A Abrasel-AM (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) divulgou em pesquisa recente que o segmento de bares e restaurantes do Amazonas operaram em novembro com dívidas vencidas 51% e outros 57% não tiveram lucro. Os dados coletados em 20 e 27 de dezembro, apontam que apesar de estável em relação ao mês anterior, o número de empresas do Estado operando no prejuízo chegou a 26%.
De acordo com o estudo, 33% dos estabelecimentos ficaram em equilíbrio, mostrando que a maioria (59%) tem problemas para trabalhar com lucro. Para 41% foi possível operar com margem positiva, um aumento de 10% em relação ao mês anterior, quando 31% alcançaram essa marca.
A pesquisa mostra que 51% das empresas relataram pagamentos em atraso. As principais áreas de inadimplência incluem impostos federais (55%), impostos estaduais (29%), dívidas bancárias (47%), encargos trabalhistas (47%), serviços públicos (água, gás e energia elétrica – 29%), fornecedores (21%) e aluguel do imóvel (26%).
“Chama a atenção o número de empresas com débitos em atraso no amazonas, 51% dos respondentes da pesquisa, aliado aos 57% que não tiveram lucro, ou seja, apesar da melhora no faturamento e controle da inflação, o setor está com muita dificuldade para equilibrar o fluxo de caixa e o atraso de tributos federais é preocupante, sendo esta a maior taxa de atraso anotada, com 69% entre os devedores”,explica o presidente da Abrasel no Amazonas, Rodrigo Zamperlini.
“O anúncio do fim antecipado do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) é um duro golpe para os negócios da alimentação fora do lar, que contavam com o benefício até o início de 2027 e não é animadora a perspectiva para as empresas do simples nacional, que não contaram com ajuste da tabela, e ainda precisarão negociar seus débitos até o final de janeiro, caso pretendam permanecer enquadradas nesse regime tributário”.
O estabelecimento do empresário Jean Fabrízio está entre a fatia de negócios no Amazonas que registrou prejuízo. “Em novembro tivemos queda de aproximadamente 5%. Mas em dezembro foi de aproximadamente 40%. Acredito que em janeiro estamos recuperando e deve pelo menos igualar ao mesmo período do ano passado”, disse.
Segundo o empresário, embora isso tenha acontecido, ainda estão bastante otimistas. Uma vez que iniciaram um negócio inovador e desafiador. “É a única casa em Manaus com o cardápio totalmente dedicado à proteína suína. Esta, por sua vez, é a proteína animal mais consumida no mundo. No Brasil, os números vêm crescendo cada vez mais e o consumo de 2021 a 2023 foi de quase 100% de crescimento. O Brasil é o quarto maior produtor do mundo, o que indica que temos muita qualidade. Porém, grande parte é exportada”, destacou o conselheiro da Abrasel-AM e proprietário do restaurante A Porcaria Boteco.
O empresário Aulicio Santos, dono do restaurante Rei do Churrasco, corrobora com a pesquisa ao afirmar que a empresa manteve o equilíbrio levando em consideração as ações implementadas. Mas diz que não foi fácil.
“Nós chegamos a bater 98% da meta, quase praticamente atingida, mas ficou abaixo. Pouquinho, mas ficou, do que nós estipulamos, porque quando virou o ano a gente percebeu que o cenário econômico virou também. Então tivemos que reprogramar essa meta, ela não foi embasada mesmo, por exemplo, digamos assim, então se levar em consideração para o ano de 2022, em 2023 nós ficamos aí uma média de 8% em relação a 2022”.
Ainda sob o reflexo da pandemia, ele informou que precisou fechar uma unidade em 2023. “Dessa virada de ano brusca no faturamento, quedas absurdas, a gente fechou para manter o equilíbrio do caixa”.
Conforme o empresário, se não fossem as ações adotadas no fim de 2023, não teria gerado um retorno positivo, pois teria fechado o ano com prejuízo. “Conseguimos manter o equilíbrio das contas, porque aí você deixa de gerar uma despesa de uma empresa que não estava gerando lucro. Quando é um grupo econômico, uma fatura pela outra, o prejuízo de uma vem pra outra, e assim funciona”, explicou.
Num cenário otimista ele aposta que 2024 deva ser melhor para o segmento. Mas acredita que deve manter operando no equilíbrio. “Espero que isso mude, que isso comece a nos gerar um retorno, por mínimo que seja, pelo menos o retorno inflacionário, para que a gente possa ter uma pequena lucratividade que seja. Porque manter a empresa sem gerar lucro é problema. Sei que tem a questão social embutida nisso, mas uma empresa que não gera lucro e só tem prejuízo uma hora, ela fecha”, finalizou.
Opinião
Michele Aracaty, economista e docente do DEA / Ufam, pontuou que o segmento de bares e restaurantes juntamente com o setor de hospedagem e hotelaria vem apresentando muitas dificuldades de recuperação no pós-pandemia.
Custos elevados, taxa de juros ainda alta o que desencoraja novos investimentos, baixa capacidade de lucro bem como elevado grau de endividamento são realidades que acompanham o setor.

Outro fator relevante é a mão de obra que necessita de qualificação e representa um custo elevado para o empregador sendo a primeira opção para cortes de custos.
“Ressaltamos a excelente atuação da Abrasel em direcionar a classe ao longo da pandemia, mas como vimos o setor amarga números que comprometem a recuperação. Acreditamos que o primeiro trimestre de 2024 seja mais favorável ao setor visto a continuidade da trajetória de queda dos juros e de mais renda circulando na economia”, frisou.
Outros números
Vale destacar que o grande desafio dos bares e restaurantes em repor a inflação, com 48% das empresas afirmando que não conseguiram reajustar seus preços em linha com a inflação média –12% delas tiveram reajustes abaixo do índice geral e 36% não alteraram seus preços. Apenas 8% afirmaram ter conseguido fazer reajustes acima da inflação e 45% ajustaram seus preços conforme o índice geral.
Quanto à contratação de pessoal, 21% das empresas do setor contrataram novos funcionários em novembro, um sinal positivo de crescimento. Este número é superior ao de empresas que relataram demissões, que ficaram em 15%.
A maioria das empresas (64%) manteve seu quadro de empregados estável. As perspectivas para o resultado de contratações em dezembro também são animadoras, com 25% das empresas planejando contratar mais funcionários e apenas 12% indicando intenção de demissão.