24 de novembro de 2024

Oscilação segue no PIM

A indústria amazonense fechou 2022 com ritmo de produção oscilante. O faturamento despencou em dezembro e sustentou um tombo anual de dois dígitos. As horas trabalhadas também reduziram a marcha, mas encerraram no azul, enquanto a geração de empregos perdia a força. Em contraste, a capacidade instalada das fábricas e a massa salarial do setor avançaram e consolidaram alta no ano. É o que revelam os números locais dos Indicadores Industriais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), compilados em parceria com a Fieam (Federação da Indústria do Estado do Amazonas). 

Em sintonia com um fim de ano mergulhado em incertezas internas e geopolítica global instável, o faturamento real da manufatura do Amazonas desabou 39,9% na variação mensal, eliminando os ganhos de novembro (+1,8%) e outubro (+22,5%). Foi o sexto resultado negativo alternado ao longo do ano, nesse tipo de comparação. O balanço negativo se estendeu à comparação com o mesmo mês de 2022 (-39,8%) e ao acumulado dos 12 meses do ano (-13,3%). A média nacional caiu apenas 0,4% no mês, e também superou o Estado nas demais comparações (+5,2% e +2,8%). 

As horas trabalhadas nas linhas de produção locais seguiram na mesma direção e reduziram ainda mais o ritmo, ao retroceder 16%, reforçando a queda de novembro (-2,7%). O subindicador também retrocedeu durante a metade de  2022, em meses alternados. O confronto com a marca de igual intervalo do exercício anterior, também confirmou recuo (-5,9%), embora não em volume insuficiente para evitar que o acumulado do ano (+8,3%) fechasse no azul. Em todo o país, o setor subiu 0,6% na variação mensal, mas não foi muito além disso no mês (+0,4%) e no ano (+2,7%). 

Em contrapartida, a UCI (utilização da capacidade instalada) mostrou dados melhores. O percentual de máquinas em produção saltou de 71,4% para 77,7%, em relação a novembro, configurando uma diferença de 6,3 pontos percentuais (ou +8,82%). Já o confronto com dezembro de 2021 (75,9% de uso) segurou elevação de 1,8 p.p. (+2,37%). Em 12 meses, a indústria do Amazonas usou, em média, 79,13% de sua capacidade e expandiu 2,6 p.p. (+3,40%) ante 2021 (76,53% de uso). O indicador nacional (80,3% de uso) foi na direção inversa e desacelerou 0,6 p.p. (-0,75%) ante o mês anterior, além de encolher 1,7 p.p. (-2,10%) frente a dezembro de 2021.

Empregos e salários

Os dados relativos à mão de obra da indústria do Amazonas, por sua vez, voltaram a indicar desempenhos contraditórios. A média do saldo de contratações no parque fabril do Estado encolheu 1,3%, na comparação com novembro, ampliando a queda do levantamento anterior (-3,4%). A queda se manteve no confronto com dezembro de 2021 (-3,7%), o que não evitou o crescimento do acumulado de 2022 (+4,7%). Os respectivos números brasileiros (+0,1%, +0,7% e +1,5%) só não foram piores no saldo anual.

Outros levantamentos já haviam confirmado que as contratações vinham perdendo força na indústria do Amazonas, embora tenham mantido volume acima das demissões. Segundo o ‘Novo Caged’, o setor quebrou uma sequência de sete meses de saldos positivos, em dezembro, ao limar 1.259 empregos de carteira assinada e retroceder 1,04% ante o estoque anterior. As demissões foram puxadas pela indústria de transformação (-1.278), especialmente nas linhas de produção de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-652). O saldo do acumulado, entretanto, se manteve positivo em 4.888 vagas celetistas (+4,25%).

Resultado inverso pode ser percebido na massa salarial real da manufatura amazonense, conforme os Indicadores Industriais da CNI.  A soma dos vencimentos dos trabalhadores decolou 23,7%, em intensidade mais que suficiente para suplantar a perda do levantamento anterior (+1,5%). Também houve crescimento na escala de dois dígitos na comparação com o patamar de 12 meses atrás (+10,6%), ajudando a consolidar expansão de 25,3% no fechamento do aglutinado do ano. Com isso, o Amazonas bateu a média brasileira (+0,3%, +5,6% e +3,7%) em todas as comparações.

“Perspectiva de estabilidade”

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNI, a economista da entidade empresarial, Larissa Nocko, assinalou que os principais fatores que contribuíram para a melhora dos indicadores em âmbito nacional foram a reorganização das cadeias de suprimentos, a desaceleração inflacionária e a atividade econômica mais aquecida, com reflexo no mercado de trabalho.

“O encerramento do ano de 2022 traz resultados positivos para a indústria de transformação brasileira. Mas, não são resultados a serem comemorados, tendo em vista que em alguns casos apenas recuperam perdas sofridas em 2021 e estão associados a uma perspectiva de estabilidade para a produção industrial do ano”, ponderou.

Juros e insumos

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam, e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, já havia destacado que os dados refletem questões sazonais, dificuldades advindas do período de instabilidade econômica e política e problemas conjunturais da indústria. Também reiterou que o desempenho da indústria ainda sofre reflexos da falta de insumos em nível global e os impactos da “elevada taxa de juros”. No entendimento do dirigente, esses seriam os fatores preponderantes para explicar as “flutuações” de desempenho mês a mês. 

Vale notar que os números da CNI contrastam com os levantamentos da Suframa e do IBGE, que mostraram desempenho comparativamente melhor para o setor, no período. Em nova entrevista à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam destacou que, uma vez que a dinâmica econômica local é “altamente dependente” da indústria, “qualquer variável tem reflexo potencializado”. Antonio Silva acrescentou, por outro lado, que os Indicadores da CNI são uma amostragem menor do Polo Industrial de Manaus, e por isso pode não representar necessariamente os números globais do setor local. 

“Assim, alguns dos setores ponderados impactaram negativamente o faturamento global apresentado. É importante ressalvar também que, historicamente, os dados de dezembro denotam retração em decorrência do recesso de fim de ano, período no qual as indústrias concedem férias coletivas e reduzem suas produções. Na apreciação do comparativo dos índices acumulados nos anos de 2021 e 2022, todavia, observa-se que [com exceção do faturamento] quase todos os indicadores apresentam variação positiva”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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