Candidato a prefeito de Manaus nas próximas eleições pelo PCdoB, Marcelo Amil promete quebrar paradigmas e usar com mais eficiência, maior responsabilidade, os mais de R$ 6 bilhões do orçamento anual da prefeitura da capital.
Ele diz ser uma prova viva de que só promovendo oportunidades pode-se mudar a vida das pessoas. E lembra de quando vendia balas de mangarataia no Colégio Milburges, na Raiz, onde estudou, para ajudar no sustento da família.
“Era lá que conseguia ganhar o dinheiro para comprar o pão”, conta. “Minha avó me esperava voltar com muita ansiedade”, acrescenta o candidato. A ela atribui o grande incentivo para cursar o ensino superior e tornar-se, mais tarde, advogado, profissão que abraçou.
“Fui um menino pobre e, se cheguei aonde cheguei, é porque tive e aproveitei as oportunidades ao longo de minha trajetória de vida até aqui”, ressalta. “E medidas que possibilitem o crescimento para todos, sem distinção, serão prioridades em meu governo”, explica.
Agora, Amil diz que põe em prática o seu maior desafio – chegar à prefeitura de Manaus, para a qual tem projetos que prometem transformar a vida econômica e social com o emprego do próprio conhecimento desenvolvido nas universidades e institutos de ensino no Amazonas.
Amil ressalta que a esquerda não está fragmentada, como muitos especulam. Ao contrário, avalia que ela agora está mais fortalecida. Para ele, a direita (com muito mais candidatos) demonstra estar dividida. “O PCdoB é um partido orgânico, onde todos defendem os mesmos interesses”, afirma.
Ele aposta numa possível vitória com base em pesquisas que apontam um ligeiro distanciamento do eleitorado da extrema-direita no Estado. “Até pouco tempo, a diferença era de 64,2%. E hoje se igualou, em 50% a 50%”, diz.
O candidato falou exclusivamente ao Jornal do Commercio.
Jornal do Commercio – Como avalia o desafio de disputar a prefeitura de Manaus nas próximas eleições municipais?
Marcelo Amil – Como muito alegria, muita motivação. Sou prova viva de que as oportunidades mudam a vida das pessoas, pois venho de uma infância pobre, de muitas dificuldades. Vendia balas de mangarataia na escola Milburges Araújo, na Raiz, para conseguir dinheiro e comprar pão.
Minha avó sempre me incentivou a estudar. E lutei corajosamente para chegar até aqui. Estudei com afinco. Queria uma vida melhor. Agora, quero proporcionar essas mesmas oportunidades a toda a população de Manaus, sem distinção.
JC– São 11 candidatos a prefeito em Manaus, mas percebe-se que a esquerda reuniu muito pouco em termos de movimento para formar uma chapa puro-sangue nestas eleições. A que atribui essas dificuldades?
Marcelo Amil – Eu posso falar isso com propriedade. Fui um dos maiores incentivadores para tentar mobilizar uma frente ampla de esquerda. Se formos analisar a questão de uma forma macro, é a direita que está dividida com muito mais candidatos disputando a prefeitura. Tem oito chapas concorrendo. E nós apenas três.
Claro, há divergências micro. Entendemos que o processo eleitoral tem especificidades próprias, que infelizmente não foram vencidas. Mas tenho certeza que, num possível segundo turno, esses partidos de esquerda e outros mais ao centro irão apoiar a candidatura do Marcelo Amil.
JC – A legislação eleitoral mudou. Agora, não são mais permitidas as coligações proporcionais. Pode-se atribuir a fragmentação nos partidos a essas novas regras, tanto na esquerda como na direita?
Marcelo Amil – Acho que foi positivo. Com a proibição de coligações proporcionais, pode-se enxergar os partidos que realmente trabalham, têm uma trajetória de vida, uma história política. O PCdoB é um partido orgânico onde todos defendem os mesmos interesses.
Chegamos a ter 73 candidatos, mas só 62 vão concorrer. Quando foi preciso fazer cortes, foi doloroso, mas todos aceitaram, unindo-se por uma mesma causa. Somos um partido que não participa das eleições só durante o pleito. A lei favoreceu os partidos de vida orgânica de verdade.
