A pior fase da indústria pode ter ficado para trás, mas o setor ainda deve apresentar crescimento moderado, principalmente no primeiro semestre de 2012, avaliam analistas do mercado financeiro em relatórios enviados ao AE Projeções. Conforme os profissionais, a produção industrial em fevereiro só voltou a crescer puxada pela devolução de fatores pontuais. Para os analistas, as medidas de incentivo ao setor anunciadas ontem pelo governo federal são bem-vindas, mas poderão ter reflexo mais forte no segundo semestre.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção industrial cresceu 1,3% na margem. O resultado ficou dentro do intervalo das estimativas coletadas pelo serviço especializado da Agência Estado (de -1,00% a +1,70%) e acima da mediana de +0,50%. Em relação a fevereiro de 2011, a produção da indústria caiu 3,9%. Para esta base de comparação, as previsões iam de retração de 4,30% a 9,10%, com mediana de -6,10%.
Os dados da indústria, divulgados ontem pelo IBGE, apontam que a surpreendente queda da produção em janeiro teve forte parcela de fatores pontuais, de acordo com o Banco Fator. “Em contrapartida, importantes setores da indústria, como a indústria de alimentos, apresentou recuo no mês de fevereiro. Portanto, a situação da indústria no país continua preocupante, e as medidas de incentivos anunciadas pelo governo hoje são bem-vindas”, mostra relatório do banco.
Para os economistas da LCA Consultores, o aumento do salário mínimo no começo deste ano e a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para bens duráveis da linha branca, implementada no fim de 2011, ainda são insuficientes para mudar o rumo de fragilidade da indústria. Segundo análise específica sobre o tema, a instituição ressalta que uma retomada da atividade deverá ficar para o segundo trimestre.
“Para o primeiro trimestre, a despeito do resultado positivo de fevereiro, continuamos com a avaliação de que o desempenho da indústria continuará modesto. Os licenciamentos da Fenabrave em março mostraram que o setor automotivo vem apresentando esfriamento agudo. Além das vendas, a produção também tem perdido força nos últimos meses, enquanto os estoques seguem em nível elevado”, escreveram os economistas da LCA. Segundo eles, a recuperação da produção industrial em fevereiro, influenciada pelo setor automotivo, pode não se sustentar.
Sinais de arrefecimento no ar
O economista Flávio Combat, da Concórdia Corretora, também acredita que, apesar da expansão da produção industrial no segundo mês de 2012, indicadores recentes do mercado de crédito, apontando aumento da inadimplência, e dados do setor automotivo, mostrando arrefecimento nas vendas de veículos, sinalizam um primeiro trimestre fraco para a indústria.
“As medidas de estímulo ao setor industrial anunciadas hoje pelo governo, ao lado dos efeitos da política monetária expansionista, devem surtir efeito somente a partir do segundo semestre, com possibilidade de que estímulos sejam oferecidos também a outros setores diante dos sinais claros de desaceleração da atividade”, avaliou em relatório.
Na avaliação da Tendências Consultoria Integrada, o bom resultado da produção em fevereiro não deve alterar o tom do pacote de medidas anunciadas pelo governo ontem. Em análise sobre a produção industrial, publicada no serviço online da instituição, o economista Rafael Baccioti ressalta que a redução do custo dos empréstimos, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e bancos públicos, e a desoneração tributária para determinados setores devem elevar a rentabilidade das empresas beneficiadas, o que não necessariamente implica incremento de produção. “Os aspectos estruturais que afetam nossa competitividade ainda seguem inalterados”, avaliou.