Quando o município de Presidente Figueiredo foi criado em 1981, descobriu-se na região um dos mais belos lugares do Amazonas repleto de cavernas e cachoeiras (até agora catalogadas mais de 160), com tudo para deslanchar turisticamente. Os anos e as décadas se passaram e nunca houve o esperado ‘boom’ turístico. Algumas das pousadas surgidas na cidade e sítios dos arredores, simplesmente fecharam. As que se mantêm devem isso à persistência de seus proprietários, que faturam um pouco mais nos finais de semana ou quando acontece alguma festa esporádica na cidade. Ainda assim existem empreendedores que veem boas chances de ganhar um bom dinheiro explorando o turismo ecológico na Terra das Cachoeiras.
Alejandro Salinas foi gerente do Ariaú Amazon Towers e recentemente assumiu a direção do Hotel Aldeia Mari Mari, fechado há pouco mais de ano. “O proprietário montou um empreendimento mais rentável no Nordeste e pediu que eu administrasse o Mari Mari. Trouxe a cozinheira e um auxiliar, que trabalharam comigo no Ariaú, e contratamos camareiras e guias aqui de Figueiredo”, explicou.
Em fase experimental o hotel já está recebendo os primeiros hóspedes manauaras. “Mas visamos o turista nacional e internacional, que se hospeda durante no mínimo três dias, querendo conhecer as belezas naturais da região. Os locais querem apenas tomar banho de igarapé e almoçar”, disse.
O Mari Mari é o típico hotel de selva, incrustado em meio à floresta, localizado num antigo sítio de cerca de 60 hectares. Foi inaugurado há seis anos. “Nossa ideia é organizar vários roteiros em um único pacote, diferente de como estava sendo feito. Os roteiros eram vendidos de acordo com a pousada ou o hotel. Aqui reuniremos todos eles num só hotel”, afirmou o empreendedor.
A dança do Galo da Serra
O hotel de selva é formado por dez chalés, para casal e até quatro pessoas. Cada um dos chalés tem uma varanda e espaço para atar rede; TV de 40 polegadas e canais a cabo; Split e frigobar. O banheiro, com box em Blindex, possui água quente. O restaurante está localizado num terreno mais baixo e para acessá-lo desce-se por uma bela escadaria de 75 metros de comprimento, toda feita de pedra. Detalhe: a escadaria tem vários lances de degraus separados por patamares onde se pode descansar durante a subida ou a descida.
No restaurante, com capacidade para 60 pessoas sentadas, são servidos desde pratos regionais à base de peixes, a pratos da culinária internacional. “Iremos fazer, por exemplo, a semana italiana, ou a semana espanhola, e as pessoas poderão dar sugestões do que gostariam de comer quando vierem se hospedar aqui”, afirmou.
Um dos principais atrativos do hotel, localizado a poucos metros do restaurante, é o igarapé do Mutum, formado a partir de várias nascentes que saem do interior da RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) Uatumã, fronteiriça ao hotel. O igarapé de águas negras e geladas, é totalmente sem poluição exatamente porque sai de dentro da Reserva, criada em 2004.
Para quem gosta de ousar nas aventuras, mais de seis trilhas saem a partir do terreno do hotel. São trilhas que, caminhando, pode-se demorar de uma a três horas até chegar ao seu final, pelo meio da floresta primária, com vegetação praticamente intocada. Aí surgem toda sorte de eventos: árvores gigantescas caídas, e tantas outras em pé, ninhos de caranguejeiras, formigas, espinhos, o clima quente e úmido da Amazônia, e o canto incessante de inúmeras espécies de aves.
As caminhadas pela trilha podem ser noturnas, quando os animais e seus cantos serão outros. Mas esse é só o começo. Aos observadores de aves o roteiro indicado é o da observação do Galo da Serra, a ave símbolo de Presidente Figueiredo. “Com poucos minutos de caminhada, chegamos à arena onde o Galo da Serra faz a dança do acasalamento para a fêmea. As aves, várias delas, estão tão acostumadas com a presença humana, que podemos nos aproximar a poucos metros, para fotografá-las, enquanto se exibem para a fêmea”, lembrou.
Como chegar lá:
Estrada de Balbina (AM -240), km 13. A partir da entrada do ramal da Cachoeira dos Pássaros, segue-se por 5 km até chegar ao hotel. Informações: (92) 9 9184-3660.
Exploração inédita da caverna desabada
Mas o roteiro inédito que está empolgando Salinas é a exploração de uma caverna com o rio passando em seu subterrâneo. O que chama a atenção, porém, são as rochas imensas, com toneladas de peso, umas sobre as outras, mostrando claramente que em algum momento, quem sabe há milhares de anos, a caverna desabou. Prova são as árvores gigantescas com suas poderosas raízes curiosamente fincadas sobre as rochas e, entre estas, passagens estreitas levam o visitante a uma verdadeira aventura, desde que tenha coragem e condicionamento físico. Morcegos completam o cenário. “Ninguém nunca explorou esse roteiro em Figueiredo, por isso estou apostando que será um dos que mais fará sucesso”, projetou.
E se a hidrelétrica de Balbina é a responsável pelo pior desastre ecológico ocorrido na Amazônia, que ao menos ela sirva para gerar dividendos turísticos para a região. Um dos roteiros idealizados pelo empreendedor leva o hóspede para um passeio de lancha pelo lago, no qual se pode observar e interagir com os botos, pescar piranhas e ter uma visão panorâmica da hidrelétrica. À noite acontecem a famosa focagem dos jacarés. Em terra o passeio completa-se com uma visita ao Projeto Peixe-boi, no qual profissionais realizam pesquisas sobre esse animal tipicamente amazônico.
“Ainda realizamos cursos de sobrevivência na floresta e escalada em árvores de 40 metros de altura, inclusos nos diversos pacotes que disponibilizamos para os hóspedes que, com certeza, conseguirão sentir o que é viver na Amazônia”, finalizou Salinas.