ENTREVISTA: Filippo Stampanoni, diretor-Geral do Museu da Amazônia (Musa)
Com a morte do físico Ennio Candotti, fundador e diretor do Museu da Amazônia, em 6 de dezembro passado, no dia 22 daquele mês assumiu o seu lugar o arqueólogo italiano Filippo Stampanoni, até então diretor-adjunto do Museu. Filippo é doutor em arqueologia com área de pesquisa em Arqueologia Amazônica. Nessa entrevista ao Jornal do Commercio, o novo diretor do Musa falou sobre a importância de estar à frente de uma das mais importantes instituições da Amazônia.
Jornal do Commercio: Como é dirigir um museu do porte do Musa (Museu da Amazônia)?
Filippo Stampanoni: Estar na direção do Musa envolve uma grande tarefa seja do ponto de vista da responsabilidade com os trabalhadores do Museu, com o visitante e também com os objetivos e a função de um museu como o Museu da Amazônia. A missão é de um tamanho gigantesco. A população de Manaus, os visitantes e as instituições que têm relação com o Musa sabem que o Museu não é apenas um local de visitação para turismo, mas ele tem uma função de incubador de pesquisas dentro da Reserva Ducke, e fora da Reserva, na Amazônia, em geral, então temos um imenso compromisso com a pesquisa em prol da Amazônia.
JC: O Musa não tem um ‘dono’. Como é que toda sua fantástica estrutura é gerida e mantida?
FS: O Musa é um Museu de direito privado, gerenciado por uma assembleia de sócios, depois por um conselho de administração e pela direção executiva. O Museu não recebe recursos públicos. Toda a sua estrutura é mantida principalmente pelos ingressos pagos pelos visitantes. Em segunda instância recebemos recursos através de parcerias e projetos. Tivemos uma parceria de vários anos com a UEA e graças a isso tínhamos recursos para gerenciar parte dos custos. Finalmente temos sócios e amigos que nos apóiam participando de projetos de financiamento ou ajudando a captar recursos.
JC: Quantas pessoas trabalham no Musa? O Museu mantém pesquisadores e pesquisas?
FS: Temos 36 funcionários, na manutenção, na segurança, no administrativo, além de pesquisadores e cientistas. Temos pesquisadores fixos e outros que trabalham por período determinado recebendo bolsas ou contratados para trabalhos específicos. Atualmente temos 40 pesquisadores bolsistas vinculados a diferentes projetos em conjunto com o Musa, sem falar das pesquisas que apoiamos com pesquisadores que desenvolvem seus trabalhos no Museu. Somente este ano tivemos mais de dez mil pessoas com entrada franca no Museu para fins de educação, escolas ou pesquisadores que aqui desenvolveram trabalhos. E ainda recebemos dezenas de estagiários, de universidades, que passam períodos de quatro a oito meses no Museu desenvolvendo atividades de extensão.
JC: Qual o diferencial do Musa em relação a outros museus similares (a céu aberto) espalhados pelo mundo?
FS: A primeira diferença é que o Musa está na Amazônia e é dedicado à Amazônia, o que o torna único. Outro diferencial é que consideramos a área da Reserva Ducke como se fosse um museu vivo, cada árvore, folha, inseto, animal, fungo, e todas as nossas atividades são criadas a partir da perspectiva a qual queremos introduzir o visitante ao conhecimento desse grande organismo que é a floresta amazônica.
JC: Quantos visitantes o Musa recebe por mês? Parece que a maioria dos manauaras ainda o desconhece.
FS: Recebemos em torno de cinco mil visitantes/mês pagantes, além disso, temos cerca de dois mil visitantes/mês que visitam o Museu de graça, estudantes; pesquisadores universitários, que realizam trabalhos vinculados ao Musa; e categorias específicas, como população indígena. Não sei se a maior parte, mas com certeza há uma grande fatia dos manauaras que ainda não teve a oportunidade de visitar o Museu. Por que isso? A meu ver é porque existe o ingresso e uma parte da população não tem condição de pagar por ele. Para reduzir essa parcela, que não tem condição de pagar, aos poucos estamos implementando políticas para tornar o Museu mais inclusivo, como aumento das pessoas que não precisam pagar e criação de dias específicos com ingresso reduzido. Também precisamos trabalhar melhor a capacidade de comunicação do Museu para chegar a um maior número de pessoas.
JC: A torre tem sido o ‘xodó’ dos visitantes, mas o que mais você indicaria para ser visitado?
FS: A torre é o local mais conhecido do Museu e todo visitante quer subir lá, no entanto o Museu tem outras atrações bem interessantes: as exposições com conteúdo riquíssimo. O visitante deve parar mais tempo para ver as exposições, e mesmo as trilhas, que não devem ser atravessadas rapidamente ou se perde a possibilidade de ver a floresta amazônica ao vivo. E contratar trilhas guiadas e trilhas noturnas com experiências muito mais imersivas.
JC: O Musa continua em expansão? Quais novidades apresentará este ano?
FS: O Musa não pode parar. Justamente por ser um museu vivo, precisa o tempo todo se renovar, se repensar. Para 2024 temos novidades, entre elas, novas exposições, uma de arqueologia, no final de abril; e estamos preparando uma ampliação da exposição dos dinossauros.