Fundada em 13 de agosto de 1942, pelos irmãos Samuel, Israel e Saul Benchimol, a Bemol é uma das maiores empresas de varejo da Região Norte do País. A empresa atende 69 cidades na Amazônia Ocidental, localizadas em Manaus, Porto Velho (RO), Boa Vista (RR) e Rio Branco (AC). São 39 lojas, incluindo loja online, televendas e lojas físicas, 43 farmácias, 23 loterias, quatro mercados e seis centros de distribuição. No total, são cerca de 4.200 colaboradores.
Em entrevista ao Jornal do Commercio, o diretor-presidente do grupo, Denis Benchimol Minev, atribuiu o crescimento e a longevidade da empresa à confiança mantida pelo relacionamento que mantém com seus clientes, fornecedores e colaboradores desde a sua fundação. Ele falou ainda sobre as perspectivas para o futuro varejista no Amazonas e traz soluções fora da caixa para contornar os desafios logísticos, de conectividade e a baixa bancarização da população local.
1 – Jornal do Commercio – São 81 anos de história da Bemol no Amazonas. Como a empresa precisou evoluir para se manter viva, após essas oito décadas de história?
Os fundadores iniciaram a empresa com poucos recursos, mas com muita coragem. Nós começamos com um escritório de representação de produtos farmacêuticos e, depois, evoluímos para lojas de varejo, num formato mais tradicional e fomos representantes de grandes marcas, como a General Eletric e a Nike. A Bemol sempre esteve calcada com o aspecto acadêmico. Meu avô e os irmãos dele, fundadores do grupo, sempre buscaram oportunidades, estudando o que estava acontecendo no mercado e no mundo. Um dos marcos iniciais da Bemol foi durante a Segunda Guerra Mundial, quando eles conseguiram importar produtos que estavam em falta no Brasil, como foi o caso do trigo. A partir dessa iniciativa, nós nos tornamos únicos, naquele momento. Essa é a nossa essência, entender as necessidades do mercado, ir atrás das novidades do setor e nos tornar uma empresa cada vez mais produtiva e diferenciada. Também fomos pioneiros em vários processos, como a inserção da ISO, ERP e, mais recentemente, a digitalização e uso da Inteligência Artificial, redesenhando nossas estratégias, que permitam nos manter competitivos.
2 – JC – Hoje, a Bemol chega em pontos remotos da Amazônia e a questão logística é um diferencial contra grandes varejistas, como Mercado Livre, Amazon e outras. Mas manter esse serviço não é nada fácil, tendo em vista as questões ambientais, como a seca e a cheia dos rios. Como a Bemol tem se adequado a esses fatores para continuar entregando os produtos?
Operamos bem nas capitais, mas, certamente, o lado mais desafiador do negócio e onde vemos mais oportunidade de crescimento são as cidades do interior da Amazônia. Nosso objetivo é atender a todos eles, chegando onde nenhuma outra varejista chegou. Não é um trabalho fácil, é um trabalho de formiguinha. A gente avalia os municípios e as comunidades, entra em contato com os donos das embarcações e fecha parcerias. Há municípios onde só acontecem duas viagens de barco por semana. Quem chega lá primeiro, ganha vantagem competitiva. As nossas concorrentes dependem, quase que exclusivamente, da entrega feita por transportadoras, o que inviabiliza e encarece, quando elas precisam se utilizar de outros meios de transporte. Logística no Amazonas é difícil e se destaca quem estuda e encontra as oportunidades. Hoje, nós entregamos em mais de 80 municípios.
3 – JC – Como tem sido o desenvolvimento da bancarização dentro do negócio Bemol?
