23 de novembro de 2024

Páscoa mostra resultado surpreendente no Amazonas

A tradição pesou mais do que a falta de dinheiro na Páscoa deste ano, que rendeu vendas acima das aguardadas para um período ainda marcado pelos traumas da segunda onda, a desconfiança do consumidor, o desemprego e as restrições ao comércio. Há dúvidas, entretanto, se o desempenho das vendas acima do esperado pode sinalizar uma melhora para o setor, que ainda tem a sua frente o Dia das Mães – ‘o segundo Natal do ano’ –, mas teme uma terceira onda e uma nova rodada de restrições. 

A projeção inicial dos lojistas era que o incremento de vendas para a Páscoa ficasse em 3% (o equivalente a R$ 30 milhões), de acordo com a CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus). Mas, os resultados superaram as expectativas e alcançaram apontaram para um acréscimo de 4,2% a 4,3%. A base de comparação, no entanto, foi o desempenho da data comemorativa de dois anos atrás. 

“Fizemos a comparação muito em cima de 2019. Seria muito difícil fazermos o mesmo com 2020, porque o comércio estava todo fechado [em virtude da primeira onda da pandemia, que manteve apenas supermercados]. No ano passado, compramos a mesma quantidade de produtos, mas vendemos 30% a menos. Sobrou ovo e tivemos de fazer uma série de coisas com eles”, lembrou o presidente da CDL-Manaus, Ralph Assayag.

O dirigente informa que o comércio local comprou 28 toneladas de chocolate, ainda em novembro de 2020, e ressalta que o desempenho deu mais confiança aos lojistas para apostarem mais na data, a partir de 2022. “Vendemos praticamente tudo e os ovos caseiros também foram bem vendidos. Teve uma variedade muito grande produtos e todos gostaram. Acreditamos que, no próximo ano, se não tiver covid-19, podemos comprar um pouco mais, já que os números ultrapassaram o que projetamos. Vendeu bastante também no segmento de bebidas e pescado”, comemorou.

Pesquisa de intenção de consumo para a Páscoa, realizada pela CDL-Manaus, realizada, com 540 consumidores da capital, entre 20 e 22 de março, já motivava algum otimismo. A sondagem apontava que 91,10% dos manauenses pretendiam dar presentes, durante a data comemorativa – especialmente “ovos de páscoa industrializados” (68,9%). Foi um percentual bem superior ao capturado por pesquisa similar conduzida pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) em todo o território nacional, que contabilizou apenas 64% de brasileiros dispostos a fazer o mesmo – e que também projetava uma retração 10,5 milhões de consumidores, ante 2019.

Ticket e locais

O ticket médio da Páscoa deste ano, por outro lado, ficou entre R$ 70 e R$ 90, em âmbito local. Foi um resultado melhor do que o projetado pelo levantamento da CDL-Manaus, que havia apontado preferências majoritárias para as compras de até R$ 50 (44,40%), em detrimento de valores de R$ 51 a R$ 100 (31,10%) e, principalmente, em comparação às faixas de R$ 101 a R$ 200 (15,60%) e entre R$ 201 e R$ 400 (4,40%).   

Os locais de compras preferidos foram, na ordem, os supermercados, shoppings centers e lojas de bairro. O comportamento do consumidor manauense seguiu a tendência esboçada no estudo da entidade que também ranqueou supermercados e hipermercados (40%) em primeiro lugar, seguidos por centros de compra (28,9%), confeitarias artesanais/autônomos (20%), comércios de bairro (4,4%), outros (4%) e Centro (2,2%).

O mesmo estudo da CDL-Manaus, contudo, também informava que, apesar da intenção de compra maciça, o consumidor da capital amazonense não deixou de priorizar o preço (75,60%) à qualidade dos produtos (55,60%), localização (33,30%), comodidade (31,10%), marca, facilidade de pagamento (ambos com 26,70%), diversidade de produtos (22,20%), ou mesmo promoções/descontos (35,60%) e frete grátis (6,70%). “As vendas foram feitas principalmente por cartão de crédito, até porque as pessoas tinham acabado de receber”, acrescentou. 

Terceira onda

Ralph Assayag destacou que março foi um mês “bastante duro” para o varejo, em virtude da necessidade de adaptações dos lojistas aos horários estabelecidos pelos decretos governamentais. Conforme o dirigente, as chuvas, a queda do movimento no Centro e a redução do horário de funcionamento dos shoppings, assim como falta de dinheiro na praça, acabaram contribuindo para um desempenho pífio para o setor. 

“Apesar de março ter 31 dias, as vendas não atingiram o que imaginávamos. Ninguém atingiu suas metas. Mesmo aqueles que estão abrindo 24 horas, como farmácias, estão tendo problemas. O dinheiro das pessoas que estão desempregadas está acabando e isso é ruim”, lamentou.

Indagado sobre as expectativas do setor e se o desempenho das vendas de Páscoa podem servir como um termômetro para o Dia das Mães e os próximos meses, o presidente da CDL-Manaus lembrou que ainda há muitas variáveis em jogo, como inflação, desemprego, políticas anticíclicas mais tímidas e, principalmente, a temida possibilidade da eclosão de uma terceira onda da pandemia, em Manaus. 

“Ainda não tenho a pesquisa do Dia das Mães, para termos uma noção do que deve acontecer. Ainda estamos preparando. O resultado vai depender muito de não terrmos nenhum momento de lockdown, até lá. Não tendo, acredito que a economia comece a se ajustar, embora menos do que ocorreu no pós-primeira onda. Temos um valor mais baixo de auxílio emergencial e bem menos gente recebendo. Há muita preocupação com os aumentos de preços, porque o consumidor perde muito poder aquisitivo, e isso é preocupante. Mas, ainda estamos esperançosos quanto aos resultados”, finalizou. 

Foto/Destaque: Fred Novaes

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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