24 de novembro de 2024

Lideranças do Amazonas criticam fala de economista que chamou ZFM de ‘aberração’

Lideranças políticas do Amazonas reagiram em peso contra as declarações do economista Alexandre Schwartsman, que classificou o modelo ZFM (Zona Franca de Manaus) como uma “aberração”. A questão reverberou em Manaus, em Brasília e nos meios de comunicação nacionais.

O economista se reportou à ZFM durante o Jornal da Cultura, na edição de segunda-feira (23), sem esconder o ódio que tem pela região.  Questionado sobre a sua opinião em relação à seca severa que agora atinge o Amazonas, destoou da pergunta, focando especificamente nos benefícios fiscais concedidos ao Estado.

“Por que diabos a indústria está lá (em Manaus) e o centro consumidor está aqui? É porque tem uma aberração chamada Zona Franca de Manaus, que depende de todos os modais”, atacou Schwartsman, sem disfarçar o sentimento negativo que mantém pelo regime diferenciado. O economista foi presidente do Banco Central do Brasil no primeiro governo de Lula, em 2003.

Em seguida, Schwartsman lamentou o fato de o Parque Industrial de Manaus não estar instalado em São Paulo, sua terra-natal. Comentou que o modelo garante um faturamento de quase R$ 180 bilhões por ano, no país.

“É uma indústria infante”, ressaltou, lamentando ainda que os benefícios fiscais tenham sido prorrogados por mais 50 anos, salientando a sua xenofobia pelo Estado do Amazonas. “Quando acabar os 50 anos, a gente vai ter mais 120, que é pra dar sorte”, alfinetou o economista durante sua fala, de forma irônica.

Na Assembleia Legislativa do Amazonas, a reação foi intempestiva. Na sessão plenária de ontem, o deputado Sinésio Campos (PT) foi bombástico ao comentar o assunto.  “Cara de nazista, mau-caráter, sem-vergonha. Vem para cá, bandido, para você ver o quê que é. Esse tipo de gente é quem quer arrancar cada moeda. Eles querem ter a floresta amazônica preservada, mas esquecem que aqui existem homens e mulheres que precisam viver com dignidade. É esse tipo de figura que na reforma tributária quer retirar os incentivos da ZFM”, protestou o parlamentar.

A reação de Sinésio Campos foi seguida pelo também deputado estadual Wilker Barreto (Cidadania). Ele classificou as falas de Alexandre Schwartsman de “infelizes”. E anunciou que irá apresentar um requerimento à TV Cultura manifestando repúdio às palavras do economista.

“O Amazonas não pode ser norteado pela fala de um imbecil. Aquele economista desconhece o posicionamento estratégico que o nosso Estado tem e desconhece a importância da ZFM. Farei um requerimento à TV Cultura. Pelo menos, chamem também o contraditório, chamem alguém que conheça o modelo da Zona Franca”, reforçou o político.

Nesse quesito, governistas e oposicionistas gritaram em coro na Assembleia Legislativa contra a fala do economista. Ontem, foi apresentado o relatório da reforma tributária que está em tramitação no Senado. O relator Eduardo Braga (MDB-AM) especificou os detalhes da relatoria.

Na CMM (Câmara Municipal de Manaus) foi aprovada, ontem, uma moção de repúdio contra o pronunciamento de Schwartsman. O vereador Caio André (Podemos), presidente da Casa, se manifestou.

“Ele (Alexandre) demonstrou desconhecimento sobre o modelo sustentável, que emprega mais de 500 mil pessoas direta e indiretamente. Vivemos em uma federação, há a necessidade da integração nacional, é isso que aquele cidadão não entende. Aqui não é um polo só de montagem, é o segundo polo de produção de aparelhos de ar-condicionado do planeta, o maior do país; polo de duas rodas, polo de indústria plástica, temos uma indústria pujante que existe graças aos incentivos fiscais”, disse.

Caio André subscreveu a moção de autoria do vereador Lissandro Breval (Avante), que manifesta repúdio às falas preconceituosas de Alexandre Schwartsman.

Outras manifestações

Em seu perfil nas redes sociais, o ex-deputado federal Marcelo Ramos publicou um vídeo em que desaprova as declarações do economista Alexandre Schwartsman.

“Ele teve uma atitude desrespeitosa com o povo do Amazonas e o Brasil. O grande inimigo da Zona Franca hoje é a ignorância, o preconceito, o desconhecimento da realidade de um país, de dimensões continentais muito diversos, com desigualdades regionais muito profundas e que, portanto, não cabe na cabeça de quem pensa que o Brasil é apenas São Paulo”, afirmou em um trecho da publicação.

O secretário de Estado de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Serafim Corrêa, um estudioso da ZFM, disse que há muitas desinformações sobre o que é o modelo de desenvolvimento.

“Há razões históricas pelas quais a ZFM foi criada, ele (Alexandre) precisa estudar mais a história do Brasil, entender que não é do jeito que ele está falando. Ele precisa conhecer as razões históricas da criação da Zona Franca de Manaus e a importância que ela tem no contexto mundial em função da preservação do meio ambiente”, declarou o ex-deputado e ex-prefeito.

Na Câmara, o deputado federal Saullo Vianna (UB-AM) contestou o economista apresentando números que mostram a importância da ZFM para o Amazonas e para o Brasil. “A Zona Franca de Manaus é um modelo de desenvolvimento regional que foi criado para desenvolver a Amazônia e, principalmente, para poder preservar a floresta amazônica no Estado do Amazonas”, retrucou.

Em seguida, enumerou benefícios gerados – “Nos últimos sete meses, de janeiro a julho, a Zona Franca de Manaus faturou R$ 98 bilhões. A Zona Franca de Manaus emprega mais de 500 mil amazonenses de forma direta e indireta”;

– “Esse modelo dá uma contrapartida muito importante para o Brasil e para o mundo, que é a preservação de mais de 90% da floresta em pé”.

E, por último – “No nosso Amazonas moram mais de 4 milhões de habitantes que têm direito de ter trabalho, de ter renda, de se alimentar, de ter a sua cidadania respeitada”.

Marcelo Peres

Veja também

Pesquisar