13 de setembro de 2024

MPEs do Amazonas lideram empregos, mas seguem em crise

As micro e pequenas empresas amazonenses continuam sustentando a geração de empregos com carteira assinada no Amazonas, apesar das dificuldades. Fontes ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio destacam, no entanto, que as dificuldades de caixa vêm se agravando desde o começo da pandemia, em virtude da escalada dos juros, que já está onerando em 35%, em média, os empréstimos ao segmento. Completam o quadro a dificuldade de adaptação às mudanças de costumes do consumidor e a falta de políticas públicas. O problema é ainda mais grave no interior, onde as MPEs dão o tom da economia, logo depois do setor público. 

Puxados basicamente pelo setor de serviços, os pequenos negócios responderam por 72,86% dos empregos gerados no Estado, em abril. Abriram 1.431 de um total de 1.964 vagas, conforme o boletim mensal do Sebrae, realizado a partir dos dados do ‘Novo Caged’. O ritmo acelerou em relação a março (1.003), no segundo melhor número do ano, logo após fevereiro (1.533). Em cinco meses, as MPEs somaram 4.206 empregos, sobrepujando as MGEs (médias e grandes empresas), que não passaram de 388 postos de trabalho. O desempenho dos empreendedores, entretanto, ficou muito aquém da oferta registrada no mesmo mês (2.642) e acumulado (8.914) de 2022. 

Na média nacional, as pequenas empresas emplacaram 76% (136.273) dos postos de trabalho do mês, e 64,94% (540.500) do quadrimestre. Em maio, as micro e pequenas empresas amazonenses foram responsáveis pela abertura de 9,31 empregos, a cada mil gerados, superando as médias do Brasil (7,12 p/mil) e da região Norte (8,78 p/mil). O Estado ocupa o sexto lugar do ranking nacional, que tem Roraima (14,53 p/mil) e Acre (-1,63 p/mil) nos extremos. No acumulado do ano, o Amazonas (27,36 p/mil) cai para a 11ª colocação, em uma lista também liderada por Roraima (61,27 p/mil) e encerrada pela Paraíba (8,22 p/mil). 

Serviços na frente

A despeito do fim do bônus de arrefecimento da pandemia, e de também estarem sujeitos a uma conjuntura macroeconômica desfavorável, os serviços continuaram sendo o motor da geração de empregos no Amazonas e no restante do país – ainda que em marcha menor. Os segmentos mais dinâmicos foram os de alimentação e transportes, além das atividades financeiras, imobiliárias, de informação e comunicação. As MPEs do setor criaram 1.091 empregos, em maio, e 5.293, no acumulado – contra 355 e 322 nas MGEs, respectivamente.

Praticamente todos os demais setores fecharam no azul, em maio. A indústria de transformação (+135) e o comércio (+132) praticamente empataram em uma distante e tímida vice-liderança. Na sequência estão a construção (+80), a agropecuária (+8) e a indústria extrativa mineral (+4). O único dado negativo do mês veio dos serviços industriais de utilidade pública/SIUP (-19). No acumulado do ano, a única divisão econômica do Estado a acompanhar os serviços no campo positivo foi a indústria de transformação (+483). O comércio eliminou 985 vagas nos pequenos negócios, embora tenha gerado 165 ocupações nas MGEs locais.

As MPEs de serviços geraram 312,3 mil vagas em todo o país, no acumulado do ano. Em seguida, estão a construção (110,8 mil) e a indústria (94,3 mil). Embora tenha apresentado saldo positivo nos últimos dois meses, o comércio extinguiu 15,6 mil postos de trabalho. “Mais uma vez, o segmento mostra a sua importância para a redução do desemprego e fome no país. Após o impulsionamento de 1,9% do PIB, no primeiro trimestre deste ano, a expectativa é que o resultado seja ainda melhor nos próximos meses, e que um número maior de novos postos seja criado”, declarou o presidente do Sebrae, Décio Lima, em texto postado no site de Agência de Notícias Sebrae.

Sem políticas

No entendimento do coordenador de Acesso a Crédito pelo Sebrae-AM, Evanildo Pantoja, o boletim mostra “crescimento muito tímido” nos empregos, e basicamente restrito aos serviços. “Não vejo perspectivas de melhoras neste semestre. Creio que vamos permanecer no mesmo ritmo, se não houver anúncio de novas políticas para o aquecer a economia. A alta taxa de juros retrai consumo, produção e comercialização de produtos e serviços. E a reforma Tributária gera dúvidas sobre elevação da carga de impostos, apesar de o governo afirmar que isso não ocorrerá”, desabafou, alertando que, se nada for feito, o país terá muitas MPEs quebrando já no primeiro trimestre de 2024.

Segundo Pantoja, desde o começo da pandemia, houve aumento significativo na inadimplência, fato agravado pela escalada dos juros bancários, a despeito da estabilidade da Selic. “Isso faz com que as instituições financeiras reduzam a oferta de crédito, prejudicando ainda mais o reaquecimento de nossa economia”, frisou. Ele acrescenta que mesmo os bancos públicos vêm recorrendo a expedientes mais comerciais, como focar nos cadastros para conceder empréstimos, o que prejudicaria as MPEs mais inovadoras, em detrimento de empresas mais antigas e não necessariamente mais eficientes.

Outro entreve vem da dificuldade de as MPEs se adaptarem a uma nova realidade de mercado, em que deixaram de contar com o trunfo da maior proximidade com a clientela, principalmente em bairros periféricos. “Temos as mudanças ocasionadas pela pandemia, como os canais de comercialização e o novo perfil dos consumidores, que agora recorrem mais a vendas online. Muitas empresas ainda não conseguiram se adaptar à essa nova realidade e sofrem ainda mais com perda de faturamento”, lamentou.

Gargalo no interior

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, a gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM, Socorro Correa, ressaltou que as empresas precisam de um ambiente macroeconômico mais favorável para a manter empregos e que o maior entrave ainda vem dos juros. “Fica caro financiar projetos empreendedores, sendo mais atraente manter o recurso no banco, do que investir no negócio. Além disso, as incertezas provocam inconscientemente uma desaceleração nos investimentos privados”, analisou.

Em nova entrevista, a executiva informou que analisando esse estudo e aprofundando a análise para identificar a dinâmica da geração de empregos no interior do interior. Segundo Socorro Correa, a capital concentra 78% do saldo de empregos formais do Amazonas, restando aos outros 61 municípios os 22% restantes da oferta de oportunidades. Diante disso, a gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM frisa que o Estado ocupa hoje a terceira posição em termos de geração de vagas na região Norte (atrás do Pará e Tocantins), quando “deveria estar em posição melhor”.

“Falta emprego formal no interior do Amazonas, o que significa baixa geração de renda, de consumo, e de investimento no curto prazo. Com o envelhecimento da população, teremos sérios problemas do ponto de vista da sustentabilidade dessas pessoas, que irão depender da ajuda de terceiros ou do governo. E do ponto de vista de políticas públicas, é necessário avaliar esse problema e o impacto disso para o futuro dessas localidades”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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