18 de setembro de 2024

Imóveis: preços oscilam

O valor médio do metro quadrado dos imóveis de Manaus desacelerou no mês passado, após o repique de janeiro. A alta de fevereiro não passou de 0,09%, reposicionando o preço de R$ 5.744 para R$ 5.749. Foi um incremento muito mais ameno do que o do mês anterior (+0,45%), além de ficar abaixo da média brasileira (+0,49%). A capital acumula altas de 0,55%, no bimestre, e de 8,65%, em 12 meses. Os dados são do Índice FipeZap, estudo mensal da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que acompanha as flutuações do mercado imobiliário de 50 cidades brasileiras.  

Na análise da Ademi-AM (Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Amazonas), a estabilização dos valores cobrados por metro quadrado na capital amazonense reflete o momento econômico atual de inflação e juros altos, potencializados pelas incertezas abertas pela guerra na Ucrânia. Embora a divulgação da próxima pesquisa de mercado esteja programada para ocorrer apenas quando o trimestre estiver encerrado, a entidade antecipa que, se janeiro ainda apresentou números positivos de vendas, o mesmo não pode ser dito de fevereiro e da primeira quinzena de março.

Na média nacional, o Índice FipeZap de fevereiro (+0,49%) também desacelerou ante janeiro (+0,53%). O número correspondeu a menos da metade do IPCA do mês (+1,01%), segundo o IBGE, além de perder por uma margem ainda maior para o IGP-M, que alta de 1,83% na “inflação do aluguel” (+1,83%), conforme a FGV. No bimestre, o indicador do Fipezap pontuou 0,55% de valorização, para um IPCA de 1,56% e um IGP-M de 3,68%. No acumulado dos últimos 12 meses, os aumentos foram de 8,65%, 10,54% e 16,12%, respectivamente.

Todas as 15 das 16 capitais sondadas pelo Fipezap – que se baseou em 1.440 anúncios imobiliários locais – aumentaram seus preços, na variação mensal. Manaus (+0,09%) subiu caiu da 12ª para a 15ª colocação no ranking. As maiores altas vieram de Vitória (+2,36%), Goiânia (+2,25%), Campo Grande (+1,50%), Fortaleza (+1,18%), Maceió (+1,15%), João Pessoa (+1,09%), Florianópolis (+1,07%) – todas com taxas acima do IPCA. Abaixo desse patamar estão Salvador (+0,89%), Brasília (+0,50%), São Paulo (+0,38%), Recife (+0,33%), Belo Horizonte (+0,30%), Curitiba (+0,22%) e Rio de Janeiro (+0,19%). O único dado negativo veio de Porto Alegre (-0,01%). Entre as não capitais, os extremos ficaram nas cidades paulistas de São José dos Campos (+2,85%) e Barueri (-0,56%).

Bairros em alta

O Adrianópolis (R$ 6.925), na zona Centro-Sul, se manteve como o bairro mais caro de Manaus. Foi seguido pelos bairros Ponta Negra (R$ 6.199), Aleixo (R$ 6.102), Dom Pedro (R$ 5.884) – que, diferente dos demais, fica na zona Centro-Oeste – e Nossa Senhora das Graças (R$ 5.821). Os cinco mantiveram as mesmas posições do levantamento anterior, sendo que apenas o primeiro e o quarto se valorizaram ante janeiro. Em 12 meses, as variações foram todas positivas (+8,9%, +3,2%, +23,3%, +22,8% e +9,3%, respectivamente).

O mesmo se deu nas demais colocações do Top 10 da capital. A Vila da Prata (R$ 5.754) – na zona Oeste – manteve a dianteira em relação ao Parque 10 de Novembro (R$ 5.008) – na zona Centro-Sul. Foram seguidos por Flores (R$ 4.716) – também na zona Centro-Sul –, Alvorada (R$ 4.336) – na zona Centro-Oeste – e Centro (R$ 2.913). Todos registraram aumentos, na variação mensal. Na comparação com fevereiro de 2021, os três primeiros alcançaram índices de valorização de dois dígitos (+21,1%, +15,1% e +15,8%, na ordem), ao passo que o Alvorada seguiu estável e o Centro viu se preço médio de metro quadrado recuar 39,6%.

Com a alta mais tímida de fevereiro, o preço médio do metro quadrado manauense (R$ 5.749) ampliou sua diferença (-27,60%) em relação à média nacional (R$ 7.941). O valor está próximo ao de cidades médias do Sudeste e Sul, a exemplo de Santo André/SP (R$ 5.889) e Joinville/SC (R$ 5.494), entre outras. Manaus segue em 12º lugar entre as 16 capitais listadas pelo FipeZap, à frente de Salvador (R$ 5.404), Goiânia (R$ 5.333), João Pessoa (R$ 5.015) e Campo Grande (R$ 4.749), ficando logo atrás de Fortaleza (R$ 6.444). Os preços mais elevados estão em São Paulo (R$ 9.787), Rio de Janeiro (R$ 9.682) e Florianópolis (R$ 8.794). 

“Cenário imperfeito”

Na análise do diretor da Comissão da Indústria Imobiliária da Ademi-AM (Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Amazonas), Henrique Medina, a perda de vigor do índice Fipezap reflete um mercado imobiliário igualmente em desaceleração. Embora não revele números – que serão divulgados apenas quando a pesquisa trimestral da entidade for concluída –, o dirigente resumiu à reportagem do Jornal do Commercio que janeiro foi “muito bom”, fevereiro ficou “bem ruim”, e março que março “não está sendo fácil”.

“São tantas notícias ruins, como guerra e aumento de combustível. Isso tudo faz o consumidor atrasar um pouco a decisão de comprar um imóvel. O mercado está tentando se movimentar e focar no Casa Verde e Amarela. Como esse crédito é subsidiado pelo FGTS e pelo governo federal, acaba sendo um caminho. Mas, são empreendimentos maiores e que demoram mais para serem aprovados, com toda aquela burocracia. Enfim, o ano vai ser bem complicado e de bastantes dificuldades”, lamentou.  

Medina avalia que a presença dos bairros Vila da Prata e Alvorada no ranking de valorização imobiliária de Manaus se deve a “alguma concentração” de vendas de imóveis usados, já que ambos não contam com empreendimentos recentemente lançados. O diretor da Comissão da Indústria Imobiliária da Ademi-AM assinala, por outro lado, que, a “inflação controlada” de fevereiro pode ter acontecido também em virtude de um desaquecimento sazonal. A expectativa para os próximos meses, contudo, é de uma aceleração dos custos para a atividade, que devem ser incorporado aos preços finais dos produtos.

“Já foi anunciado pelas siderúrgicas que, em abril, vai haver um aumento de 20% no preço do aço. O cimento já foi reajustado neste mês, fora os combustíveis, que subiram sobremaneira. Certamente, teremos incremento nos valores dos imóveis em março e abril. A tendência é que continuem subindo, enquanto não tivermos um cenário em que os preços de combustíveis e demais commodities se estabeleçam. O que é muito ruim, porque temos elevações de preços e de juros. É um cenário imperfeito, e o mercado deve passar por momentos mais conturbados, nos próximos meses”, arrematou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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