14 de setembro de 2024

Indústria imobiliária fecha ano em alta

O faturamento da indústria imobiliária do Amazonas voltou a crescer no quarto trimestre de 2022. As incorporadoras somaram R$ 355 milhões em VGV (valor geral vendido) líquido no período, 21,99% a mais do que o registrado entre outubro e dezembro de 2021 (R$ 291 milhões). O resultado ficou 15,88% abaixo do valor do somatório dos três meses anteriores (R$ 422 milhões) – que havia marcado um novo recorde para a atividade. As vendas acumuladas de 2022 encostaram nos R$ 1,47 bilhão e avançaram 42,72% no confronto com igual intervalo do exercício anterior (R$ 1,03 bilhão). 

Os números foram extraídos da sondagem dos Indicadores Imobiliários da Ademi-AM (Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Amazonas), divulgada em coletiva de imprensa realizada nesta quarta (15). A taxa de crescimento anual acima dos 40% superou as expectativas do setor, que havia iniciado o 2022 com projeção de empate com 2021, e chegou a elevar a meta para 30%, em agosto. Já o valor das vendas acumuladas configurou novo recorde para o Estado, com crescimento em todas as modalidades, principalmente nos imóveis horizontais. A entidade, no entanto, considera que o cenário ainda é muito “nebuloso” para traçar estimativas para 2023.

A sondagem mostra ainda que o aumento da demanda foi acompanhado por expansão na oferta, em todas as comparações. A quantidade de empreendimentos lançados no trimestre anterior (10) foi 25% superior ao registro do acumulado de julho a setembro do mesmo ano (8), e 42,86% mais elevada do que a apresentada no mesmo período de 2021 (7). O número de unidades lançadas (3.206), por sua vez, aumentou 10,32%, na virada trimestral, e decolou 157,72% na variação anual. No acumulado de janeiro a dezembro, os números foram 52,94% (26) e 64,83% (7.564) mais fortes, respectivamente. 

Valor agregado

Seis localidades responderam, juntas, por 75,1% das vendas do quarto trimestre do ano passado. O bairro Ponta Negra (278), na zona Oeste, voltou a encabeçar o ranking. Na sequência estão Cidade Nova (190) – na zona Norte –, Parque Mosaico (178) – na zona Centro-Oeste –, Tarumã (152) – na zona Oeste –, Colônia Terra Nova (92) e Santa Etelvina (77) – ambos também na zona Norte. Lago Azul, Novo Aleixo e Jardim Manaus, que também ficam no Norte da cidade, que já haviam aparecido nas listagens dos trimestres anteriores, ficaram longe do pódio, desta vez. 

A mudança de bússola dos incorporadores em direção de produtos de maior valor agregado e voltados a um público menos dependente de financiamentos se reflete no volume de vendas líquidas. Em 12 meses, as vendas dos imóveis verticais de “padrão econômico” (R$ 563 milhões) foram superadas pelas dos “demais padrões” (R$ 437 milhões) em valores líquidos. A comparação com os números de 2021 mostra um virtual empate, no primeiro caso, e um crescimento de 28,25%, no segundo.

Em termos de unidades lançadas, permaneceu o predomínio dos produtos de menor valor agregado (4.052) em detrimento dos imóveis mais caros (2.597), com progressões respectivas de 52,79% e 47,47%. As unidades horizontais, por outro lado, somaram 1.097 ao longo do ano, e escalaram 523,29%, no confronto com o dado de 2021 (176).

Obras paradas

Durante a coletiva, o presidente da Ademi-AM e vice-presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Albano Máximo, considerou que os dados de 2022 sinalizam um retorno a períodos de vendas mais fortes. “Estamos voltando aos números de 2014. E o Amazonas teve um desempenho muito acima do restante do Brasil. Foi um ano muito bom”, sintetizou. O dirigente, que na coletiva havia mencionado expectativa de manter esse cenário em 2023, preferiu não arriscar projeções de crescimento para os próximos meses. 

O presidente da Ademi-AM salientou que uma das expectativas do setor para 2023 é conseguir destravar a retomada de obras habitacionais não acabadas. “Só para se ter uma ideia, tínhamos 200 mil unidades nessa condição, no final do governo Dilma [2016]. Hoje já chegamos 80 mil. Eram projetos feitos de forma bem arrojada e que não puderam ser concluídos porque dependiam também de infraestrutura elétrica, de pontes, além de licenciamento ambiental. Essas coisas acabaram travando”, explicou.

Outro foco, conforme Albano Máximo, é a habitação para a baixa renda, com destaque para os imóveis situados na chamada faixa 1 do programa federal, que é direcionado para brasileiros com renda de até R$ 2.600 mensais. “O que foi mostrado até agora pelo governo são indicadores. O Casa Verde e Amarela volta ser nomeado como Minha Casa, Minha Vida. Mas, precisamos detalhar isso. Esse faixa 1 é uma obra que precisa de muito recurso público e o comprador não tem condição de arcar com prestações compatíveis com o valor do imóvel. É mais uma obra social, do que de mercado”, comentou.

“Para comemorar”

Já o diretor da Comissão da Indústria Imobiliária da Ademi-AM, Henrique Medina, comemorou os resultados, ao salientar que todos os quatro trimestres de 2022 assinalaram acréscimos “bem acima do ano anterior”, contribuindo para um novo recorde de vendas. “Foram números muito interessantes. Muito disso se deve a lançamentos de condomínios de lotes, que já fazia algum tempo que não tinham em Manaus. É um ano para se comemorar, pois tivemos vendas de produtos baixo padrão e alto padrão”, celebrou.

Medina acrescenta que a capital ainda apresenta dois vetores de crescimento para o segmento imobiliário, situados nas zonas Oeste e Norte da cidade, em função da maior oferta de áreas. O executivo acrescenta que, além da capital, outros municípios da Região Metropolitana de Manaus também se destacam em termos de oferta de produtos imobiliários, especialmente Iranduba. “Há muitos lançamentos, tanto de lotes, quanto de casas, que contribuem sobremaneira para esse recorde que tivemos no ano passado. A ponte ajuda, assim como o custo mais baixo dos terrenos, proporcionando um preço um pouco mais barato para os imóveis do que os de Manaus”, comparou.

O diretor da Comissão da Indústria Imobiliária da Ademi-AM destaca que a quantidade de lançamentos de 2022 também foi relevante. “Lançamos quase R$ 2 bilhões em VGV e crescemos quase 100%. E estamos conseguindo manter a VSO, que é a velocidade sobre a oferta. No final de 2021, ela estava na casa dos 5,6%, e diminuiu para 5,1%, em 2022. Mas, a quantidade de produtos ofertados justifica essa pequena redução. O empresário está vendo oportunidades em nosso mercado e os clientes estão comprando”, reforçou.

Questionado pela reportagem do Jornal do Commercio sobre as expectativas para os próximos meses, entretanto, Medina se mostrou mais cético. “O cenário ainda está muito nebuloso e ainda estamos procurando saber como será o formato que o novo governo vai dar ao Minha Casa, Minha Vida. Além disso, a poupança, que é uma fonte importante de financiamentos para o segmento, está tendo mais retiradas do que depósitos. As vendas de janeiro foram muito boas, mas fevereiro já está sendo complicado. Se conseguirmos ter um  2023 igual a 2022 já será um grande resultado”, encerrou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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