Depois de sofrer o impacto do estrangulamento na cadeia de suprimentos global no mês anterior, a produção industrial do Amazonas voltou a cair sob os efeitos da crise do Covid-19, na passagem de fevereiro para março. Desta vez, o tombo foi de dois dígitos, em intensidade maior do que o registrado na média nacional, e em sintonia com a paralisia do PIM, o fechamento do comércio e a retração da demanda. A conclusão vem dos dados estão na pesquisa mensal do IBGE para o setor, divulgada nesta quinta (14).
A atividade industrial amazonense recuou 11% em relação a fevereiro, na maior redução mensal em quatro anos, e com muito mais força do que no registro anterior (-2,5%). A queda registrada no confronto com março de 2019 foi de 5,7%, igualmente mais forte do que a do levantamento precedente (-2,8%). O desempenho fez o Amazonas encerrar o trimestre (-1,2%) no vermelho, mas o acumulado de 12 meses (+5,2%) seguiu em campo positivo.
A despeito do decréscimo mensal, o Estado conseguiu subir do 13º para décimo lugar entre as 14 unidades federativas pesquisas mensalmente pelo IBGE, em um mês de média nacional em baixa (-9,1%) e de resultados negativos para todos. Minas Gerais (-1,2%), Rio de Janeiro (1,3%) e Goiás (2,8%) encabeçaram a lista. Os piores desempenhos foram registrados no Ceará (-21,8%), Rio Grande do Sul (-20,1%) e Santa Catarina (-17,9%).
O mesmo se deu em relação ao tombo no confronto com março de 2019: a indústria amazonense saiu da 11ª para a décima posição do ranking mensal do IBGE, em um patamar aquém da média brasileira (-3,8%). Rio de Janeiro (+9,4%), Bahia (+5,8%) e Paraná (+1,6%) alcançaram os melhores resultados, em uma lista com apenas quatro resultados positivos. Em contraste, os desempenhos mais baixos ficaram em Santa Catarina (-15,6%), Espírito Santo (-14,2%) e Rio Grande do Sul (-13,7%).
No acumulado dos três meses iniciais de 2020, o Amazonas se manteve em sétimo lugar e, desta vez, à frente da média nacional (-1,7%). Rio de Janeiro (+9,8%), Bahia (+7,1%) e Pernambuco (+5,6%) lideraram as estatísticas neste tipo de comparação, enquanto Espírito Santo (-13,3%), Minas Gerais (-8,4%) e Santa Catarina (-5,1%) ficaram no rodapé de uma lista com dez números negativos.
Condicionadores e discos
Apesar do recuo, apenas quatro das dez atividades da indústria local levantadas pelo IBGE tiveram desempenho negativo no confronto com março de 2019: bebidas (-21,8%); indústria extrativa (óleo bruto de petróleo: -15,2%); produtos de borracha e de material plástico (-15%); e coque de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (gás natural: -5,8%).
Na outra ponta, os melhores números vieram de máquinas e equipamentos (condicionadores de ar: +54,3%); impressão e reprodução de gravações (DVDs e discos: +17,8%); outros equipamentos de transporte (motocicletas: +10,5%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (conversores, alarmes, condutores e baterias: +10,3%); produtos de metal (lâminas, aparelhos de barbear e estruturas de ferro: +5,1%); e equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos (celulares e computadores: +0,9%).
Isolamento social
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, reforça que a retração da manufatura amazonense entre fevereiro e março foi a maior desde 2016 – auge da crise anterior à pandemia – e acabou eliminando o “arranque” registrado em janeiro. O pesquisador avalia que a indústria extrativa foi a principal responsável pela queda dos números globais na variação mensal e antevê performance pior no próximo mês.
“Infelizmente, não se pode esperar que os números sejam melhores em abril. As medidas de isolamento social, iniciadas na última semana de março, se prolongaram por todo esse período, o que prejudicou sensivelmente a produção industrial local”, ressaltou o supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, em vídeo distribuído à imprensa.
Sem surpresas
Na mesma linha, o presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, reforçou ao Jornal do Commercio que o primeiro trimestre, que já é um período sazonalmente mais fraco, com restabelecimento de estoques e aquecimento para a produção voltada para o Dia das Mães, sofreu um impacto inescapável da crise do Covid-19.
“Um mês antes, as empresas sinalizavam ficar sem insumos. Em seguida, tivemos medidas restritivas de fechamento do comércio. Os números até aqui não são nenhuma surpresa, pois a indústria está parada. Certamente o resultado será pior de março para abril e de abril para maio. O desempenho do setor neste ano deve ser bem prejudicado pelo Covid-19. Vamos acompanhar”, finalizou.
Fonte: Marco Dassori