13 de setembro de 2024

Importações e câmbio puxam balança comercial do Amazonas para baixo

A corrente de comércio exterior do Amazonas segue negativa no acumulado do ano. A soma dos valores das exportações e importações superou US$ 9.78 bilhões e ficou 2,40% inferior ao mesmo período de 2022 (US$ 10.02 bilhões). O impacto vem das aquisições de partes e peças importadas para o PIM, que compõem a parte majoritária da balança comercial, e que seguiram em declínio em agosto. As vendas externas de manufaturados desaceleraram, mas progrediram na variação anual, puxadas por concentrados e motocicletas. É o que revelam os números do Mdic, disponibilizados no site Comex Stat.

A base de dados do governo federal confirma que as vendas externas somaram US$ 78.48 milhões e ficaram 6,38% abaixo de julho (US$ 83.83 milhões) – que teve dois dias úteis a menos. Também ficaram 7,91% inferiores a julho de 2022 (US$ 85.22 milhões). As compras tiveram desempenho pouco melhor. Totalizaram US$ 1.20 bilhão e subiram 4,35% sobre o mês anterior (US$ 1.15 bilhão), mas tropeçaram 6,98% no confronto com o mesmo período do ano passado (US$ 1.29 bilhão). Em oito meses, as exportações se mantêm positivas (+8,90% e US$ 648.48 milhões), em sentido inverso ao das importações (-2,97% e US$ 9.14 bilhões).

A análise trimestral, que é usada para captar tendências, mostrou dados ainda mais preocupantes para o comércio exterior amazonense. As vendas externas ficaram em US$ 249.02 milhões no trimestre encerrado em agosto, configurando um retrocesso de 6,23% frente o acumulado de março a maio (US$ 265.57 milhões). As importações caíram de US$ 3.56 bilhões para US$ 3.38 bilhões, com uma diferença de 6,15%. O confronto com o mesmo trimestre do ano passado confirmou estabilidade para as vendas (-0,12%) e um recuo modesto para as compras (-2,87%).

O comparativo da pesagem das mercadorias, contudo, apresenta desempenho menos desfavorável para as exportações, refletindo os possíveis impactos da volatilidade cambial e da resiliência da inflação internacional pós-pandemia. De agosto de 2022 a agosto de 2023, a cotação do dólar caiu 3,87% frente ao real, de R$ 5,0611 (2022) para R$ 4,8652 (2023). O volume das vendas externas ficou em 39,65 mil toneladas no mês passado e avançou 115,84% na variação anual. Já as importações (466,62 mil toneladas) decolaram 116,42% na mesma comparação. No acumulado do ano, foram registradas expansões de 53,54% (257,67 mil toneladas) e 59,63% (2,57 milhões de toneladas), respectivamente. 

Insumos e manufaturados

A lista de importados é dominada por insumos para o PIM, mas conta também com combustíveis, minérios e manufaturados prontos. É encabeçada por circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos (US$ 227.19 milhões), óleos de petróleo” (US$ 130.76 milhões), além de discos, fitas e suportes para gravação de sons (US$ 105.45 milhões). As posições seguintes foram ocupadas por partes e acessórios veículos de duas rodas (R$ 51.95 milhões), celulares (US$ 48.26 milhões), “aparelhos de ar condicionado (R$ 46.45 milhões) e polímeros de etileno (R$ 37.28 milhões). 

A China (US$ 471.34 milhões) confirmou liderança no ranking de fornecedores para o PIM, embora tenha sofrido retração de 12,83% na comparação com o valor de um ano atrás (US$ 540.72 milhões). A Rússia (US$ 130.60 milhões) subiu para a segunda colocação, alavancada pela venda de óleo bruto de petróleo para o Amazonas. Na sequência estão Estados Unidos (US$ 97.62 milhões), Vietnã (US$ 85.75 milhões), Coreia do Sul (US$ 72.25 milhões) e Taiwan/Formosa (US$ 65.66 milhões), entre 88 nações que negociam com o Estado. 

Do lado das exportações, a Venezuela (US$ 16.41 milhões) voltou a topo de um ranking com 67 países, com expansão de 106,93% na variação anual. Mas, a lista de compras continuou restrita a produtos básicos, como extratos de malte (US$ 5.99 milhões) e óleo de soja (US$ 2.54 milhões). Foi seguida pela Alemanha (US$ 8.87 milhões) – graças essencialmente à aquisição de ouro (US$ 8.29 milhões). A Colômbia (US$ 8.32 milhões) se manteve no terceiro lugar, com preferência para os concentrados. Foi seguida pela Argentina (US$ 7.89 milhões), que comprou diversos manufaturados do PIM. A China (US$ 7.50 milhões) teve sua pauta dominada por ferro ligas/nióbio, enquanto as transações com os Estados Unidos (US$ 5.73 milhão) foram impulsionadas pelas motocicletas.

A pauta de exportações do Amazonas foi liderada pelas preparações alimentícias/concentrados (US$ 14 milhões), embora o valor tenha retrocedido 25,33% no confronto com o dado de 12 meses atrás (US$ 18.75 milhões). O pódio foi dividido com motocicletas (US$ 11.35 milhões) e ouro (US$ 8.29 milhões). Ferro-ligas/nióbio (US$ 8.21 milhões) ocupara o quarto lugar de um rol de 353 itens. Em função da primarização da pauta e da presença de muitos produtos acabados, os próximos manufaturados do PIM só aparecem na sexta, décima, 11ª posições em diante – barbeadores (US$ 4.26 milhões), celulares (R$ 1.91 milhão) e canetas (R$ 1.36 milhão), entre outros. 

Câmbio e logística

O diretor adjunto de Infraestrutura, Transporte e Logística da Fieam, e professor da Ufam, Augusto Cesar Rocha, avalia que os números apontados pelo Comex Stat decorrem da redução dos fluxos internacionais por questões logísticas, como as restrições do Canal do Panamá – “e, em breve, as do Amazonas” –, mas não descarta também a hipótese de “estoques abastecidos”. Na análise do especialista, a importação de óleos de petróleo aponta para “um problema de logística e abastecimento da Petrobrás e do sistema nacional para a estrutura de refino em Manaus” que poderia ser evitado. 

“Concordo com a percepção da volatilidade cambial – é uma questão que será cada vez mais relevante nestes meses até o final do ano. Mas, a volatilidade presente não me parece ainda suficiente para causar muitos ruídos no comportamento do comércio exterior. Entendo que esta redução do fluxo não é desejada, mas parece que a tendência continua. Infelizmente, parece que se manterá. Espero que seja revertida logo. Precisamos de um esforço maior para os países vizinhos e da construção de rotas de voos para estimular novos fluxos logísticos”, analisou.

Já o gerente executivo do Centro Internacional de Negócios da Fieam, Marcelo Lima, concorda que as oscilações do dólar pesam na análise dos números. Mas ressaltou que os números seguem “normais” e que a tendência de importação é de aumento, “por menor que seja”. “O PIM praticamente é detentor de toda a importação e o comum é que, a partir de setembro, haja um incremento, ainda que ele seja gradativo e vegetativo, de acordo com as tendências do mercado. No caso das exportações, o que me surpreende é a posição da Alemanha no ranking, assim como o mercado da Venezuela, muito embora não sejam produtos da ZFM. A China vem se mantendo no ranking e a Colômbia caiu”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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