Em paralelo com a menor incidência de casos e mortes de covid-19, a maior parte das 57.692 empresas em funcionamento na região Norte durante a segunda quinzena de junho relatou que o impacto da pandemia não foi significativo (27,4%) ou que até registrou efeitos positivos (24,5%). E sete em cada dez conseguiram evitar demissões. Em contrapartida, 48,1% confirmam que saíram perdendo mesmo, enquanto 19,6% tiveram de reduzir quadros.
Os dados estão na segunda rodada da pesquisa Pulso Empresa, que faz parte das estatísticas experimentais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Diferente da primeira rodada, a nova sondagem levou em conta as percepções subjetivas apenas das empresas não financeiras em funcionamento – e não de todas, como na anterior.
Na análise dos efeitos em todo o país, a região Norte, por sinal, foi a que menos sofreu efeitos adversos da crise da covid-19, na segunda quinzena de junho, em comparação com a primeira. Na outra ponta, o Nordeste (72,1%) concentrou a maior proporção de perdas entre as empresas, em razão do novo coronavírus. Foi seguido por Sudeste (65%), Centro-Oeste (62,9%) e Sul (53,9%).
O impacto comparativamente menor não minimiza os dados da crise da covid-19 nos Estados do Norte do Brasil. Especialmente em termos de vendas, já que pelo menos 38,3% das empresas relatam ter sido prejudicadas nesse sentido, na segunda quinzena do mês. O impacto foi pequeno ou inexistente para 30,1% delas e até houve aumento de vendas para outras 31,0%.
A boa notícia é que 69,8% das empresas da região Norte (69,8%), por outro lado, reportaram não ter havido mudança no quadro de funcionários ao final da segunda quinzena de junho, em relação à quinzena anterior. Mas 19,6% (11.308 empresas) informaram que foram forçadas a promover demissões. A maioria das companhias que tiveram de promover cortes (65,1%), entretanto, informaram que a faixa de redução foi inferior a 25%.
Fornecedores e pagamentos
O dano foi muito maior no que se refere a fabricação ou capacidade de atendimento à clientela, segundo relatos de 47,5% das pessoas jurídicas ouvidas pelo IBGE na região Norte. Em contraste, 35,7% confirmam que não houve alteração significativa nesses quesitos, enquanto uma minoria de 16,8% mencionou que até teve facilidade nas operações citadas.
Também foi bem superior a parcela de companhias (55,3%) que reportaram ter havido dificuldade em relação ao acesso aos fornecedores de insumos, matérias-primas ou mercadorias – fator que já impunha dificuldades aos empresários da região no período pré-pandemia, por força dos entraves logísticos. Em torno de 35,8% dizem ter sofrido pouco ou nenhum efeito e 8% garantem que, a despeito do que indicavam as expectativas, foi até mais fácil.
A capacidade de realizar pagamentos de rotina durante a segunda quinzena de junho ainda é uma dificuldade relatada por 46,2% das empresas da região norte, embora 47,4% tenham informado ao IBGE que, a despeito da pandemia e das mudanças impostas por ela, não enfrentaram obstáculos para realizar a operação.
Medidas e apoio
Entre as medidas de reação adotadas para enfrentar a pandemia, a maior parte das empresas da região Norte (93,9%) realizou campanhas de informação e prevenção e adotou medidas extras de higiene. Adoção de trabalho remoto para os funcionários (49,6%), antecipação de férias (24,9%), postergação do pagamento de impostos (42,2%) e alteração dos métodos e/ou adoção de serviços online (47,3%) também estão na lista.
Ao optarem pela implementação dessas ações, 36,4% das empresas da região Norte confirmaram ao IBGE que sentiram-se apoiadas pela autoridade governamental. Entre as que adiaram o pagamento de impostos, esse percentual foi de 58,5% e entre as que conseguiram linhas de crédito para o pagamento da folha salarial, 96%.
Cadeia e cronologia
Em sua análise para o Jornal do Commercio, o geógrafo e supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, confirma que, desde a primeira quinzena de junho, as empresas instaladas no Norte do Brasil têm sido proporcionalmente as menos afetada pela pandemia. O pesquisador ressalva que isso não significa que os impactos não tenham sido significativos, já que praticamente metade confirmou efeitos negativos pela ocorrência generalizada do coronavírus.
“No mesmo sentido as vendas de produtos serviços voltaram a ser impactadas na segunda metade de junho, dando conta de que ainda havia muitas restrições para alavancar as vendas. As indústrias sofreram mais, uma vez que sua cadeia de produção e vendas é maior que a do comércio. Algo interessante foi a dificuldade das empresas do Norte acessassem seus fornecedores. A região registrou o segundo maior percentual do país, nesse caso. E quase 20% delas reduziu funcionários”, listou.
Indagado sobre o porquê do descolamento nortista em face do panorama nacional e se este estaria ligado a diferenciais de modelos de negócio, ou mesmo de técnicas de gestão, o pesquisador considerou que a cronologia da crise, entre outros fatores, foi determinante para tanto. “Talvez a forma como foi o enfrentamento da pandemia por parte das empresas, além do fato de que a região foi a primeira a ser impactada. Portando, em junho, muitas já estavam retornando a suas atividades, ou se preparando para tal”, finalizou.