19 de setembro de 2024

Otimismo segue em alta, apesar do cancelamento do Carnaval

O otimismo dos comerciantes de Manaus melhorou em fevereiro, apesar do cancelamento do Carnaval, mas já em meio à redução gradativa de registros de Covid-19 em âmbito local. Foi um resultado acima da média nacional. A melhora, no entanto, não se estendeu às expectativas em relação à economia e às intenções de contratar. Juros, inflação e câmbio, assim como a maior intensidade das chuvas ajudam a explicar, por outro lado, uma queda significativa no otimismo ante o mesmo período do ano passado –quando a cidade ainda atravessava a segunda onda de Covid-19. 

É o que revelam os dados locais do Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) com 6.000 empresas no país –sendo 164 em Manaus. O indicador registrou 122,2 pontos na capital amazonense, sendo que pontuações acima de 100 ainda indicam satisfação. Foi uma marca melhor do que a de janeiro (121,8 pontos), mas ainda ficou muito abaixo do dado de 12 meses atrás (131,5 pontos). Já a média brasileira (119,3 pontos) recuou 1,2% em relação ao mês anterior –mas foi 14,22% melhor na variação anual.

A boa notícia é que, na comparação com janeiro, o comerciante de Manaus ficou mais otimista em relação ao nível de investimentos em seu negócio (+2,7%), condições atuais da economia (+2,5%), do comércio (+0,9%) e da empresa (+0,2%), assim como em relação à situação dos estoques (+1,6%). Houve piora, contudo, em relação às expectativas na economia (-0,7%) e na empresa (-0,1%), em que pese o relativo otimismo quanto ao setor (+0,2%). E o indicador de contratações teve o maior recuo da lista (-2,1%). Em relação ao ano anterior, contudo, houve melhora apenas na intenção de investir (+4,1%).

Contratações e investimentos

A maioria dos empresários do varejo manauense (40,8%) considera que a situação atual da economia brasileira “melhorou um pouco” –contra os 38,5% anteriores. Foram seguidos pelos que dizem que “piorou um pouco” (29,2%), que “piorou muito” (27,8%) e que “melhorou muito” (2,2%). A avaliação majoritária sobre o setor e a empresa também é de melhora relativa (50,6% e 55%, respectivamente). Em ambos os casos, e também nos demais subíndices, a percepção é melhor nas empresas com mais de 50 empregados e que vendem semiduráveis. 

Apesar da queda, os índices ainda são mais favoráveis nas expectativas. Ao menos 53,8% dizem que a economia vai “melhorar um pouco”, enquanto 33,6% arriscam apostar que vai “melhorar muito”. As avaliações que pesam mais para o setor e para a empresa também são predominantes nas perspectivas de melhoras parciais (52,3% e 52,6%, respectivamente) e mais significativas (40,5% e 42,4%). 

Mesmo com a piora no indicador de emprego, a maioria dos comerciantes locais ainda aponta que as contratações devem “aumentar pouco” (58,3%), seguida de longe pelos que avaliam que pode “reduzir pouco” (28,1%). A projeção majoritária para investimentos ainda é de melhora relativa (40,8%), embora 33,9% digam que o aporte será “um pouco menor”. No que se refere aos estoques, 72,8% dos empresários consideram que está “adequado”, 17,8% indicam que está acima dessa marca, e outros 7,9%, que está abaixo. 

“Ano atípico”

O presidente em exercício da Fecomércio AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, avalia que o derretimento anual na confiança do comerciante de Manaus ainda se deve à resiliência dos entraves econômicos surgidos no “atípico” ano de 2021. A pandemia também está no rol de preocupações, dados os efeitos das políticas de isolamento social e o surgimento da variante ômicron em âmbito local. 

“Tivemos uma série de fatores que mexeram na economia, desde o aumento internacional do preço do petróleo à escalada do dólar, passando pelas altas dos preços das commodities, dos juros bancários e dos fretes. Tudo isso interferiu na economia e dificulta a recuperação do comércio. E os empresários estão sempre muito preocupados pelas marcas deixadas na primeira e segunda ondas, quando o setor foi fechado de Norte a Sul do país”, salientou. 

O dirigente minimiza os efeitos do cancelamento do Carnaval para o setor, dado que a data comemorativa impacta quase que exclusivamente nos segmentos de alimentos e bebidas. Aderson Frota concorda que a redução das estatísticas da Covid-19 é uma boa notícia e estima que, a despeito de ainda apresentar espaço para alguma piora, a tendência é positiva para o comércio, nos próximos meses –especialmente a partir de maio, mês do Dia das Mães. “Não obstante as quedas ocorridas por conta dos problemas vividos ainda em 2021, estamos com expectativa de que vamos superar isso e conseguir números positivos de recuperação”, amenizou. 

Efeito inflação 

Em texto da assessoria de imprensa da CNC, o economista responsável pela pesquisa, Antonio Everton, destaca que as condições presentes da economia impõem aos empresários momentos complicados para a gestão e condução do negócio. “A percepção de que as coisas ficaram mais difíceis refletiu-se na diminuição de 2,4% do subindicador Economia do Índice das Condições Atuais do Empresário do Comércio, tendo como pano de fundo, portanto, uma conjuntura mais dura a ser enfrentada”, pontuou.

O economista avalia que, por essa razão, 54,2% dos empresários pesquisados reconheceram que as condições econômicas se deterioraram, superando os otimistas (45,8%). “Nessas condições, as estimativas hoje são de baixo volume de faturamento do varejo em 2022. Por outro lado, há perspectivas de arrefecimento da inflação, à medida que a política monetária vem gerando efeitos desejados na economia. Em particular, sobre a atuação do comércio e a formação dos preços ao consumidor”, analisou.

No mesmo texto, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, observa que o índice oscilou nos últimos 12 meses, mas avalia que vem se recuperando, em função da melhora das condições da economia, relacionada ao avanço da vacinação. Segundo o dirigente, a inflação ajuda a explicar o relativo desânimo dos comerciantes em fevereiro. “Os resultados refletem as condições operacionais que envolvem as atividades comerciais. Com a energia elétrica e os combustíveis mais caros, os preços no atacado pressionando a formação de preços ao consumidor, os juros ascendentes e o consumo ainda morno, o empresariado demonstra receio”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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