A pendenga envolvendo o ex-superintendente da PF (Polícia Federal) Alexandre Saraiva no Amazonas e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, repercute no Congresso e entre os países que se preocupam com a preservação da rica biodiversidade da Amazônia, entre eles a Noruega e outros da Comunidade Europeia.
Alexandre Saraiva foi demitido do cargo depois de apresentar uma queixa-crime no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o ministro e o senador Telmário Mota (Pros-RR) que, segundo ele, lideram um ‘esquema criminoso’ de extração ilegal de madeira.
Segundo Saraiva, há fortes indícios sobre a participação de Salles e Mota em benefício de madeireiros ilegais na Amazônia, facilitando a grilagem de terras na região Norte do país.
O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), e o deputado federal José Ricardo Wendling (PT-AM), classificaram como ‘absurda’ a demissão de Saraiva, que foi substituído pelo delegado Leandro Almada, segundo confirmou a direção geral da PF.
“É preciso uma ação enérgica do governo federal. O resultado da política de Ricardo Salles se reflete nos maiores indicadores de desmatamentos desde 2012. Espero que o Planalto não deixe para agir quando o mundo começar a impor barreiras comerciais aos produtos brasileiros com a catástrofe instalada”, disse Marcelo Ramos.
Para o deputado José Ricardo Wendling, a demissão do delegado Alexandre Saraiva da superintendência da PF no Amazonas enfraquece os órgãos de fiscalização.
“É a cara do governo Bolsonaro. Quando os interesses de grandes políticos e corporações e até do governo são contrariados, acaba sendo demitido”, avalia. “Isso afeta inclusive as relações com países que sempre colocaram recursos a fundo perdido para ajudar várias áreas ligadas à preservação e qualidade de vida das populações tradicionais”, acrescenta o parlamentar.
Segundo a Operação Handroanthus, 200 mil metros cúbicos de madeiras em toras foram retirados por associações criminosas que atuam na região.
De acordo com as investigações, o ex-superintendente aparece como “alvo a ser abatido” em troca de mensagens entre madeireiros. As informações mostram que os investigados já queriam a troca de Saraiva na superintendência da PF no Amazonas.
Na quinta (15), oito líderes de partidos de oposição na Câmara dos Deputados enviaram uma representação ao MPF (Ministério Público Federal) pedindo para que a retirada de Saraiva seja investigada.
Blindagem
A ideia é apurar se a troca de comando se deu para blindar o ministro do Meio Ambiente das investigações. A ministra Cármem Lúcia, do STF, foi sorteada para relatar a notícia-crime contra Ricardo Salles.
Assinado pelo próprio Alexandre Saraiva, o recurso pede que seja apurada obstrução de investigação criminal, apontando que o ministro atuou para auxiliar alvos de uma operação de extração ilegal de madeira.
De acordo com o delegado, Salles fez diligências e até tentou efetuar perícias para buscar isentar os desmatadores das acusações. Entre os protegidos pelo ministro estaria um desmatador com mais de 20 infrações ambientais na ficha.
O documento diz que Salles, “no âmbito da Operação Handroanthus, mesmo amparado por farta investigação conduzida pela Polícia Federal, isto é, órgão de segurança pública vocacionada a produzir investigações imparciais —, resolveu adotar posição totalmente oposta, qual seja, de apoiar os alvos, incluindo, dentre eles, pessoa jurídica com 20 (vinte) Autos de Infração Ambiental registrados, cujos valores das multas resultam em aproximadamente R$ 8.372.082,00”.
Em março deste ano, o ministro inclusive chegou a visitar a região e se reunir com os madeireiros para tratar do tema, e fez postagens em redes sociais defendendo que seja dada solução célere ao caso.
Para Saraiva, Salles e Telmário tiveram uma parceria com o setor madeireiro “no intento de causar obstáculos à investigação de crimes ambientais e de buscar patrocínio de interesses privados e ilegítimos perante a Administração Pública”.
Em nota, o senador Telmário Mota acusou o delegado Alexandre Saraiva de “buscar holofotes” com a notícia-crime, dizendo que ela é “sem fundamento e elaborada apenas para ganhar espaço na mídia e nas redes sociais”.
Até o fechamento desta edição, o ministro Ricardo Salles não havia se manifestado sobre as denúncias do ex-superintendente da PF no Amazonas.
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