Lideranças políticas do Amazonas reagiram em peso contra as declarações do economista Alexandre Schwartsman, que classificou o modelo ZFM (Zona Franca de Manaus) como uma “aberração”. A questão reverberou em Manaus, em Brasília e nos meios de comunicação nacionais.
O economista se reportou à ZFM durante o Jornal da Cultura, na edição de segunda-feira (23), sem esconder o ódio que tem pela região. Questionado sobre a sua opinião em relação à seca severa que agora atinge o Amazonas, destoou da pergunta, focando especificamente nos benefícios fiscais concedidos ao Estado.
“Por que diabos a indústria está lá (em Manaus) e o centro consumidor está aqui? É porque tem uma aberração chamada Zona Franca de Manaus, que depende de todos os modais”, atacou Schwartsman, sem disfarçar o sentimento negativo que mantém pelo regime diferenciado. O economista foi presidente do Banco Central do Brasil no primeiro governo de Lula, em 2003.
Em seguida, Schwartsman lamentou o fato de o Parque Industrial de Manaus não estar instalado em São Paulo, sua terra-natal. Comentou que o modelo garante um faturamento de quase R$ 180 bilhões por ano, no país.
“É uma indústria infante”, ressaltou, lamentando ainda que os benefícios fiscais tenham sido prorrogados por mais 50 anos, salientando a sua xenofobia pelo Estado do Amazonas. “Quando acabar os 50 anos, a gente vai ter mais 120, que é pra dar sorte”, alfinetou o economista durante sua fala, de forma irônica.
Na Assembleia Legislativa do Amazonas, a reação foi intempestiva. Na sessão plenária de ontem, o deputado Sinésio Campos (PT) foi bombástico ao comentar o assunto. “Cara de nazista, mau-caráter, sem-vergonha. Vem para cá, bandido, para você ver o quê que é. Esse tipo de gente é quem quer arrancar cada moeda. Eles querem ter a floresta amazônica preservada, mas esquecem que aqui existem homens e mulheres que precisam viver com dignidade. É esse tipo de figura que na reforma tributária quer retirar os incentivos da ZFM”, protestou o parlamentar.
A reação de Sinésio Campos foi seguida pelo também deputado estadual Wilker Barreto (Cidadania). Ele classificou as falas de Alexandre Schwartsman de “infelizes”. E anunciou que irá apresentar um requerimento à TV Cultura manifestando repúdio às palavras do economista.
“O Amazonas não pode ser norteado pela fala de um imbecil. Aquele economista desconhece o posicionamento estratégico que o nosso Estado tem e desconhece a importância da ZFM. Farei um requerimento à TV Cultura. Pelo menos, chamem também o contraditório, chamem alguém que conheça o modelo da Zona Franca”, reforçou o político.
Nesse quesito, governistas e oposicionistas gritaram em coro na Assembleia Legislativa contra a fala do economista. Ontem, foi apresentado o relatório da reforma tributária que está em tramitação no Senado. O relator Eduardo Braga (MDB-AM) especificou os detalhes da relatoria.
Na CMM (Câmara Municipal de Manaus) foi aprovada, ontem, uma moção de repúdio contra o pronunciamento de Schwartsman. O vereador Caio André (Podemos), presidente da Casa, se manifestou.
“Ele (Alexandre) demonstrou desconhecimento sobre o modelo sustentável, que emprega mais de 500 mil pessoas direta e indiretamente. Vivemos em uma federação, há a necessidade da integração nacional, é isso que aquele cidadão não entende. Aqui não é um polo só de montagem, é o segundo polo de produção de aparelhos de ar-condicionado do planeta, o maior do país; polo de duas rodas, polo de indústria plástica, temos uma indústria pujante que existe graças aos incentivos fiscais”, disse.
Caio André subscreveu a moção de autoria do vereador Lissandro Breval (Avante), que manifesta repúdio às falas preconceituosas de Alexandre Schwartsman.
Outras manifestações
Em seu perfil nas redes sociais, o ex-deputado federal Marcelo Ramos publicou um vídeo em que desaprova as declarações do economista Alexandre Schwartsman.
“Ele teve uma atitude desrespeitosa com o povo do Amazonas e o Brasil. O grande inimigo da Zona Franca hoje é a ignorância, o preconceito, o desconhecimento da realidade de um país, de dimensões continentais muito diversos, com desigualdades regionais muito profundas e que, portanto, não cabe na cabeça de quem pensa que o Brasil é apenas São Paulo”, afirmou em um trecho da publicação.
O secretário de Estado de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Serafim Corrêa, um estudioso da ZFM, disse que há muitas desinformações sobre o que é o modelo de desenvolvimento.
“Há razões históricas pelas quais a ZFM foi criada, ele (Alexandre) precisa estudar mais a história do Brasil, entender que não é do jeito que ele está falando. Ele precisa conhecer as razões históricas da criação da Zona Franca de Manaus e a importância que ela tem no contexto mundial em função da preservação do meio ambiente”, declarou o ex-deputado e ex-prefeito.
Na Câmara, o deputado federal Saullo Vianna (UB-AM) contestou o economista apresentando números que mostram a importância da ZFM para o Amazonas e para o Brasil. “A Zona Franca de Manaus é um modelo de desenvolvimento regional que foi criado para desenvolver a Amazônia e, principalmente, para poder preservar a floresta amazônica no Estado do Amazonas”, retrucou.
Em seguida, enumerou benefícios gerados – “Nos últimos sete meses, de janeiro a julho, a Zona Franca de Manaus faturou R$ 98 bilhões. A Zona Franca de Manaus emprega mais de 500 mil amazonenses de forma direta e indireta”;
– “Esse modelo dá uma contrapartida muito importante para o Brasil e para o mundo, que é a preservação de mais de 90% da floresta em pé”.
E, por último – “No nosso Amazonas moram mais de 4 milhões de habitantes que têm direito de ter trabalho, de ter renda, de se alimentar, de ter a sua cidadania respeitada”.