19 de setembro de 2024

Onda de casos de Covid-19 na China acende alerta no PIM

A explosão de casos de Covid-19 na China acende um sinal de alerta no PIM. Diferente dos recentes repiques ocorridos no IPCA, o indicador do IBGE que mede a variação dos preços industriais mostrou seu quarto mês de declínio consecutivo, em novembro, em sintonia com o arrefecimento das cotações de commodities, entre outros fatores. Mas, há dúvidas se o agravamento da crise sanitária no país asiático, que é o principal fornecedor de partes e peças para o Polo Industrial de Manaus, pode induzir ou não um novo freio no fornecimento, assim como ocorrido nos meses mais críticos da pandemia. 

Economistas que acompanham de perto a progressão da inflação, por outro lado, avaliam que a eventual confirmação de um novo estrangulamento na oferta de insumos brecaria não apenas a produção e as vendas do setor, como também traria o risco de uma nova escalada inflacionária. Especialmente se tal mudança de conjuntura vir acompanhada de um novo aquecimento da demanda, impulsionado pelas aguardadas políticas federais anticíclicas, em um cenário em que os juros já estão no teto. 

A OMS recebeu, nesta semana, novos relatórios que sustentam a tese de que pode estar havendo subnotificação dos efeitos da pandemia na China. As hospitalizações subiram quase 50% e a Organização Mundial da Saúde contabilizou 218 mil novos casos e 648 óbitos no final de dezembro, com destaque para mortes de celebridades. O país deixou de enviar relatórios há um mês, depois de suspender a política de “covid zero”, que já impunha dificuldades no translado dos insumos. Mas, um descontrole da pandemia poderia gerar entraves logísticos ainda maiores, além de interromper o funcionamento de fábricas.

Por enquanto, a indústria ainda colhe números mais amenos de inflação. O IBGE registrou um quarto mês seguido de queda no IPP (Índice de Preços ao Produtor), com variação negativa de 0,54%, entre outubro e novembro. A deflação foi sustentada pelos bens intermediários (-0,86%) e de consumo (-0,32%), com influências positivas dos segmentos de alimentos, refino de petróleo e indústria química. A metalurgia, que é relevante no PIM, encolheu 0,88%, na sexta retração consecutiva nesse tipo de comparação.

Ainda assim, o IPP acumula altas de 4,47%, no ano, e de 4,39%, em 12 meses. E nove das 24 atividades industriais pesquisadas tiveram seus preços indo na direção oposta. Subsetores presentes em Manaus, como produtos de papel (+19,47%), impressão e reprodução de gravações (+18,07%), bebidas (+16,80%), máquinas e equipamentos (+14,56%) e minerais não metálicos (+14,42%) comparecem com taxas de inflação de dois dígitos, assim como derivados de petróleo e combustíveis (+17,50%). 

Indicadores sensíveis

O presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas) e do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Amazonas), Marcus Evangelista, alerta que o quadro que vai se armando no país asiático é “preocupante”, dada a sua importância para o PIM. “Se a China parar, a tendência é termos linhas de produção retraídas, demissões e um novo breque na oferta de insumos. Alguns países estão oferecendo mais componentes, como Taiwan e Vietnã, mas o fato é que algumas tecnologias, e especialmente semicondutores, ainda são encontrados basicamente por lá”, reforçou.

O economista considera que os indicadores de inflação estão “muito sensíveis” a estímulos e lembra que um desarranjo como esse pode produzir efeitos negativos também no câmbio, além de frustrar eventuais movimentos de retomada. “O governo vai fazer de tudo para alavancar o consumo. Se essas políticas forem implementadas, o consumidor vai demandar mais produtos na praça. Mas, diante desse quadro, pode acabar não encontrando, o que impactaria nos preços. É algo parecido com o que já vimos antes”, alertou. 

“Cedo demais”

O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Antonio Silva, explica que a retração de preços no setor pode ser explicada porque o Brasil é importador de boa parte dos produtos que consome. O dirigente acrescenta que, dessa forma, os preços acompanham as flutuações dos preços internacionais, e observa que estes tiveram alta no início do conflito na Ucrânia, mas agora apresentam relativa estabilidade.

“Além disso, um dos principais componentes dessa cesta, o refino de petróleo, tem apresentado queda no mercado externo. Mas, acho cedo para considerarmos um possível agravamento no desabastecimento de insumos para a indústria local. Apesar do setor industrial ter sofrido recorrentemente com esse problema, ao longo dos últimos três anos, temos ainda que aguardar o real impacto das medidas de reindustrialização e retomada econômica propostas pelo novo governo”, ponderou.

Em sintonia, o presidente da Aficam (Associação dos Fabricantes de Insumos e Componentes do Amazonas), Roberto Moreno, também avalia que ainda é cedo demais para falar sobre o assunto. “Ainda estamos colhendo os frutos de um ano de recuperação, que foi 2022. Tivemos impactos de logística e conflitos internacionais, aliados às alterações que estão ocorrendo no cenário nacional. continuo achando ser cedo para prognósticos. Saberemos se isso ocorrerá, a partir do momento que venha a ocorrer, com a diminuição dos pedidos, que mostrarão impactos na produção, cortes não ocorridos com previsões. Então, se cair, será imediato, não temos como prever ainda”, arrematou.

Foco na reindustrialização

O vice-presidente da Fieam, Nelson Azevedo, diz que “concorda plenamente” que os dados apontados configuram precedentes aos riscos de desabastecimento maior na cadeia asiática de suprimentos. Mas, o dirigente, que também preside o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus, lembra que há uma maior movimentação Ocidental, sob a liderança dos EUA, para estimular a fabricação de partes e peças em outros quadrantes do planeta.

“Esta é a boa notícia, mas é preocupante que isso não ocorre da noite para o dia. Entretanto, tomando como um propósito efetivo do novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e vice-presidente da República, Geraldo alckmin, o Polo já está inserido na lista dos estabelecimentos fabris envolvidos no processo de reindustrialização”, afiançou o dirigente, que é um grande defensor do maior adensamento da cadeia produtiva do PIM e de políticas industriais que garantam o retorno de atividades e etapas do setor que haviam migrado para outros países. 

Nelson Azevedo ressalva que focar na horizontalização da indústria não significa abandonar a produção de commodities do agronegócio, atividade na qual o país é destaque internacional. “Muito pelo contrário. A capacidade industrial instalada do Brasil em geral e da indústria local precisa ser colocada à disposição da agroindústria, uma das preocupações recentes da Suframa. Como empresário, e atuante nas entidades de classe, vejo com bons olhos a movimentação para desenharmos com rigor e brevidade o perfil de nossa capacidade industrial e as possibilidades e necessidades de sua expansão”, asseverou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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