Boa parte da população daqui teve a primeira experiência de crédito com a Bemol e não através de uma instituição financeira. Pensando nisso, vale lembrar que parte do interior você não tem como transformar dinheiro físico em dinheiro digital, até porque no interior não existem caixas eletrônicos, mais conhecidos como ATMs, ou o transporte de valores. Isso dificulta o processo de bancarização nessas cidades. Então, como é que você faz para atender essa população? E é justamente nisso que está o nosso foco. O nosso desafio é encontrar oportunidades para avançarmos no segmento. Atualmente, nós temos aberto farmácias e permitido que os nossos clientes façam depósitos nelas. Estamos permitindo, inclusive, que eles façam saques. Acima de 90% das nossas vendas são financiadas pela própria Bemol. Nós estamos fazendo o papel bancário em um local onde não há nenhum banco.
4 – JC – Uma das maiores dificuldades enfrentadas recentemente pelos empresários foi a pandemia. Como a Bemol montou a estratégia para se manter viva no mercado?
A pandemia foi um dos piores momentos para qualquer empresário. Foi a primeira vez, em mais de 80 anos de Bemol, que nós ficamos com 100% das lojas fechadas. A empresa precisou se reinventar. A princípio, nós criamos um comitê de crise e definimos três grandes estratégias: saúde de colaboradores e clientes, uso de ferramentas e cuidado com a saúde financeira da empresa. Nós precisamos reformular tudo o que a gente entendia sobre o negócio, para permanecermos competitivos. Com sorte e competência, conseguimos formar equipes robustas e flexíveis. Até aquele momento, apenas 2% das vendas da Bemol eram feitas por e-commerce. Na pandemia, ele chegou a ser 100% e, hoje, ele transita em 20% do potencial de vendas. Nós deixamos de fazer 1.500 entregas por dia para atender mais de 10 mil, diariamente. Nos tornamos líderes na venda pelo e-commerce na Região Norte, depois disso.
5 – JC – O uso de inovação e tecnologia aplicados na economia é uma preocupação da Bemol. Como vocês têm feito investimentos neste segmento?
Nós já trabalhamos com algum tipo de Inteligência Artificial, desde 2013. Nós trabalhamos com a Universidade Federal do Amazonas, principalmente nas redes neurais e aprendizagem de máquina na previsão de crédito, desenvolvendo os nossos modelos de precificação de risco. Essa disponibilização de crédito virou até aquele meme conhecido: “quem não deve a Bemol?”. Isso se deve à tecnologia da precificação, estabelecendo limites de acordo com cada usuário, permitindo que a gente continue vendendo sem ir à falência. Hoje, no Brasil, nós somos a varejista que mais vende baseada no crediário próprio. 80% das nossas vendas vêm desse modelo. Mais recentemente, colocamos o Chat GPT, levamos internet e Wi-Fi para diversas localidades, conectando as lojas e a população local. A conectividade no interior é central para o negócio. Inclusive, junto com uma empresa parceira, nós colocamos o cabeamento de fibra óptica em algumas cidades e ofertamos o serviço. Mas, o nosso foco principal é treinar pessoas. Inclusive, temos muito orgulho do nosso centro de desenvolvimento de software em Itacoatiara. Nós pegamos os universitários da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), que abandonavam a faculdade por não verem perspectivas. Conosco, eles têm uma bolsa e, quando eles se formam, são contratados. Atualmente, são 26 jovens itacoatiarenses neste programa.
6 – JC – A Bemol é uma empresa referência de inovação, tanto pelo processo tecnológico, quanto pela ramificação dos serviços. Além de investimentos em diferentes segmentos. Pensando nisso, o que podemos esperar da Bemol? Quais os próximos passos?
Nós temos algumas frentes. Nos últimos anos, nós fizemos muitos experimentos, como, por exemplo, na energia solar, disponibilização de empréstimos, abertura de conta digital e estamos caminhando para sermos um banco. Outra novidade é que estamos desenvolvendo o nosso marketplace, sempre voltado para a Amazônia. A gente gosta de onde a gente opera. Acreditamos que, para a Bemol, é bem mais produtivo focar nos quatro Estados onde já atuamos, fazendo mais por eles. Nós temos muitas pequenas melhorias que, juntas, fazem a diferença.
Por BRUNA SOUZA
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