A Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) revela que o saldo da balança comercial do setor no primeiro semestre de 2007 fechou na casa dos US$ 22 milhões, resultado muito aquém do alcançado no mesmo período de 2006, quando o valor foi de aproximadamente US$ 50 milhões. É óbvio ser necessário reiterar o alerta ao governo de que o câmbio sobrevalorizado, a exemplo do que ocorre com numerosos segmentos, está prejudicando a atividade, que emprega 183 mil pessoas e reúne 17,3 mil empresas, 90% das quais de pequeno porte.
Paralelamente às gestões da sociedade no sentido de que a política monetária seja menos radical e na defesa das reformas da previdência e dos sistemas tributário e trabalhista, é importante refletir sobre as mudanças em curso na economia mundial. Estas parecem ser ainda pouco percebidas num cenário econômico complexo como o brasileiro, em que a prioridade das empresas é invariavelmente focada na perspectiva da sobrevivência e o planejamento vislumbra, quase sempre, apenas a manhã seguinte.
Alfried Karl Plöger é presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica-SP).
No contexto dessa análise, é interessante lembrar alerta do economista William R. Cline, do Peterson Institute for International Economics, em matéria de “O Estado de S. Paulo”. Ele salienta: “Países como o Brasil devem adaptar-se ao novo cenário, no qual os Estados Unidos deixarão de ser o grande importador (…). É preciso olhar para outros compradores e pensar em demanda doméstica”. Muito lúcido e pertinente, pois o mercado internacional — e não só o norte-americano —, embora deva ser sistematicamente prospectado, é suscetível aos caprichos e oscilações da globalização e a problemas políticos, crash de uma ou outra economia e outras variáveis.
Quando se fala em “demanda doméstica”, é inexorável, na América Latina, enfatizar as pequenas empresas, predominantes em muitos setores de atividades, como as gráficas. E aí, as projeções são preocupantes. Texto inserido no site do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) é esclarecedor sobre a situação: “Prejudicadas por uma educação básica inadequada e freqüentemente incompleta, as pessoas de baixa renda na América Latina e no Caribe são obrigadas a aceitar empregos que exigem pouca qualificação e oferecem escassas oportunidades de avanço. Obviamente, estão também em acentuada desvantagem para iniciar e conduzir um negócio próprio. O problema é amplificado pelo fato de que as pequenas e médias empresas, responsáveis por 20% a 40% dos empregos formais na região, não têm condições de oferecer capacitação a seus funcionários sem financiamentos do governo”.
Com certeza, tal diagnóstico explica, em grande parte, o posicionamento do Brasil em estudo do WorldWatch Institute que estabeleceu ranking dos países quanto ao número de pessoas que podem ser identificadas pela palavra “consumidor”, ou seja, quem tem poder de compra acima de US$ 7 mil. Em primeiro lugar estão os Estados Unidos, com 242,5 milhões de consumidores (84% da população). A China vem em seguida, com 239,8 milhões (19%). A Índia ocupa o terceiro lugar, com 121,9 milhões (12% da população); o Japão, que tem a parcela mais significativa da sua população incluída na sociedade de consumo (95% ou 120,7 milhões de pessoas) é o quarto, seguido da Alemanha (76,3 milhões ou 92% da população). A Rússia é o sexto, com 61,3 milhões, o equivalente a 43% dos habitantes. No Brasil, embora ocupe o sétimo lugar no ranking, posição aparentemente relevante, apenas 33% dos habitantes classificam-se como consumidores.
Assim, simultaneamente às ações táticas voltadas à competitividade, abrangendo juros, câmbio, reformas estruturais e o gargalo da infra-estrutura, é preciso um olhar, com alcance de médio e longo prazos, contemplando os novos cenários mundiais. E nesta abordagem estratégica é imprescindível ênfase à demanda doméstica e à inclusão social, o que também exige disseminar no país meios de