25 de novembro de 2024

Mais horas trabalhadas no PIM

A indústria do Amazonas recuperou parte do terreno perdido, em maio. O faturamento real e quantidade de horas trabalhadas apresentaram evolução significativa, enquanto o emprego e o nível de uso da capacidade instalada das fábricas progrediram de forma mais tímida. O único senão veio da massa salarial. Em cinco meses, o setor se manteve no azul em termos de vendas, postos de trabalho e salários. É o que apontam os números locais dos Indicadores Industriais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), compilados em parceria com a Fieam (Federação da Indústria do Estado do Amazonas). 

O faturamento real da manufatura do Amazonas avançou 10,1% na variação mensal, favorecida por quatro dias úteis a mais. Embora expressivo, o ganho recuperou apenas parte da perda de abril (-13,7%). A comparação com o mesmo mês de 2022 confirmou uma decolagem de 38%, retomando o acumulado de 2023 ao campo positivo (+14,3%). Na média nacional, as vendas líquidas aceleraram 0,9% no mês e também ficaram 4,6% acima da marca de maio de 2022, além de se fortalecerem em 3,7%, em cinco meses. 

Situação semelhante se deu nas horas trabalhadas nas linhas de produção do Estado. Segundo a CNI, foi registrado um progresso de 9,2%, em alta pouco abaixo da apresentada em abril (+11,8%), consolidando cinco meses consecutivos de alta nesse tipo de comparação. O confronto com a marca de igual intervalo do exercício anterior ficou positivo em 4,5%, mas o resultado ainda veio muito abaixo do dado anterior (-19,3%), contribuindo par um declinoi de 10,5% no acumulado. Em todo o país, o indicador cresceu em todas as comparações (+2,7%, +3,6% e +1,3%). 

A UCI (utilização da capacidade instalada) acompanho em ritmo mais modesto. A proporção de máquinas em produção da indústria estadual passou de 83,2% para 83,6%, em relação a abril, configurando uma diferença de 0,4 ponto percentual (ou +0,5%). Já o confronto com igual mês de 2022, cujo índice de ocupação chegou a 85,8% indicou retração de 2,2 p.p. (ou -2,56%). Em cinco meses, o nível de uso da capacidade instalada das fábricas chegou a 83,3% e subiu 3,7 p.p. (ou +4,65%). Além de ser mais baixo, o indicador nacional (78,9% de uso) estagnou frente abril, e encolheu nas demais comparações.

Embora contem com amostragem menor, os números de produção da CNI seguem em linha com os dados de produção industrial do IBGE. Segundo o órgão federal de pesquisa, o Amazonas voltou a respirar em maio, com uma decolagem de 12,8% em relação a abril, no melhor resultado do país. O confronto com maio de 2022 rendeu avanço de 7,6%, graças ao impulso dos segmentos de combustíveis, produtos químicos, produtos de metal, duas rodas e “produtos diversos”. Em cinco meses, a alta foi 10,4%, a maior da indústria nacional.

Empregos e salários

Os números relativos à mão de obra da indústria do Amazonas, por sua vez, indicaram desempenhos novamente contraditórios. A média do saldo de contratações no parque fabril do Estado foi pouco além da estabilidade (+0,8%). Mas foi catapultada em 32,2%, no confronto com igual período do exercício anterior, o que ajudou a encorpar o aglutinado de janeiro a maio (-13,1%). Em contrapartida, os respectivos números brasileiros (-0,3%, +0,6% e +0,9%) foram todos muito mais fracos.

Os números contrastam com os do ‘Novo Caged’, que apontam criação de apenas 18 vagas formais em maio, em desempenho muito aquém ao de abril (+101) e março (+161). O acréscimo foi de apenas 0,01% em relação ao estoque antecedente. As contratações se concentraram na indústria de transformação (+117), especialmente nas linhas de produção de máquinas e equipamentos (+198) e “outros equipamentos de transporte” (+126), entre outros. Em cinco meses, o acréscimo de vagas formais foi de 0,27% (+325), conforme a base de dados do Ministério do Trabalho e Emprego.

De volta à pesquisa dos Indicadores da CNI, a constatação foi de um novo tombo na massa salarial, que tropeçou 0,5%, em movimento não muito diferente do percebido no levantamento anterior (+0,4%). Em contrapartida, a soma dos vencimentos dos trabalhadores ganhou musculatura em relação ao mesmo mês de 2022, com alta de 24,6%. De janeiro a maio, o saldo retomou à casa dos dois dígitos (+18,6%). A indústria nacional (-2,5%, +4% e +4,2%) também colecionou altos e baixos nesse quesito.

“Andando de lado”

Em texto e vídeo divulgados pela assessoria de imprensa da CNI, a economista da entidade, Larissa Nocko, assinalou que, em âmbito nacional, os Indicadores de maio também trouxeram avanço no faturamento real e horas trabalhadas do setor. “Por um lado, tivemos melhora nas vendas, compensando o comportamento negativo de abril, e retomando a trajetória de crescimento, que vem em curso desde 2021. Já o número de horas trabalhadas ‘andou de lado’ em 2023, oscilando em altas e baixas, ao longo dos meses. Mas, houve aumento em relação a 2022”, resumiu. 

Larissa Nocko ressalva, no entanto, que o emprego apresentou queda na média brasileira, contrastando com o resultado do Amazonas. “Desde o segundo semestre de 2022, o emprego industrial vinha em recuperação, recompondo as perdas sofridas ao longo da pandemia. Mas essa trajetória ascendente foi ficando com taxas gradativamente menores, mostrando uma expansão com cada vez menos força. Em 2023, o indicador oscilou entre estabilidade e recuo, em um movimento de acomodação”, analisou. 

Na análise da economista da CNI, a síntese dos dados de maio mostra que a indústria está longe de “um momento ótimo”, em razão da atual conjuntura. “Especialmente as taxas de juros elevadas, assim como um ambiente de crédito bastante restritivo, têm prejudicado bastante a atividade industrial. No entanto, houve uma recuperação no varejo, que pode estar ajudando no comportamento das vendas reais do setor. Mas, isso não sinaliza um ambiente excepcional para a indústria de transformação”, ponderou.

Confiança e juros

Em entrevistas anteriores, o presidente da Fieam, e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, reforçou que, como o estudo para os Indicadores da CNI conta com amostragem local “pequena”, os dados regionais sinalizam mais uma “tendência do setor” do que “números consolidados”. Mas, não deixou de mencionar que há uma crise de confiança que “impacta na injeção de dinheiro na economia”, somando-se a juros “excessivamente altos” e um “cenário político convoluto em meio às reformas”, o que recomenda “prudência e cautela”.

O presidente da Fieam garante, contudo, que há motivos para otimismo, no curto prazo. Especialmente diante da melhora substancial experimentada pela indústria amazonense, na passagem de abril para maio. “A alta na produção está intrinsicamente ligada a uma perspectiva econômica mais favorável no médio prazo. Devemos ter uma redução da Selic a partir de agosto, o que irá baratear o custo financeiro das operações. Ainda nesse sentido, a expectativa é de que tenhamos um segundo semestre mais aquecido, o que impulsiona o setor produtivo”, arrematou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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