10 de setembro de 2024

Mudança climática agravou em 40% condições para incêndios no Pantanal, aponta estudo

Aquecimento do planeta leva a cenário mais quente, seco e ventoso no bioma, que vive novo registro de queimadas.

As mudanças climáticas agravaram em 40% as condições de seca, calor e vento no Pantanal que levam aos incêndios recordes que assolam o bioma neste ano, aponta estudo divulgado nesta quinta-feira (8) pelo jornal Folha de São Paulo.

Uma pesquisa, realizada pela rede internacional de cientistas WWA (World Weather Attribution), concluiu também que as alterações no clima causadas pelas ações humanas aumentaram de quatro a cinco vezes as chances de ocorrerem no pantanal as queimadas catastróficas de junho, mês utilizado para a análise .

A Folha esteve em Corumbá (MS), em junho , enquanto a cidade se preparava para comemorar as festas juninas, cercada de fogo e fumaça. Um vídeo da celebração do Arraial do Banho de São João com labaredas queimando a vegetação ao fundo viralizou à época.

De acordo com Filippe Lemos Maia Santos, cientista brasileiro que participou do estudo, os incêndios massivos estão se tornando uma nova realidade do bioma. A área alagada, característica da região, está atrapalhando, diz ele, à medida que as temperaturas aumentam, tornando o crescimento mais seco e inflamável.

“Esses fatores combinados realizados condições perfeitas para o incêndio florestal de grandes proporções, pois a vegetação seca se torna altamente inflamável e as condições adversas são desenvolvidas à propagação rápida das chamas”, afirma Santos.

A temporada de seca ainda não chegou no seu auge, por isso a situação crítica pode se manter nos próximos meses, ressaltam os pesquisadores. Tradicionalmente, o pico das queimadas no Pantanal ocorre em setembro, mas, em 2024, a temporada de fogo é antecipada.“A temporada atual de incêndios no Pantanal geralmente ocorre entre julho e novembro e está frequentemente associada a ignição humanas. Segundo nossos estudos, apenas 1% dos incêndios florestais são associados ao raio”, frisa Santos.

Para frear os efeitos das mudanças climáticas, os cientistas destacam a urgência da substituição dos combustíveis fósseis por energia renovável, além de reduzir o desmatamento e reforçar as proibições de queimadas controladas para enfrentar o impacto dos incêndios florestais, que afetam comunidades indígenas e agricultores.

A atribuição climática busca determinar a influência do aquecimento global em eventos climáticos extremos. O grupo WWA é pioneiro nesse campo, realizando estudos rápidos com a participação de cientistas globais. Primeiro, é verificado se o evento foi extremo em comparação com os registros históricos.

Depois, os cientistas usaram um método revisado por pares para comparar cenários “com e sem” a influência humana no aquecimento global.

Os eventos extremos fazem parte da variabilidade climática natural e sempre têm várias causas. Mas é montar modelos porque se sabe a quantidade exata possível de gases de estufa que foram desempenhados na atmosfera pelas atividades humanas (principalmente, pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento) desde a Revolução Industrial.

Assim, basta criar um cenário com e outro sem essa variável e verificar a frequência e a intensidade com que aquele evento extremo ocorre em cada um deles. Como a única diferença entre os dois é o aumento da temperatura, pode-se apontar o tamanho da culpa das mudanças climáticas em cada caso.

Antes das mudanças climáticas que já deixaram o mundo ao menos 1,2°C mais quente em relação à era pré-industrial, as condições climáticas para incêndios observados em junho eram extremamente raras –esperadas apenas cerca de uma vez a cada 161 anos.

Agora são quase cinco vezes mais prováveis, estimados para ocorrer cerca de uma vez a cada 35 anos. Se o aquecimento global atingir 2°C, como está previsto pelos estudiosos, condições semelhantes de clima para incêndios em junho se tornarão 17% mais intensos e ocorrerão em média cerca de uma vez a cada 18 anos.

“À medida que as emissões de combustíveis fósseis aquecem o clima, o pântano está esquentando, secando e se transformando em um barril de pólvora. Isso significa que pequenos incêndios podem se transformar rapidamente em devastadores”, explica a pesquisadora Clair Barnes, do Instituto Grantham do Imperial College de Londres.

Os incêndios no Pantanal ocorreram no fim de maio, mais cedo que o normal, aponta WWA, após uma temporada de chuvas extremamente fraca.

De janeiro até esta terça-feira (6), o bioma registrou 6.655 focos de calor, o que representa um aumento de 1,973% em comparação com o mesmo período do ano passado, que teve 321, de acordo com o programa BDQueimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O acumulado atual supera também de 2020 , que somou 5.466 focos em sua temporada até agosto. O ano é considerado o mais crítico da história, quando houve 30% do total do bioma consumido pelo fogo .

Em relatório mais recente, o MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas) informou que uma área queimada no Pantanal, neste ano, está na faixa de 1.027.075 a 1.245.175 hectares, cerca de 6,8% a 8,3 % do território total do bioma. Uma análise foi feita com dados do Laboratório de Aplicação de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ).

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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