O nível das águas em ritmo mais lento aponta que o comportamento do rio Negro está diferente do que registrava no mesmo período do ano passado. De acordo com o boletim
do SGB-CPRM (Serviço Geológico do Brasil) e a ANA (Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico), o nível do rio Negro está em recessão nas estações de São Gabriel da Cachoeira, Santa Izabel do Rio Negro e Barcelos, com cotas dentro do esperado para o período. Já na estação de Manaus, o rio Negro subiu 25 cm na ultima semana e está no processo de enchente, com cotas no limite inferior da faixa de maior permanência.
Nesta segunda-feira (9), o nível do rio chegou a cota de 19,65 metros, dados são do Porto de Manaus. A pesquisadora em Geociências, Jussara Socorro Cury Maciel, explicou que o rio Negro na estação de Manaus segue em processo regular de enchente, contudo apresenta cotas no limite inferior da curva de maior permanência para o período. “Em 2022, na segunda semana de janeiro o rio Negro estava 4 metros mais elevado que em 2023. Esta bacia na região de Manaus ainda está na fase inicial da cheia, que depende da distribuição da precipitação na bacia e nas calhas a montante, como é o caso do rio Solimões, que também está no início do processo de enchente”, informou.
Ainda é prematuro dar qualquer previsão sobre a possibilidade de uma cheia com níveis elevados. E a justificativa está no peso que as anomalias de chuva que ocorrerem no primeiro trimestre tem no processo de cheia.
Ainda conforme o Boletim de Monitoramento do órgão, o rio Solimões apresenta cotas abaixo do esperado nas estações monitoradas. Em Tabatinga, o rio apresentou recessão de 18 centímetros na última semana e no posto de Itapeua, o rio subiu 38 centímetros. Não foi possível a atualização dos dados da estação de Fonte Boa. Considerando o período, as estações desta calha seguem em processo de enchente. Já na bacia do rio Amazonas, as estações monitoradas estão em processo de enchente, mas apresentam cotas no limite inferior da faixa de maior permanência.
De acordo com o boletim, os níveis d’água mais recentes apresentados podem ser eventualmente alterados em função de verificações “in loco” realizadas pelos engenheiros e técnicos que operam a rede hidrometeorológica. Nessas ocasiões, são executados trabalhos de manutenção das estações, bem como o nivelamento das réguas.
Comparativo
No mesmo período do ano passado, o comportamento do rio Negro acendia alerta. Na ocasião, o pesquisador entrevistado pelo Jornal do Commercio, não descartava a possibilidade de cheia histórica.
O cenário pedia antecipação das ações das autoridades na tentativa de reduzir futuros impactos. “É uma recomendação por prudência frente a possibilidade de uma grande cheia”, enfatizou à época o pesquisador do CPRM, André Martinelli.
Em 2022, ele não confirmava que o inverno amazônico iria atingir níveis históricos, mas também não descartava que uma possível cheia ameaçava novamente. “A chance de sofrermos com uma cheia severa em 2022 está dependente de um evento de La Niña forte que resulte em anomalias positivas de chuvas para o próximo trimestre. Esse fato associado ao padrão atípico monitorado desde agosto de 2021 poderá resultar em uma grande cheia”. Martinelli explica que para um evento de cheia de grande magnitude ser efetivado no ano de 2022, o La Niña intenso provocaria acumulados positivos de chuvas na região, o que acarretaria em chuvas acima do esperado e em consequência aumentaria o nível dos rios a patamares acima do esperado também. “Este fato associado ao padrão atípico atual poderia formar uma cheia histórica. Portanto precisamos aguardar o comportamento dos rios até março para podermos calcular a magnitude da cheia”. O pesquisador informou ainda que a cheia havia se intensificado nas últimas semanas e o nível de cota bateu recorde no começo de 2022.