14 de setembro de 2024

Intenção de consumo das famílias manauaras fica acima da média nacional

O consumidor de Manaus começou o ano com mais disposição de gastar. E, diferente do ocorrido nas demais capitais brasileiras, o impulso vem dos que ganham acima e abaixo de dez salários mínimos mensais. A pesquisa da CNC (Confederação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) para o ICF (Intenção de Consumo das Famílias) confirmou expansão de 8,6% para o indicador em âmbito local, na virada de dezembro para janeiro. Foi a quinta alta consecutiva, sendo que a comparação com 2022 mostrou avanço ainda maior. O manauense está mais otimista em relação ao emprego, renda e consumo, além de mostrar mais disposição para buscar crédito e adquirir bens duráveis. 

O ICF de Manaus ficou em 64,1 pontos e superou novembro de 2022 (59 pontos), além de ficar 72,8% acima da marca de janeiro do ano passado (37,1 pontos). Mas, o indicador ainda não conseguiu sair da zona de insatisfação (que vai de 0 a 100 pontos), onde permanece há 33 meses consecutivos, ficando muito abaixo do patamar pré-pandemia, apontado em março de 2020 (105,2 pontos). Mas, diferente do ocorrido entre os consumidores com vencimentos menores (58,8 pontos), famílias com renda acima de dez salários mínimos mensais (119,2 pontos) já entraram na margem de confiança.

Manaus teve desempenho proporcionalmente mais forte do que o apresentado pela média brasileira, que já se aproxima da margem de confiança. A expansão foi de 1,3% entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, atingindo 93,9 pontos, no maior nível desde abril de 2020 –o segundo mês da primeira onda da pandemia. A CNC aponta que, apesar de também permanecer abaixo da linha dos 100 pontos e na zona de insatisfação, o índice cresceu pelo 12º mês consecutivo. Em relação a janeiro do ano passado, o incremento foi de 23,1%, sendo esta a maior taxa de elevação da história do indicador nacional.

Vale notar que o otimismo dos consumidores contrasta com o ceticismo verificado nos dados mais recentes do ICEC (Índice de Confiança do Empresário Comercial), medido pela mesma CNC. O indicador, que também tem sua linha de corte nos 100 pontos, recuou 3,6% (135,9 pontos) na virada do ano, na segunda queda seguida nesse tipo de comparação para Manaus –e também para a média nacional. O declínio foi puxado pelo derretimento das expectativas, assim como pela menor intenção de contratar e investir, embora a pontuação esteja 11,6% acima da marca de 12 meses atrás (121,8 pontos).

Renda e emprego

Assim como nos quatro meses anteriores, a intenção de consumo da capital amazonense avançou em todos os sete componentes do ICF, na variação mensal, embora todos sigam no nível de insatisfação. As maiores taxas de expansão vieram das avaliações dos entrevistados em relação ao nível de consumo atual (+13,2%), ao “momento para duráveis” (+11,1%), e às perspectivas profissional (+10,6%) e de consumo (+10,1%). As percepções sobre as condições de acesso ao crédito (+6,9%), renda atual (+6,1%) e emprego atual (+4,9%) avançaram em ritmo menor.

A visão das famílias sobre o seu nível de consumo atual ainda é o principal fator que puxa o ICF de Manaus para baixo. Mesmo com o oitavo aumento consecutivo, o subindicador ainda aparece com o pior escore da lista (34 pontos). Nada menos do que 77,9% dizem que estão indo menos às compras do que no ano passado. A restrição é muito maior entre os que recebem abaixo de dez salários mínimos (28,4%), do que entre os que ganham mais (92,6 pontos). Uma faixa minoritária (12%), embora crescente, assinala que está comprando mais e os 8,9% restantes apontaram empate. 

A pontuação da perspectiva de consumo (48,8 pontos) não é muito melhor, assim como a avaliação sobre a renda familiar atual (51,2 pontos). Para 68% das famílias de Manaus, o consumo familiar e da população, nos próximos meses, deve ser menor que no ano passado. Outros 16,4% arriscam dizer que será maior, ao passo que 13,5% confirmam estagnação. Em paralelo, 62,5% dizem que a renda familiar piorou em relação ao cenário econômico de 12 meses atrás. Só 13,6% viram melhora e os demais 23,2% consideram que está igual. 

O entendimento sobre a situação atual do emprego (77,6 pontos) voltou a crescer, embora 39,8% ainda se digam “menos seguros” em relação à ocupação. Outros 25,8% não veem mudanças e 17,4% se dizem “mais seguros”. A cota dos desempregados estabilizou em 16,7%. O mesmo ocorre com a perspectiva profissional (75,1 pontos). A despeito de 58,6% ainda não verem melhora nos próximos seis meses, a fatia dos otimistas (33,7%) segue crescente, ao passo que 7,8% estão indecisos. As famílias que ganham mais (139,5 pontos) estão duas vezes mais confiantes do que as que recebem menos (68,9 pontos), neste caso.

A visão sobre a situação atual do crédito (73,7 pontos) também progrediu, embora a maioria (52,2%) ainda considere que o acesso ainda está mais difícil do que no ano passado. Apenas 25,9% apontam que ficou mais fácil e 20% não veem diferença. A visão sobre o “momento de aquisição de bens duráveis” (88,1 pontos) melhorou pela quinta vez consecutiva e já aparece com o maior escore da lista. Mas, 53,3% ainda acreditam que esta não é a melhor hora para isso. Os que têm opinião contrária já são 41,3%, enquanto 4,7% dizem que não sabem. Tanto as dificuldades, quanto as cautelas, predominam entre as famílias de menor renda.

“Período conturbado”

O presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas) avalia que a melhora de Manaus veio com mais força e que a base de comparação ajudou no resultado. “A única coisa que podemos usar como argumento para justificar é que tivemos um período muito conturbado em 2022. E o crescimento veio a partir de julho, quando o comércio entra em uma fase sazonal melhor. Mas, as condições de emprego e de acesso a crédito ainda preocupam, assim como o nível de endividamento das famílias”, ponderou.

No texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, observa que a perspectiva de consumo foi o item que mais avançou na variação mensal do ICF nacional, com incremento de 2,7%. “Esse dado indica que as famílias em geral esperam melhores condições no futuro. De fato, desde outubro de 2022, a perspectiva de consumo tem se mostrado mais positiva do que o consumo propriamente dito”, avaliou, acrescentando que os índices de inflação “mais contidos” dos últimos meses concedem maior folga na renda disponível, a despeito do maior endividamento.

A economista responsável pela ICF, Izis Ferreira, aponta que os consumidores brasileiros de rendas média e baixa estão mais confiantes, em virtude da ampliação de cobertura do principal programa de transferência de renda do governo federal, e a despeito do maior endividamento e dificuldade de acesso ao crédito. O mesmo não pode ser dito das famílias de maior renda. “Os consumidores desse grupo estão menos satisfeitos com o nível de consumo atual, pois estão pagando mais pelos serviços em geral, e mais descontentes com a perspectiva profissional e com o acesso ao crédito, que está mais caro e seleto”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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