JC– Quais são suas grandes prioridades para Manaus?
Marcelo Amil – Mudar os paradigmas. Não temos nada contra quem nasceu com oportunidades e berço de ouro. Manaus sempre foi administrada olhando-se de cima para baixo, da Ponta Negra para o São José, do Vieralves para a Raiz.
Nós queremos mudar isso. Eu não consigo conceber que haja uma discussão efetiva sobre transporte público com quem nunca andou de ônibus.
Então, eu brinco sempre. Vamos soltar os 11 candidatos a prefeito e dar R$ 3,80 para cada um pegar um ônibus em São Lázaro para ver se eles sabem como chegar à Ponta Negra. Salta na Raiz e depois pega outro ônibus para chegar ao destino. É a tal baldeação.
Eu sei como chegar. Conheço de perto esses problemas. Me dê R$ 3,80 e me solte na Raiz que eu chego lá, a qualquer lugar, se for preciso. Agora, bota os outros para ver se eles, realmente, conseguem chegar (risos).
JC – Tem político que nas épocas das eleições anda até de mototáxi….
Marcelo Amil – Com todo o respeito aos outros candidatos, acho que sou o único que conhece e sentiu na pele as dificuldades enfrentadas pela população em termos de transporte público, mobilidade urbana, etc. Tem candidato que não sabe nem onde fica o Cecomiz, a bola da Suframa….
JC – Muitos que acompanham o cenário político estranharam a ausência de Vanessa Grazziotin e de Eron Bezerra na disputa. São nomes de peso e muito tradicionais do PCdoB nas eleições no Amazonas. Qual a razão deles não estarem na chapa puro-sangue do partido?
Marcelo Amil – De extrema generosidade política e também a visão que eles têm de momento. Eron e Vanessa são dois quadros fantásticos do movimento social não só do PCdoB, mas de todo o Amazonas.
Estão participando das eleições. Muitas vezes, marcamos encontro e me aconselho com eles. Eron está com 65 anos, concluiu o seu doutorado. Eu fico triste de ver gente que até hoje está fazendo o movimento secundarista, com minha idade. E chamo isso de militante Peter Pan, que se recusa a crescer, de admitir que o tempo passou.
Mas nossos camaradas não têm esse problema. Vanessa e Eron sabem do seu valor histórico para construir uma grande luta social em Manaus. E eles me enxergaram.
Fico emocionado só de lembrar de sua declaração durante a convenção do partido, quando disse que ‘estamos passando a tocha pro Marcelo Amil’. Recebi a missão com tranquilidade. Poderia ser também qualquer outra pessoa. Somos um partido orgânico e vou me esforçar muito para manter essa luta.
JC – O cenário político tem uma direita forte, amparada principalmente na figura do próprio presidente da República. Fica mais difícil essa luta tendo adversários tão poderosos, como um trabalho de ‘formiguinhas contra elefantes’?
Marcelo Amil – Acredito muito na inteligência do povo de Manaus. As pesquisas já mostram um revés – 61% dos eleitores dizem que não irão votar nos candidatos que aí estão, em ninguém. O crescimento é natural.
Eu gosto muito de uma analogia feita por um professor que diz: o Rio Amazonas começa com um filete de água no Peru, derruba florestas e enfrenta mares para chegar até aqui.
Manaus tem plena disposição para candidaturas com o perfil de candidato que o partido viu em mim. Vemos essa tendência na história política. Vanessa Grazziotin saiu, em 1990, com candidaturas jovens e de oposição, sempre prestigiadas na capital.
E Manaus continua querendo apostar numa candidatura jovem. Não sou paraquedista. Cometi erros também, mas tenho história no movimento estudantil. Tenho hoje independência, disposição para ser candidato.
Quando meu filho nasceu, parei para cuidar da minha vida, da minha família. Eu não acredito que exista independência de consciência sem independência econômica. Então, chegou o momento certo. Meu escritório está andando bem.
Consegui estabilizar minha vida. Manaus me deu tanta coisa boa. Um curumim que vendia balas de mangarataia quando estudava lá na escola Milburges de Araújo e hoje está aqui conversando como candidato à prefeitura da cidade.
