O varejo amazonense teve o melhor resultado do país na variação mensal das vendas de abril. A elevação de 4,4%, ocorreu em paralelo com a Páscoa, os preparativos para o Dia das Mães e o anúncio de novas lojas. Foi suficiente para repor as perdas pelo tombo de março (-3,7%). Mas, o confronto com o mesmo mês 2021, período em que o comércio local passava pelo ciclo de reabertura pós-segunda onda, indicou queda de 2%. Na média nacional, as altas respectivas foram de 0,9% e 4,5%, e o maior impulso veio dos segmentos de móveis, eletrodomésticos, vestuário e calçados.
O comércio do Amazonas já soma expansão de 9,3% nos quatro primeiros meses de 2022, embora tenha praticamente empatado no acumulado dos últimos 12 meses (+0,2%). Em todo o país, os aumentos foram de 2,3% e 0,8%, respectivamente. Subsetores dependentes de crédito, como veículos e material de construção, apresentam queda anual maior (-2,4%), apesar de melhora mais acentuada em relação a março (+6,4%). A inflação, por outro lado, segue inflando artificialmente o faturamento das empresas e inibindo vendas. É o que revela a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), divulgada pelo IBGE, nesta sexta (10).
A alta mensal do Amazonas (+4,4%) foi a maior do Brasil. Rio Grande do Norte (+4%) e Bahia (+3,8%) vieram nas posições seguintes do pódio, enquanto Pernambuco (-7,7%) e Roraima (-4,5%) tiveram os piores números. Em contraste, o recuo do varejo local ante abril de 2021 (-2,2%) só não foi maior do que os experimentados por Pernambuco (-7,6%) e Bahia (4,9%), em uma lista liderada pelo Ceará (+18,5%). Com isso, o Estado (+9,3%) caiu da primeira para a quarta colocação no ranking do quadrimestre. Roraima (+11,5%) e Pernambuco (-5,2%) protagonizaram os extremos.
Receita e crédito
Vitaminada novamente pela inflação, a receita nominal do setor foi melhor em quase todas as comparações. Houve alta de 3,3% na variação mensal, em performance mais forte do que a de março (+0,6%). Em relação a abril de 2021, a elevação chegou a 7,7%, a despeito do recuo efetivo no volume de vendas, no período. Os acumulados do ano (+17,1%) e dos últimos 12 meses (+11,5%) seguiram no azul e na casa dos dois dígitos. A média nacional (+1,3%, +22,3%, +16,8% e +14,5%) também colecionou números positivos.
Em todo o Brasil, o varejo foi alavancado por quatro das oito atividades investigadas pelo IBGE, entre março e abril. As melhores influências vieram de móveis e eletrodomésticos (+2,3%), tecidos, vestuário e calçados (+1,7%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+0,4%) e artigos de uso pessoal e doméstico (+0,1%). Na outra ponta, combustíveis e lubrificantes (-0,1%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,1%), Livros, jornais, revistas e papelaria (-5,6%) e equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-6,7%) encolheram.
Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que o varejo ampliado local, que inclui veículos e material de construção, teve desempenho descolado do comércio amazonense, como um todo. A alta foi mais acentuada entre março e abril (+6,4%), sendo mais que suficiente para repor a perda anterior (-1,8%). Mas o tombo ante abril de 2021 (-2,4%) também foi maior, influenciando nos acumulados do ano (+6,9%) e dos 12 meses (-0,6%). As médias nacionais (+0,7%, +1,5%, +1,4% e +2,2%) foram todas positivas.
Peso da inflação
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, não soube dizer os motivos que poderiam ter contribuído para uma alta mensal mais encorpada para os segmentos do varejo dependentes de crédito. Mas, assinalou à reportagem do Jornal do Commercio que a inflação continua tendo papel fundamental para inibir o desempenho dos lojistas – especialmente no Amazonas, onde o fator frete e o peso da alta dos combustíveis têm peso maior. O pesquisador destaca que o desempenho do comércio está “baixo”, mesmo comparando com uma situação de pandemia e pouca circulação poucas vendas, em um panorama que não tende a mudar no curto prazo.
“Automóveis, peças e materiais de construções incrementaram as vendas de abril, pena que não temos como saber qual dos três colaborou mais. O comércio do Amazonas vem apresentando desempenho abaixo de 2021, nos dois últimos meses, embora apresente melhora em relação aos levantamentos anteriores. Essa ocorrência é reflexo principalmente da alta de preços nas mercadorias, fator que diminui o poder de compra do consumidor. Olhando para a média móvel, nos próximos meses não há perspectiva de melhora para o setor”, analisou.
Em âmbito nacional, três atividades do varejo estão com performance acima do patamar pré-pandemia, no acumulado até abril: artigos farmacêuticos (+17,7%), material de construção (+9,1%) e artigos de uso pessoal e doméstico (+7,3%). No outro extremo estão os subsetores de equipamentos e material de escritório (-11,7%), móveis e eletrodomésticos (-10,7%), tecidos, vestuários e calçados (-8,6%). Mas, o comércio vem desacelerando em todo o país.
“Os quatro meses do ano foram positivos, mas vêm em trajetória decrescente: de 2,4% em janeiro para 0,9% em abril. O crescimento é consistente, porém desigual. Como um todo, o comércio varejista está 4,0% acima do patamar pré-pandemia, em fevereiro de 2020. Mas entre as atividades está desigual”, avaliou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, em texto veiculado pelo site da Agência IBGE de Notícias.
“Famílias precavidas”
Na mesma linha, o presidente da assembleia geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, disse à reportagem do Jornal do Commercio que os números do setor foram impactados pela alta dos preços dos combustíveis e seus impactos no custo do frete da mercadoria e na inflação em geral, fazendo o consumidor agir de “maneira comedida”. Da mesma forma, o dirigente avalia que a mudança de comportamento do consumidor, após os meses mais duros da pandemia também impactou nessa dinâmica.
“As famílias estão mais precavidas, não apenas pelas dificuldades, mas porque também criaram uma consciência maior. A pesquisa do IBGE mostra um papel importante dos bens duráveis, mas penso que as linhas de crédito que predominaram foram para itens de valores menores e que podem ser pagos em menos parcelas. Devemos ter um Dia dos Namorados positivo, mas com vendas comedidas. O dinheiro deve circular bem até certo ponto, pelo menos até outubro, que é mês de eleições. Daí em diante, fica uma interrogação”, arrematou.