As empresas de construção civil devem brecar os lançamentos imobiliários locais até agosto, em função dos impactos da crise do Covid-19 nas vendas e perspectivas do setor, avalia o Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas). Na análise da entidade, a instabilidade econômica, retração de renda e aumento do desemprego devem impactar nos índices de confiança do consumidor e do investidor, impactando na atividade.
Pesquisa do CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), divulgada em coletiva de imprensa online, nesta segunda (25), confirma um cenário de letargia para a média nacional do setor, embora aponte números melhores para o Amazonas. A entidade também informa que 79% das construtoras em todo o país pretendem adiar lançamentos previstos para os próximos meses. Para estimar o impacto da pandemia, foram consideradas amostras representativas de cidades das cinco regiões do Brasil, incluindo Manaus.
O Amazonas registrou o lançamento de 600 unidades nos três meses iniciais de 2020, 172,73% a mais do que no mesmo acumulado de 2019 (220) e alta de 2,74% em relação ao trimestre anterior (584). Em paralelo, os lançamentos habitacionais em todo o país contabilizaram 18.388 unidades, apresentando recuos de 14,78% e 69,12%, sobre os respectivos períodos (21.578 e 59.553).
“Projetos de construção civil não nascem do dia para a noite. Empresas que já têm o empreendimento iniciado, especialmente no caso de loteamentos, não vão desistir, mas podem desacelerar. Acho que as construtoras vão dar uma ‘segurada’ e não vai ter lançamentos, por enquanto. Essa é a minha percepção, e não posso afirmar. A partir de agosto, devemos ter um provável norte para o comportamento de mercado”, assinalou o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza.
Em termos de vendas, a mesma base de dados da CBIC aponta que os números locais caíram 22,02% na virada do quarto trimestre de 2019 (R$ 109 milhões) para o primeiro de 2020 (R$ 85 milhões), embora tenha sido registrado incremento de 150% sobre o acumulado de janeiro a março de 2019 (R$ 34 milhões). O Estado se situou, mais uma vez, como um ponto fora da curva da média brasileira. O VGL (valor geral dos lançamentos) nacional do primeiro trimestre de 2020 foi de R$ 6,3 bilhões e caiu 9,65% em relação ao mesmo intervalo de 2019 e 76% em relação aos três meses finais de 2020.
“Se não houvesse essa pandemia, teríamos um resultado muito melhor. As vendas estão melhores do que as de 2019, mas houve pequena redução em relação ao trimestre anterior. Até porque entende-se que há mais lançamentos no final de ano, por conta de 13º e projeções de mudança de vida do interessado no imóvel. No começo do ano, as preocupações são outras. Os primeiros meses do ano foram muito positivos, mas são pouco representativos em termos de projeções”, argumentou.
Diferencial e desproporção
Um diferencial do Amazonas que ajuda a explicar sua performance descolada do restante do país é o predomínio de obras do Minha Casa Minha Vida, que responde por 70% a 80% dos lançamentos no Estado – contra os 57% da média nacional. O estudo da CBIC apontou que a queda nas vendas se deu em proporção bem menor nos imóveis financiados pelo programa habitacional federal do que nos empreendimentos de médio e alto padrão.
“O percentual dos imóveis viabilizados pelo Minha Casa Minha Vida no Amazonas é maior mesmo. E o cenário até março estava muito favorável para esses empreendimentos, com inflação regrada, taxa Selic menor e crédito bancário. No caso dos imóveis de porte médio, atualmente, não há nenhum lançamento por aqui. Tivemos apena um no ano passado, e outro, em 2018”, comparou.
“Compasso de espera”
No entendimento do presidente do Sinduscon-AM, números do segundo e do terceiro trimestres deste no serão os de um tempo perdido para as construtoras amazonenses, com queda de lançamentos e de vendas. A expectativa é que o desempenho leve à consolidação e um trimestre positivo entre outubro e dezembro, em um mercado mais estável – mas com desempenho insuficiente para salvar o saldo de 2020 do campo negativo.
“O Brasil começou a ficar preocupado e parado no finzinho de março. Até ali, todos vinham raciocinando igual e não haviam mudanças que afetassem o segmento imobiliário. Teremos, agora, seis meses em compasso de espera, pelo menos. Mas, o mercado continua e estamos saindo desse isolamento de forma devagar. Acho que, a partir de junho, as coisas começam a se equilibrar melhor. Existe um tempo de retomada e isso vai ser uma coisa para agosto mesmo”, ponderou.
O dirigente destaca, no entanto, que a situação poderia ser pior. Frank Souza lembra que as medidas da Caixa Econômica – que detém em torno de 90% dos financiamentos do mercado imobiliário de Manaus – ajudaram a minimizar os impactos regionais da crise do Covid-19 no setor. “Ela está adiando em três meses os pagamentos de quem já tem imóvel comprado, além de dar seis meses de carência para a entrada. É claro que, mesmo com essa melhora, vamos ficar longe dos números dos trimestres e anos anteriores”, encerrou.
Os dois estudos apresentados pela CBIC foram realizados em parceria com a empresa Brain Inteligência Estratégica. Os dados foram coletados em 118 municípios, sendo 18 capitais, de Norte a Sul do Brasil. Algumas cidades foram analisadas individualmente ou dentro das respectivas regiões metropolitanas. Empresários do setor foram ouvidos entre 25 de abril e 4 de maio, em conjunto com a CBIC e mais de 50 entidades setoriais de todo o país.
Fonte: Marco Dassori