30 de novembro de 2024

Otimismo renovado no varejo com Dia das Mães

Diferente do ocorrido na Páscoa, as vendas do Dia das Mães apresentaram crescimento acima do esperado pelo varejo local. De acordo com a CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus), a alta foi de 4,2% sobre os resultados obtidos na mesma data comemorativa de 2021 –período em que o setor ainda estava em processo de retorno gradual das atividades, por conta da segunda onda de Covid-19. Com isso, a receita bruta superou os R$ 153 milhões. A expectativa da entidade, mostrada em pesquisa divulgada à imprensa, era avançar 4% e faturar R$ 3 milhões a menos.

O ticket médio também não decepcionou. O levantamento mostrava o predomínio das faixas de compras de R$ 101 a R$ 200 (37,40%), entre R$ 51 e R$ 100 (33%) e até R$ 50 (18,10%). ⁰   A corrosão inflacionária nos orçamentos domésticos contribuiu para a preferência por itens de menor valor agregado, no lugar dos tradicionais eletrodomésticos das linhas branca e marrom.

Diferente do previsto, vestuário e calçados –que haviam pontuado 34,40% e 24,60% das intenções de compra na capital, respectivamente –saíram na frente em termos de volumes de vendas, superando o favoritismo de perfumaria e cosméticos, que aparecia com 41,50% das escolhas. Almoço/jantar vieram na sequência, assim como bolsas e acessórios, joias/relógios, cama, mesa e banho, eletrodomésticos e flores. Celulares, eletroeletrônicos e viagens ficaram no rodapé, assim como produtos esportivos.

O consumidor de Manaus confirmou que os locais de compras preferenciais continuam sendo os shopping centers, que já apareciam respondendo por 37,40% das escolhas. O Centro (31,80%) e os comércios de bairros (6,70%) vieram nas posições seguintes. A realidade contradisse as projeções nas formas de pagamento. A expectativa era que as compras à vista –dinheiro (41%) e cartão de débito (27,20%) –somassem maioria. Mas o cartão de crédito parcelado, que aparecia com 37,40% dos votos dos entrevistados, voltou a predominar, sendo seguido pelo cartão de crédito à vista (8,20%) e pelo Pix (22,60%).

Pandemia e chuva

O presidente da CDL-Manaus, Ralph Assayag, reforçou que o diferencial do Dia das Mães deste ano, quando comparado ao de 2021 é o impacto positivo do arrefecimento da pandemia no funcionamento e capacidade de venda dos estabelecimentos, e também na confiança dos consumidores. De acordo com o dirigente, os resultados só não foram melhores por causa das chuvas, o que ajudou a reforçar a primazia dos centros de compras da capital, como opção dos retardatários que deixaram para adquirir o presente na reta final da data comemorativa. 

“O motivo do crescimento é a maior segurança quanto ao emprego e o aumento de ofertas de vagas no mercado de trabalho. E há também a vontade de fazer confraternizações, já que no ano passado tudo foi muito mais difícil, e havia muito mais restrições. Tanto é que os restaurantes estavam lotados. Mas, choveu na tarde da sexta (6) que antecedeu o Dia das Mães, e isso atrapalhou as vendas do comércio do Centro e dos bairros”, frisou, acrescentando que as chuvas podem gerar retrações de até 50% no fluxo das lojas de rua. 

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o dirigente destacou o pagamento do 13º do funcionalismo público do Estado e dos aposentados e pensionistas do INSS como fatores adicionais de aquecimento. Assayag explicou que, em virtude da proximidade do Dia das Mães com a Páscoa, a maior parte do comércio resolveu aproveitar o contingente de 300 novos funcionários anteriormente admitidos em abril. Mas, lembrou que não houve uma única contratação para ambas as datas comemorativas, em 2021.

Questionado sobre a possibilidade de o resultado do Dia das Mães ser um termômetro para os próximos meses, o presidente da CDL-Manaus preferiu não responder. Em conversa anterior com a reportagem, Assayag já havia apontado que o panorama segue volátil demais para projeções. “Tudo pode acontecer. Acabou de subir o valor do diesel e vai aumentar muito o nosso frete, atingindo violentamente o bolso de todo mundo. E ainda tem a situação do IPI, que não se sabe onde vai chegar. O impacto é muito forte e tem muito ataque na economia, em uma situação que muda da noite para o dia. Prefiro ficar atento, tentando trabalhar o dia a dia, até o fim de cada mês”, desabafou. 

“Compras comedidas”

Antes do Dia das Mães, e confrontado com os dados das pesquisas preliminares para as compras, o presidente da assembleia geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, já havia cravado que 2022 seria um ano de “consumo moderado”. O dirigente avalia que o balanço confirma que o consumidor está contendo o ímpeto nas aquisições no comércio, para conseguir continuar comprando nos próximos meses. E acrescenta que o mix de produtos escolhidos neste ano levou em conta não apenas fatores econômicos, mas também mudanças culturais.

“Creio que a própria inflação contribuiu para compras mais comedidas e para evitar o endividamento. Mas, o resultado ainda ficou dentro das expectativas. Os setores de vestuário e calçados estavam dentro das previsões. Perfumaria e maquiagem surpreenderam, ao ficarem à margem. E o dia das mães já não prioriza linha branca, até porque o que se quer é presentear individualmente a homenageada da vez, até para que ela se sinta mais querida”, ponderou. 

“Abaixo da inflação”

Lojas que atuam com produtos mais caros apostaram menos neste Dia das Mães. Uma delas é a Foto Nascimento, empresa que já conta com 65 anos de atuação e 12 lojas, situadas em ruas e shoppings de Manaus. Em entrevista concedida antes da data comemorativa, o sócio diretor do grupo, Antonio Kizem Rodrigues, informou que a alta aguardada para o faturamento era de 10%, um patamar “abaixo da inflação”. O dirigente conta que não abriu contratações para a data, dado que o subsetor em que atua não trabalha dessa forma na sazonalidade. Mas, lembra que a abertura da 12ª loja, em novembro de 2021, gerou mais dez empregos no grupo.

Indagado sobre promoções, Kizem ressaltou que a empresa sempre procura oportunidades de preços com fornecedores e trabalha “de forma transparente com os clientes”. O empresário lembrou que o consumidor costuma deixar para a última hora e disse aguardar surpresas no fim de semana, por conta do pagamento do 13º. Mas, não deixou de lembrar que a piora na conjuntura econômica trouxe dificuldades para as lojas de eletrônicos.

“Nestes dois últimos anos, os clientes investiram em celulares e notebooks para o trabalho em casa. Com a inflação e juros nas alturas, estão adiando essas compras. Além disso, começaram a gastar dinheiro em shows e voltaram a restaurantes, que é um movimento normal. Há também o alto índice de inadimplência”, listou. “Tivemos um janeiro fraco, um fevereiro muito bom, e março e abril mornos. Mas, mesmo assim, conseguimos resultados positivos a duras penas”, concluiu. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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