Meu consulado tem um programa chamado Assistência a Projetos Comunitários de Segurança Humana. Este  programa representa o desejo dos japoneses de contribuir com os esforços dos amazonenses para suprir as necessidades básicas humanas nas áreas de educação, saúde, água potável, dentre outros. Desde 1999, o programa já prestou cooperação em 35 projetos, totalizando R$ 12 milhões. 

JC: Como o senhor avalia as relações econômicas entre o Amazonas e o Japão? O Japão ainda quer investir no Amazonas? 

MO: Quero promover a evolução das relações econômicas entre o Amazonas e o Japão ainda mais. Já visitei todas as empresas japonesas em Manaus. Este ano a Jica, agência japonesa para cooperação internacional, iniciou uma nova colaboração com a Fiocruz Amazônia, o projeto para o ‘Aprimoramento de uma rede de monitoramento genômico para Covid-19’. A Universidade de Kanazawa e a Fiocruz Amazônia estão desenvolvendo um projeto de vacinas contra a malária. A farmacêutica Takeda começou o fornecimento da vacina contra a dengue. A Fujifilm contribui para a erradicação da tuberculose. Em maio deste ano o primeiro-ministro japonês Kishida visitou o Brasil e, na ocasião, emitiu uma

declaração conjunta com o presidente Lula, lançando a ‘Iniciativa de Parceria Verde Japão-Brasil’ visando medidas de combate às mudanças climáticas. Além disso, o próximo ano marca o 130º aniversário das relações diplomáticas entre os nossos países. Ambos os líderes confirmaram que promoverão ações de cooperação como o Ano de Amizade e o Intercâmbio entre o Japão e o Brasil. Será um momento oportuno para promover as nossas relações econômicas. 

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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