Depois de amargar quedas de faturamento e no uso de uso de sua capacidade instalada, no mês inicial da segunda onda, a indústria do Amazonas registrou resultados melhores, em fevereiro. Mas, apesar dos incrementos nas vendas, no ritmo da atividade e nas horas trabalhadas, apresentou decréscimos no emprego e na massa salarial. Em ambos os casos, o Estado seguiu na trajetória inversa à registrada pela média nacional, que desabou praticamente em todas as frentes. É o que revelam os dados locais da pesquisa dos Indicadores Industriais da CNI, compilados pela Fieam.
O faturamento real da manufatura amazonense subiu 21,5% na variação mensal, em um resultado bem superior ao experimentado no levantamento de anterior (-6,9%). Confrontado com o valor capturado em fevereiro de 2020, as vendas ainda decolaram atípicos 72,9%. No bimestre, o crescimento foi de 52,1%. Na média brasileira, o setor encolheu 3,3% ante janeiro de 2021, mas cresceu 4,5% na variação anual e 5,2% no acumulado do ano.
Em sintonia, as horas trabalhadas nas linhas de produção da indústria amazonense avançaram 8,7%, entre janeiro e fevereiro deste ano, em acréscimo ao dado positivo anterior (+4,8%). Na comparação com a marca de 12 meses atrás, no entanto, foi registrado um novo recuo (4%), levando o acumulado do ano ao negativo (-5,5%). Na média brasileira, o setor também recuou na variação mensal (-0,5%), mas cresceu nas demais comparações (+3,5% e +4%, respectivamente).
Já a UCI (utilização da capacidade instalada) da indústria amazonense – que trata do percentual de máquinas comprometidas na produção – ficou praticamente estável (+0,1%) entre janeiro (67,3%) e fevereiro (67,4%), sendo este o segundo menor número desde abril de 2020 (57,5%) – auge da primeira onda. Em relação a fevereiro do ano passado (82,3%) – mês ainda situado no período pré-pandemia – houve um tombo de 18,10% (14,8 pontos percentuais). A UCI do bimestre também ficou abaixo do patamar de 2020 (82,15%). Em contraste, o indicador nacional só caiu na variação mensal dessazonalizada (de 80,6% para 80,2%) e avançou em relação ao mesmo mês do ano passado (77,5%).
Empregos e salários
O Amazonas colheu um dado comparativamente pior no emprego. O saldo de contratações das fábricas instaladas no Estado diminuiu 1,8%, na comparação com janeiro de 2021 – ante a virtual estagnação anterior (-0,1%) –, mas teve acréscimo de 6% no confronto com o mesmo mês do ano passado e de 8,7%, no bimestre. Na média nacional, o setor avançou em todas as comparações (+0,4%, +1,1% e +0,6%, na ordem).
O pior desempenho da manufatura amazonense veio da massa salarial, que amargou retrocesso em todas as comparações. A queda foi de 6,2% na comparação com janeiro deste ano – ante o crescimento anterior (+1,2%), enquanto a variação anual negativa de 9,4% contribuiu para erodir o resultado no acumulado do ano (-8%). A média nacional também apontou números insatisfatórios para o setor, com retrações respectivas de 1,1%, 1,3% e 0,7%.
Em texto divulgado pela assessoria de imprensa da CNI, o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo, ressalta que o desaquecimento da atividade industrial brasileira, no segundo mês do ano também provocou retração do faturamento (-3,3%), da massa salarial (-1,1%), do rendimento médio (-1,8%) e da utilização da capacidade instalada (-0,4 ponto percentual).
“O emprego foi o único indicador que manteve a sequência de altas. Ele vem crescendo desde agosto de 2020 e, em fevereiro, ultrapassou o nível pré-pandemia, ainda influenciado pela forte recuperação da atividade industrial de meses anteriores. Mas, os demais dados mostram a interrupção da tendência de alta da atividade industrial, o que pode se refletir no emprego, mais para a frente”, ponderou o economista, no texto da CNI.
“Meses difíceis”
O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, ressalva que a pesquisa tem “escopo reduzido” ante os Indicadores da Suframa – que englobam os dados do PIM em sua totalidade, e serve como indicador de tendência. O dirigente aponta, por outro lado, que o principal motivo para o descolamento do Amazonas em relação ao restante do país mostrado na sondagem se deve ao fato de que o Estado experimentou a “fase mais aguda da pandemia” com quase dois meses de antecedência em relação ao restante do Brasil.
“Devemos ter meses subsequentes ainda difíceis. O agravamento da crise no restante do país também tem impacto direto nas nossas indústrias, uma vez que, aproximadamente, 98% do nosso faturamento é advindo do mercado nacional. Ademais, enfrentamos problemas referentes ao fornecimento contínuo de insumos e encolhimento do poder de compra do brasileiro. O auxílio emergencial, de igual modo, estima-se ter um impacto oito vezes inferior que o de 2020, o que nos enseja bastante preocupação, ao considerarmos que já existe uma natural retração da economia”, finalizou.
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