18 de novembro de 2024

Noturno da Lapa

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Cronista curioso da vida boêmia do Rio de Janeiro, Luís Martins fez da Lapa o personagem principal de sua obra literária. Seu romance de estreia, que leva o nome do bairro, foi lançado em 1936 e deixa à mostra um lado escuro da cidade, com personagens destinados à dor e à miséria. Noturno da Lapa, publicado quase 30 anos depois, é um livro de memórias que venceu o Prêmio Jabuti em sua categoria. Escritos em momentos diferentes da história, os dois títulos de Luís Martins figuram entre os clássicos da literatura nacional e foram escolhidos para integrar a Biblioteca Oficial do projeto Rio 450. Esgotadas há muitos anos, as obras, editadas pela José Olympio, retornam
agora às livrarias e serão vendidas juntas, em um kit.
Escrito de forma crua e realista, Lapa, como o próprio autor define em uma nota introdutória, “é uma crônica trágica da prostituição carioca”. Com título sugerido por Jorge Amado, o livro foi publicado em 1936 e rendeu a Luís Martins muitos problemas com a censura do Estado Novo. Taxado de subversivo e imoral, o livro foi apreendido e destruído, o que levou o autor a exilar-se em uma fazenda em São Paulo. Lapa entrou para a história, injustamente, como uma obra clandestina. Hoje, décadas depois, impressiona pelo impacto literário e ousadia.
Na edição da José Olympio, o texto de Lapa é apresentado por um prefácio de Ruy Castro, que revela detalhes da história do bairro e da trajetória de Martins. Dentre as passagens abordadas por Castro, chama a atenção a que se refere ao namoro de Luís Martins com a modernista Tarsila do Amaral, 21 anos mais velha que ele. Além disso, o prefácio lança luz sobre a convivência do escritor com outras personalidades do bairro.
Noturnos da Lapa só foi escrito muitos anos depois, em 1964. Vencedor do Prêmio Jabuti de 1965, é um livro de memórias por meio do qual Luís Martins acerta contas com sua juventude. Passeiam por suas páginas personagens como Rubem Braga e Odylo Costa, filho, ambos amigos de Martins, aos quais se juntam artistas e boêmios anônimos. Por meio das memórias do escritor, surge então a história da Lapa – do seu tempo de glória à sua decadência. “O seu assunto específico não é a minha autobiografia”, diria autor sobre o livro. “É a Lapa”.

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Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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