Vamos mostrar que todo mundo tem condições de ter uma vida melhor com mais oportunidades. Chegou a hora de devolver um pouco de tudo que Manaus me deu.
JC – Devolver em que tipo de serviços, especialmente a que classes…..?
Marcelo Amil – A todos. Vou dar o mesmo carinho para quem votou em mim e também na extrema-direita. O prefeito de Manaus não é o dono da cidade, é o prefeito de todo mundo. E me sinto até no dever de dar uma resposta melhor, mais efetiva, para quem discordou de mim.
Eu me lembro de uma frase de Santo Agostinho – ‘Prefiro aqueles que me criticam, pois me corrigem, àqueles que me bajulam, pois me corrompem’. Então, a ideia é devolver para todo mundo esses benefícios.
Uma criança de dez anos poderá ter mais oportunidades para dar uma vida melhor a seus pais, como eu, como estou dando hoje para minha avó que me criou. Então, não há sedimentos em Manaus. Há uma cidade aonde eu nasci e quero ser enterrado. E é essa cidade que eu quero poder ajudar melhor.
JC –Manaus tem muitos problemas em termos de mobilidade, saneamento, saúde, etc. E governar é administrar prioridades. Fala-se num orçamento anual da prefeitura superior a R$ 6 bilhões. Haverá recursos suficientes para todas as demandas?
Marcelo Amil – O primeiro a fazer em Manaus é erguer a cabeça. Eu não preciso buscar uma solução pré-moldada vinda de São Paulo, como estão fazendo agora. Há pessoas extremamente qualificadas na Ufam, mas ninguém aproveita. Então, queremos mudar esse paradigma. Sabemos que o conhecimento está em Manaus, com excelentes profissionais, engenheiros, professores de estatística.
Não há ninguém tão inteligente que não possa aprender e ninguém tão inculto que não possa ensinar algo. O conhecimento está em Manaus. Não podemos ignorar isso
Não quero inventar a roda. Ela já existe, é uma excelente ferramenta. Quero encontrar maneiras inteligentes para usá-la.
Países e cidades com IDH positivo como a Noruega, Nova Zelândia, Uruguai, Barcelona, fizeram isso. Não existe Salomão, não existe Messias, não é inventar a roda. É utilizar o conhecimento que se tem.
E uma coisa que o manauara sabe fazer muito bem é usar a inteligência.
JC – Os governos de Lula e de Dilma Rousseff terminaram de forma muito negativa. Ele acabou preso e ela, sofreu impeachment. De alguma forma, isso comprometeu todos os partidos de esquerda no Brasil. Como fazer para retirar essa mácula?
Marcelo Amil – Entendo que a história é cíclica, alternando momentos de bombardeio e de estabilidade. Estou até feliz porque achei que esse ciclo de extrema-direita fosse demorar muito mais.
Juan Guaidó já despareceu na Venezuela. E Maurício Macri perdeu as eleições na Argentina. Ele foi um estadista, mas aceitou o resultado. No Uruguai, Luis Lacalle Pou foi eleito, mas recusou a presença de Jair Bolsonaro em sua posse por entender que o extremismo era nocivo.
Hoje, há cases na Europa que defendem o bem-estar social. Mesmo com o avanço da extrema-direita, tivermos um voto antiesquerdista, em 2018, de 64,2%, hoje já está em 50% a 50%, demonstrando que está arrefecendo.
Então, o momento da eleição é para discutir com a população como resolver os problemas da cidade. A discussão filosófica é linda, necessária, mas ela fica para os bancos acadêmicos.
JC –Como avalia as candidaturas de seus adversários. E, se fosse eleitor, como escolheria o seu candidato?
Marcelo Amil – Encaro com muito respeito, ainda que eu discorde de seus projetos. Alguns têm idade até para ser meu bisavô. Acho que quando eu tiver 80 anos, vou querer é estar brincando com meus netos, mas respeito a decisão de todo mundo.
Se eu fosse eleitor, escolheria o que realmente conhece os problemas de Manaus, que discutisse as demandas junto com a população. Que quisesse quebrar paradigmas, transformando a cidade para melhor.
Temos condições de criar soluções para os nossos problemas. E dar oportunidades às pessoas faz uma diferença fantástica.