13 de setembro de 2024

Intenção de consumo segue em alta em Manaus entre famílias que ganham menos

A disposição dos consumidores de Manaus que ganham até dez salários mínimos seguiu crescente, em outubro. Mas, o humor das famílias de rendimentos maiores parou de melhorar. Na média, os dados locais da CNC (Confederação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) para a ICF (Intenção de Consumo das Famílias) revelam um 16º avanço consecutivo, em ritmo novamente superior ao do país. No mês do Dia das Crianças, foram registradas melhoras significativas na percepção sobre renda e emprego, além de progressos mais tímidos no acesso ao crédito e na aquisição de bens duráveis.

O ICF de Manaus marcou 99,7 pontos neste mês, e já encosta na zona de satisfação do indicador (acima dos 100 pontos). Houve um aumento de 4,8% em relação a setembro (95,1 pontos), e um salto de mais de 100% sobre o dado de 12 meses atrás (49,8 pontos). Foi a melhor pontuação para a cidade desde abril de 2020 (102 pontos), no começo da pandemia. Mas, desta vez, o ganho de otimismo ficou restrito às famílias de renda abaixo dos dez salários mínimos (95,8 pontos). Os consumidores mais abastados (140,5 pontos), que seguem “confiantes” desde novembro de 2022, mantiveram a mesma marca. 

Manaus voltou a ter alta bem mais forte do que a média nacional, embora esta ainda conte com pontuação mais elevada. O indicador saiu da estabilidade para subir apenas 0,3% todo o Brasil, entre setembro e outubro, segurando-se no quadrante positivo de confiança (104,2 pontos) pelo terceiro mês consecutivo. No confronto com outubro do ano passado, houve nova escalada de dois dígitos (+19,7%). Em comunicado à imprensa, a CNC aponta que o cenário econômico revelado pelos números de outubro sinaliza cautela entre os consumidores, a despeito da aproximação da Black Friday e do Natal.

Em Manaus, a nova alta do ICF seguiu-se à sexta redução consecutiva da média local da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da mesma entidade. Mas, as compras seguem embarreiradas pelo comprometimento de renda de 80,7% (531.021) das famílias com contas antigas. Além disso, a inadimplência sofreu repique e atinge 37,2% (244.154) da população. Já o ICEC (Índice de Confiança do Empresário Comercial), também da CNC, emplacou seu quarto mês de melhora, com melhora na percepção da conjuntura econômica atual e expectativas de contratação e investimentos, a despeito da crise logística gerada pela estiagem histórica. 

Renda e emprego

O ICF de Manaus avançou em todos os seus sete componentes, na variação mensal. Quatro deles já estão no nível de satisfação – ligados à vida profissional, vencimentos e expectativas. As melhores taxas de crescimento vieram dos níveis de consumo (+11%) e renda atual (+7,4%), assim como das perspectivas profissional (+8,5%) e de consumo (+4,7%). Já as percepções sobre as condições de emprego atual (+0,9%), acesso ao crédito (+0,9%) e “momento para duráveis” (+0,9%) avançaram pouco além da estabilidade. 

O nível de consumo atual ainda é o principal fator que puxa a média de Manaus para baixo. Apesar dos aumentos seguidos, o subindicador ainda aparece com o pior escore da lista (79,1 pontos) – embora as famílias com renda acima de dez mínimos tenham pontuação quase duas vezes maior (138,8 pontos). Na média, quase metade dos manauenses (49,6 pontos) está indo menos às compras do que no ano passado, enquanto 28,7% já dizem que estão comprando mais e 20% não veem diferença. 

Em contraste, a perspectiva de consumo (109,8 pontos) e a avaliação sobre a renda familiar atual (104,8 pontos) já estão dentro da linha de satisfação. A maior parte das famílias de Manaus espera compras maiores nos próximos meses (42,5%), enquanto o grupo que conta com cenário inverso (32,7%) voltou a encolher, e 21% aguardam estabilidade. Em paralelo, um percentual cadente de 29,5% diz que a renda familiar piorou em um ano, ao passo que 34,3% enxergam melhora e 35,3% consideram que está igual. 

A perspectiva profissional (120,1 pontos) contabiliza o maior escore da lista. A maioria absoluta dos consumidores (52%) prevê melhora nos próximos seis e aumentou sua vantagem em relação aos que têm opinião contrária (32%). Mas, o percentual de indecisos (16%) também subiu. O mesmo se dá na situação atual do emprego (110 pontos). O grupo dos que se sentem “mais seguros” profissionalmente (31,9%) supera o dos que se dizem “menos seguros” (21,9%), ao passo que 24,7% entendem que está igual. Já a cota de desempregados subiu para 21,5%. 

Outro subíndice da sondagem que obteve menos melhora foi o da situação atual do crédito (90,8 pontos): 41,3% consideram que o acesso ainda está mais difícil do que no ano passado. Em contrapartida, 32% já apontam que ficou mais fácil e 23,1% não veem diferença. Em sintonia, o “momento de aquisição de bens duráveis” (82,4 pontos) tem a segunda pior pontuação da lista. Apesar da alta, 53,4% ainda consideram que esta não é a melhor hora para isso. O grupo dos confiantes nas compras estabilizou em 36,5%. As dificuldades e cautelas ainda predominam entre as famílias com renda inferior a dez mínimos.

Estiagem e inadimplência

No entendimento do presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, a estagnação do ICF no segmento de maior renda se deve não apenas aos problemas no fronte macroeconômico, como também às perspectivas de desabastecimento do setor, em razão da estiagem recorde de 2023. “Estamos com a expectativa de que as soluções venham o quanto antes. O comércio, que compra com dois três meses de antecedência, sofre dificuldades maiores. A perspectiva é que isso se reflita também no índice de intenção de consumo das famílias de Manaus”, lamentou.  

Texto veiculado pela assessoria de imprensa da CNC, salienta que o ICF nacional sofre desaceleração desde abril de 2023, mas ressalva que há um “impacto positivo notável” na intenção de consumo de bens duráveis. “A desaceleração da inflação, que inicialmente impulsionou de maneira positiva a renda e o consumo, parece ter perdido vigor a partir de agosto, levando os consumidores a adotar uma postura mais cautelosa no segundo semestre”, destacou o presidente da entidade, José Roberto Tadros, acrescentando que a tendência de queda dos juros tem incentivado os consumidores a planejar a aquisição de produtos de maior valor, especialmente a prazo.

No mesmo texto, a economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, aponta que a desaceleração do ritmo de contratações formais no mercado de trabalho está levando os consumidores a olhar com cautela para o emprego. A economista acrescenta que a queda das taxas de juros e as campanhas de renegociação de dívidas estão gradualmente facilitando o acesso ao crédito, mas as instituições financeiras ainda estão seletivas. “O alto endividamento e a inadimplência persistente continuam limitando a capacidade de consumo das famílias, o que diminui os efeitos positivos da desaceleração da inflação na renda disponível”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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