As micro e pequenas empresas amazonenses sustentaram as contratações com carteira assinada, em janeiro, após a rodada de baixas do mês anterior. As MPEs abriram 365 vagas, respondendo por nada menos do que 90,35% da oferta total (+404). O Estado seguiu a média nacional, onde os pequenos negócios responderam por 74,9% das ocupações formais – o equivalente a 62,4 mil novos postos de trabalho de um total de 83,3 mil. É o que revela o boletim mensal do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa), a partir dos dados do ‘Novo Caged’ (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
O saldo positivo das MPEs do Amazonas no primeiro mês deste ano foi uma boa notícia, diante do desempenho de dezembro, quando foram eliminadas 2.469 vagas celetistas. Mas, veio 70,15% abaixo da marca de janeiro de 2022 (1.223), mês em que o Estado enfrentava novas dificuldades sanitárias e econômicas, diante da chegada da variante ômicron da covid-19. Excluídos os meses de saldos negativos compreendidos nos últimos anos, a quantidade de novos empregos foi a menor para um mês, desde junho de 2020 (+368) – período subsequente à primeira onda da pandemia no Estado.
Assim como ocorrido nos números globais do ‘Novo Caged’ para o Estado, o predomínio das admissões sobre os desligamentos em janeiro foi garantido quase que exclusivamente pelo setor de serviços, com uma pequena participação da indústria de transformação. Tradicionais indutores de contratações, tanto formais, quanto informais, comércio e construção lideraram a lista de cortes, sendo acompanhados à distância pela indústria extrativa e pelos SIUP (serviços industriais de utilidade pública). As MPEs se saíram melhor na média nacional, com desempenho negativo apenas no comércio e predomínio da construção sobre os serviços e a indústria.
Serviços e indústria
O Estado subiu no ranking brasileiro, em termos de contribuição proporcional das MPEs na geração de empregos, mas ficou em posição intermediária. Em janeiro, as micro e pequenas empresas amazonenses foram responsáveis pela abertura de 2,37 postos de trabalho, a cada mil gerados. Superou a região Norte (-1,5 p/mil), mas ficou devendo para a média nacional (+3,26 p/mil). Com isso, o Amazonas subiu da 20ª para a 12ª colocação, em uma lista liderada por Mato Grosso (+22,69 p/mil), Santa Catarina (+14,35 p/mil) e Mato Grosso do Sul (+13,92 p/mil), e encerrada por Ceará (-7,86 p/mil) e Paraíba (-7,54 p/mil) e Pará (-7,16 p/mil).
Ao longo de 2022, as MPEs responderam por uma média de 70% das ocupações formais no Amazonas. Em mês de predomínio ainda maior dos pequenos negócios, as MGEs (médias e grandes empresas) conseguiram gerar apenas seis empregos – em um cenário nacional de eliminação de 872 vagas. As pessoas físicas (+14), a administração pública (+19) e as entidades sem fins lucrativos (+32) apresentaram um resultado pouco menos tímido. Em todo o país, o somatório das rubricas rendeu a abertura de 21,7 mil novas vagas, correspondendo a um terço da geração dos pequenos negócios no Brasil.
Vindo de ano em que conseguiu gerar empregos em dez meses consecutivos, o setor de serviços trocou de sinal de sinal, após os tropeços de novembro e dezembro, e sustentou o saldo positivo do Amazonas em janeiro. O setor gerou 1.696 postos de trabalho com carteira assinada, em performance que correspondeu ao triplo da média do Estado, além de superar com folga o total de vagas criadas pelo setor no mesmo período do ano passado (+662). Em contraste, as MGEs conseguiram criar somente 6 ocupações no mesmo mês.
O segundo melhor número veio da indústria de transformação, que também veio de um dezembro de saldo negativo em termos laborais. As contratações do setor superaram as demissões por um saldo de 174 vagas, em performance pouco abaixo da de janeiro do ano passado (+200). Em contraste, o comércio (-953) emendou seu segundo mês consecutivo de predomínio de desligamentos, assim como a construção (-462), SIUP (-61) e agropecuária (-29). A indústria extrativa mineral marcou estabilidade. As MGEs também estagnaram em todas as atividades econômicas citadas.
Políticas públicas
Em texto divulgado no site do Sebrae nacional, o presidente da instituição destacou a importância estratégica das MPEs no horizonte econômico brasileiro. “Criar políticas públicas que beneficiem os pequenos negócios é incentivar a geração de empregos no Brasil. Há meses os pequenos negócios são os grandes responsáveis pela criação de vagas de trabalho. Não se pode falar em crescimento econômico sem apoiar esse segmento”, pontua.
Melles acrescentou ainda que, apesar da redução nos números absolutos em relação ao mesmo período do ano passado, os pequenos negócios mantiveram a média de 7 a cada 10 novos empregos no primeiro mês do ano. Comparando com janeiro de 2022, quando houve 93 mil contratações, as MPE apresentaram uma redução de 32,9% no número de postos de trabalho abertos. Já entre as médias e grandes, que tiveram saldo negativo no primeiro mês deste ano, em janeiro de 2022 elas apresentaram saldo positivo de 45 mil novos empregos.
Incertezas e juros
Em entrevista anterior à reportagem do Jornal do Commercio, o coordenador de Acesso a Crédito pelo Sebrae-AM, Evanildo Pantoja, disse que a redução no ritmo de contratações das MPEs do Amazonas seria fruto de incertezas e apreensões empresariais diante das perspectivas de mudanças na reforma Trabalhista, com o novo governo. O dirigente acrescenta que a alta dos juros sempre inibe contratações e, por isso, também recomenda a implementação de políticas públicas que salvaguardem os pequenos negócios.
“Isso contribui para reduzir as contratações, que vinham crescentes, até outubro. No curto prazo, enquanto não forem anunciadas medidas de estímulos, com corte nos juros e manutenção das leis trabalhistas atuais, além de ações de fortalecimento das microempresas, como manutenção do Pronampe com taxas menores, não teremos a retomada do crescimento das contratações, pois o consumo continua retraído”, finalizou.
A gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM, Socorro Correa, ressaltou, também em entrevista anterior à reportagem do Jornal do Commercio, que fatores atípicos contribuem para oscilações mensais no saldo mensal de empregos formais nas MPEs. “Esses números não são constantes, pois dependem de expansão ou implantação de novas empresas. E os empregos continuam sendo sustentados por pequenos negócios, especialmente no interior do Estado”, frisou.
A executiva concorda, no entanto, que as empresas precisam de um ambiente macroeconômico mais favorável para a manter vagas. “Concorre contra a expansão de empregos a alta dos juros. Seja porque fica caro financiar projetos empreendedores, seja porque é mais atraente manter os recursos no banco, do que investir. Além disso, as incertezas provocam desaceleração nos aportes privados”, concluiu.