Mais da metade dos MEIs e proprietários de MPEs do Amazonas viu seu faturamento de abril ficar abaixo do patamar dos meses pré-pandemia. A redução foi de 20%, em média. A comparação com o mesmo período do ano passado confirmou essa realidade para 35% deles, sendo que os tombos chegaram a 48%, neste caso. Quem conseguiu crescer, foi beneficiado pela adoção de meios online para as vendas, uma realidade que vem avançando no Estado. Mas, além da retração do mercado, a pressão dos custos – especialmente do aluguel – ainda é o maior entrave para a sobrevivência.
É o que se conclui a partir dos números da 14ª edição da pesquisa “Impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, conduzida pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa), entre 25 de abril e 2 de maio de 2022, por meio de formulário online. No total, foram ouvidos 13.205 representantes de 13.205 micro e pequenas empresas e MEIs de todo o país. Entre os 157 entrevistados no Amazonas, a maioria é de microempreendedores individuais (60%), seguidos por donos de microempresas (34%) e pequenos empresas (6%).
A principal conclusão a partir da sondagem é que o refluxo da pandemia e o fim das restrições de distanciamento social trouxeram melhoras abaixo do esperado pelos entrevistados. Em contrapartida, os choques e incertezas econômicas, aliados ao impacto crescente da inflação e dos juros teriam pesado mais na balança, para inibir o potencial da demanda reprimida. Como resultado, a esperança dos empreendedores registrou ligeira piora: em média, a expectativa para um retorno da economia “ao normal” passou de 14 para 13 médias meses. Ainda assim, os amazonenses aparecem como os mais otimistas do Brasil – cuja média de espera apontada é de 15 meses.
Vendas e tecnologia
Para 58% dos empreendedores locais, o faturamento mensal está abaixo do patamar pré-pandemia. É um dado comparativamente melhor do que o registrado na edição anterior da sondagem, na virada de novembro para dezembro (74%), e praticamente empata com a média nacional (59%). Apenas 19% disseram que aumentou e 20% assinalam que permaneceu igual – contra 14% e 7%, anteriormente. Entre a maioria dos MEIs e MPEs amazonenses que vendeu menos, a retração foi de até 48%. Para a minoria que obteve melhores resultados, a alta chegou a 46%, em alguns casos.
Quando se leva em conta a comparação de abril com igual intervalo do ano passado, o percentual de microempreendedores individuais e proprietários de micro e pequenas empresas do Amazonas que indicam que as vendas caíram é mais baixo (-32%), mas o declive foi ainda maior (-51%). Entre os 32% que conseguiram vendas maiores, o teto foi de 37%. Em contrapartida, 28% não saíram do zero a zero e os 4% restantes não souberam ou não quiseram responder. Em ambas as comparações, o Estado se saiu melhor do que a média nacional.
A difusão majoritária de novas tecnologias ajudou nos resultados, mas não foi suficiente para superar inteiramente as dificuldades do momento, que se mostram mais econômicas do que sanitárias. Além disso, a tendência de adoção de meios online desacelerou no Estado. Ao menos 75% confirmaram que lançaram mão de redes socias, aplicativos e outros meios de internet – como WhatsApp, Facebook e Instagram, entre outros – para alavancar as vendas. Hardware e software estiveram entre os maiores investimentos relatados pelos proprietários de pequenos negócios, nos últimos dois anos. Mas, essa fatia ficou ligeiramente menor do que a registrada no fim de 2021 (77%).
Pressão dos custos
O fator que traz mais dificuldades aos negócios, conforme 50% dos entrevistados pelo Sebrae no Amazonas, é a pressão dos custos em geral sobre os resultados (50%), seguindo a média brasileira. Essa lista inclui insumos e mercadorias, assim como combustíveis, energia e, principalmente, aluguel. A locação é uma preocupação para os 59% dos empreendedores que não são donos do imóvel onde seu ponto está instalado. Em torno de 54% deles relatam que o valor foi reajustado nos últimos 12 meses.
Em sintonia com a escalada da inflação e a dificuldade dos proprietários de imóveis promoverem aumentos no preço do serviço sem perder o locatário, apenas 6% informam que sofreram o reajuste pelo IGP-M (Índice Geral de Preços – Médio). Embora seja o mais usual para o segmento, o indicador da “inflação do aluguel” costuma pontuar valores maiores. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo) foi mais usado é a realidade para 17% dos entrevistados, mas a maioria (52%) preferiu outros indicadores não informados e 25% não souberam responder.
Outros fatores de preocupação são a falta de clientes (17%), dívidas com empréstimos (9%), dívidas com impostos (7%), dívidas com fornecedores (5%), funcionários afastados por e “outros” motivos não revelados (9%). A minoria apontou a pandemia (3%) – um dos percentuais mais baixos do Brasil – e o afastamento de funcionários por problemas de saúde (1%) como entraves para o andamento das vendas.
Em síntese, para 32% dos entrevistados no Amazonas, a frase que melhor define o momento atual é “ainda tenho muitas dificuldades para manter meu negócio”, seguida pela fatia dos que estabelecem que “os desafios provocaram mudanças que foram valiosas para o seu negócio” (28%). A minoria diz que “o pior já passou” (23%), ou que está “animado com as novas oportunidades” (17%). Na sondagem anterior, as respectivas fatias foram 49%, 33%, 13% e 17%.
“Cenário difícil”
Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, a gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM, Socorro Correa, já havia observado que a maior preocupação para as pessoas jurídicas sobreviventes aos meses mais duros da pandemia é a disparada da inflação, que eleva custos e a necessidade de repasse aos preços, sob o risco de não vender. Da mesma forma, frisou que a dimensão da instabilidade econômica vivida pelo país e a falta de respostas concretas do governo federal à crise vivida pelos MEIs e MPEs deixa empresários e trabalhadores inseguros.
Em nova entrevista, a executiva confirma que o panorama não melhorou para os pequenos negócios, apesar da melhora do quadro sanitário. Socorro Correa destaca que o que mais chama a atenção no levantamento do Sebrae nacional é o peso crescente do passivo inflacionário sobre o grau de endividamento das micro e pequenas empresas – e sua consequente capacidade de investir, contratar e vender.
“A queda de faturamento vem sendo demonstrada em todas as pesquisas e esta apenas consolida essa informação. O endividamento hoje é o principal problema dos negócios, acentuado pela diminuição das vendas na pandemia, a inflação e a elevação das taxas de juros, que encarece empréstimos e multas por atraso de pagamento. Isso demonstra que sair da crise não depende exclusivamente dos empreendedores. Há um cenário macroeconômico e político que dificulta em muito o sucesso das empresas”, encerrou.