13 de setembro de 2024

Inmet alerta para nova onda de calor com registros perto ou acima de 40ºC

O Amazonas é citado entre os estados que o calor será extremo nos próximos dias.  Uma massa de ar quente vai atingir o país com registros perto ou acima de 40ºC. O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) alerta para a atuação de uma onda de calor ao longo desta semana. Na manhã da segunda-feira (18), foi emitido um aviso meteorológico especial de nível laranja considerado (perigo) de onda de calor.

Seguindo os protocolos internacionais, este aviso é emitido quando as temperaturas, neste caso, especialmente, as máximas, excedem em pelo menos 5°C a climatologia (média histórica) do período.  Vale ressaltar que a intensidade do aviso está relacionada com a persistência do fenômeno (número de dias consecutivos) e não aos desvios de temperatura absolutos em si.

O Jornal do Commercio conversou com Deydila Bonfim, meteorologista CR-MN (Centro Regional de Manaus), para entender sobre  essa situação climática em relação ao Amazonas. 

À reportagem ela informou que ainda estamos no período popularmente conhecido como “verão Amazônico”. Pela climatologia, os valores médios mais elevados de temperaturas máximas para Manaus ocorrem nos meses de setembro e outubro, com valores próximos a 34°C (Fonte: Normal climatológica do INMET). Desde meados de agosto, eventualmente, tem-se registrado temperaturas superiores a 37°C.

De fato, a previsão indica uma situação de temperaturas acima da média, principalmente para a faixa central do Brasil e pode influenciar de forma menos intensa outras cidades da Amazônia Legal, inclusive a capital amazonense, onde as temperaturas máximas (que ocorrem no período da tarde), já estão altas, poderão alcançar os 38 ou 39°C, ou seja, cerca de 1 ou 2°C a mais do que já registrado este ano.

Estas temperaturas mais elevadas serão consequência de uma massa de ar seco que ficará estacionada na faixa central do Brasil, inibindo o desenvolvimento de nuvens mais carregadas e consequentemente, as chuvas também serão escassas neste período, sinalizando o atraso do início período de chuvas. Nas cidades mais ao norte da Amazônia Legal, que inclui Manaus, espera-se que as temperaturas continuem acima da média, como já vem ocorrendo.

Além disso, estamos sob o efeito do El Niño (fenômeno climático natural definido como a persistência do aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico) e também as águas do Oceano Atlântico na porção norte estão mais quentes que a média. Estas condições dos Oceanos mudam a circulação dos ventos na atmosfera, resultando na inibição da formação de nuvens mais robustas, com isso reduzindo as chuvas em grande parte da Amazônia Legal.

O aviso será reavaliado diariamente para possíveis ajustes, especialmente, na área de atuação do fenômeno. O panorama previsto pelos meteorologistas do Inmet aponta uma possível piora da situação a partir de sexta-feira (22). As temperaturas máximas devem passar dos 40°C em áreas das regiões Centro-Oeste e Norte, além do interior de São Paulo, especialmente. Na capital paulista, são esperadas temperaturas máximas acima dos 35°C a partir de sexta-feira.

Calor extremo em 2050

A capital do Amazonas e também a do Pará estão no radar para se tornarem duas das cidades mais quentes do mundo, conforme aponta um estudo recentemente divulgado pelo renomado jornal The Washington Post e pela ONG CarbonPlan. Essa informação foi replicada no Brasil, através da Folhapress, trazendo à tona preocupações sobre as mudanças climáticas que afetarão essas regiões. Contudo, há um alívio temporário nesse cenário preocupante para os habitantes de Manaus, pois esse aumento de temperatura não é iminente, mas sim projetado para ocorrer em 2050. Mesmo assim, esse período de calor extremo deverá se estender por um longo período de 258 dias, o que equivale a oito meses do ano, devido a eventos climáticos extremos previstos no estudo. 

O estudo em questão revela que Manaus não será a única cidade a registrar esse aumento drástico de temperatura no futuro. A capital paraense, Belém, também localizada na região Amazônica, enfrentará um cenário similar em 2050, conforme indicado pela agência Folhapress. Belém deverá vivenciar 222 dias de calor extremo, o que representa um aumento de seis meses em relação ao seu clima atual, embora ligeiramente menor que a duração prevista para Manaus. 

A nível global, a cidade de Pekanbaru, na Indonésia, continuará a ostentar o título de cidade mais quente do mundo de forma permanente, de acordo com os resultados deste estudo, experimentando um total de 344 dias de calor extremo. Outras cidades como Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com 189 dias de calor extremo, e Kolkata, na Índia, com 188 dias, também figuram nesse triste quadro de cidades impactadas pelas mudanças climáticas em curso.

De acordo com Renato Senna, pesquisador do Inpa, o estudo prevê as condições de aumento  importantes, mas provavelmente é resultado de modelagem climática. Segundo ele, este valor colocado como limite (32°C)  não é algo tão atípico para Manaus existem muitos registros na série histórica, contudo ele informou que saberia precisar a média de dias no ano que atingem tal valor (climatologia dos últimos anos). “Seria necessário fazer um levantamento dos dados e verificar este índice.  E certamente no momento não chegamos nem perto desta estatística”. 

Com a onda de calor extremo que atinge o Brasil nesta semana, todas as regiões do país podem alcançar índices históricos de temperatura máxima. Cidades de estados como Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Piauí, Maranhão e Rondônia devem registrar termômetros acima dos 40 graus, enquanto regiões como Cuiabá podem ultrapassar 45 graus.

Ana Lúcia Frony, meteorologista da C3 (Climate Change Channel) com mais de trinta anos de experiência na área ressalta que as ondas de calor acontecem quando um sistema de alta pressão atmosférica se instala em uma determinada região por vários dias, deixando o ar mais seco e impedindo a formação de nuvens. “Nos anos de El Niño, fenômeno que aquece as águas do Oceano Pacífico, a situação fica mais grave em várias regiões por todo o planeta, inclusive no Norte e no Nordeste do Brasil. Embora sempre tenham existido, eventos extremos como essa onda de calor, incêndios naturais, ciclones, furacões e tempestades serão cada vez mais frequentes e intensos em decorrência das mudanças climáticas”. 

Procuramos o Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia) para comentar o estudo, porém fomos informados que o órgão trabalha  com prognóstico climático sazonal (previsão para o trimestre), considerando a variabilidade climática, que são oscilações periódicas (naturais) no clima. “O tema “Mudanças Climáticas” é um assunto muito específico e requer conhecimentos e pesquisas dedicadas”. 

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio

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