Decisão da Justiça manda que a Prefeitura de Manaus proceda o aviso e a retirada dos flutuantes do Tarumã-Açu até o fim do ano colocando tais construções sob uma mesma condição não atentando que alguns estão naquela área há décadas, preservando o meio ambiente e sendo referência turística para Manaus e o Amazonas. É o caso do flutuante Peixe Boi, há 35 anos no mesmo lugar cuja proprietária, a paulista Ana Scognamiglio, desde o primeiro dia naquela área, tem se preocupado em proteger o meio ambiente, e até agora vem conseguindo.
Desde que apareceu numa reportagem da TV Globo, no início da década de 1990, o Peixe Boi começou a receber atores e atrizes globais, cantores de renome nacional, grandes empresários, chefs consagrados, e até astros internacionais de rock, que se deliciam com os tambaquis assados e os filés de pirarucu a milanesa oferecidos no cardápio, mesmo assim a Justiça o igualou aos flutuantes construídos há poucos anos sem se preocupar com a importância que a grande estrutura de madeira de mais de 30 anos tem tido como representante do turismo amazônico.
“Muito antes de usarem as ETEs (Estações de Tratamento de Efluentes), que por sinal foram testadas aqui no Peixe Boi, eu já usava caixas de ferro sob os banheiros para que os resíduos sólidos não caíssem diretamente nas águas do Tarumã”, lembrou Ana.
“Todo o lixo que produzíamos, como até agora, é recolhido e levado para lixeiras públicas, em Manaus. Nada fica aqui. Os resíduos que aparecem boiando nas redondezas, como sacos plásticos e garrafas pet, recolhemos e são levados junto com o nosso material para descarte correto, ou seja, estamos permanentemente mantendo a área limpa”, destacou.
Mutirão de limpeza
Ana lembra ainda que quando chegou ao Tarumã, os moradores locais costumavam pescar com bombas matando, além dos peixes, botos, filhotes de jacaré e peixes tão pequenos que não serviam nem para isca.
“Com o tempo, conversando com eles, acabamos com esse costume. Também tinham pessoas que vinham da cidade para caçar nessas matas. Começamos a denunciar para os proprietários dos terrenos e da mesma forma que a bomba na pesca, a caça acabou. Faz anos que nunca mais ouvi tiros por aqui”, revelou.
Para conseguir que suas ações fossem mais eficientes, Ana criou o grupo S.O.S. Rio Tarumã Açu, envolvendo moradores e comunidade indígena. A presidente do grupo era a professora Paula Eliomar, também presidente da Associação de Moradores, e fazia palestras na escolinha onde lecionava, além das outras escolinhas rurais no Tarumã, conscientizando as crianças sobre a importância de preservar o meio ambiente.
“Na vazante do rio, junto com os moradores e os indígenas, catávamos o lixo que ficava sobre a terra sem águas. Era um verdadeiro mutirão de limpeza. Foi por causa desse nosso trabalho que o então secretário do Meio Ambiente (2003/2008), Virgílio Viana, resolveu criar o Comitê da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu, que existe até hoje, e me colocou como primeira presidente. Por anos promovemos a conscientização ambiental da população do Tarumã e agora fomos pegos de surpresa com esse aviso de que teremos que desmontar o Peixe Boi e sair daqui como se nosso trabalho não tivesse servido para nada, até porque continuamos a dar o exemplo sobre essa questão. As pessoas que nos conhecem sabem disso”, lamentou.
Com sua documentação em dia: Alvará de Funcionamento; licenças operacionais do Ipaam e Ibama; Nada a Opor, da Capitania do Portos, e com os impostos em dia, a empreendedora se preocupa também com o futuro de seus dez empregados, alguns com ela desde o começo.
Sem lixo no fundo
Quem visita o Peixe Boi se encanta com a maravilha do lugar, o rio de águas limpas e a floresta preservada, e o flutuante, com sua estrutura típica de uma casa de ribeirinho, se integra perfeitamente àquele espaço. Derrubá-lo, será destruir um símbolo da proteção ao meio ambiente amazônico.
“Nunca derrubamos uma árvore sequer, nem mesmo arrancamos um feixe de capim. Não entendemos porque estamos sendo considerados poluidores do meio ambiente”, falou.
Ana gosta de contar uma história acontecida este ano no seu flutuante sobre um cliente que deixou cair um óculos valioso nas águas próximas ao local.
“Conheço um mergulhador profissional que vive de mergulhar junto aos flutuantes em busca de objetos que as pessoas deixam cair n’água. Liguei para ele, que veio fazer o trabalho de localizar os óculos. Ele sempre mergulha com equipamentos, porque geralmente demora algum tempo, no fundo. Chegou aqui e resolveu mergulhar sem equipamento, apenas para estudar a situação. Qual não foi nossa surpresa quando, em pouco tempo, voltou trazendo os óculos e dizendo que não encontrara um único lixo sob o Peixe Boi, por isso fora fácil visualizá-lo na água escura”, contou.
Agora Ana espera que a Justiça seja feita e que a história não só do flutuante Peixe Boi, mas de outros flutuantes históricos do Tarumã, seja considerada e a decisão não seja tão drástica como a que se desenha.
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