Os impactos econômicos da segunda onda de Covid-19 se fizeram sentir com mais força nas estatísticas de procura por seguro-desemprego, no Amazonas, no mês passado. Na passagem de fevereiro (5.440) para março (6.961) de 2021, a quantidade de requerimentos acelerou 27,59%, além de superar em 11,38% a marca de março de 2020 (6.232). Os pedidos foram maiores na segunda quinzena do mês (3.729) do que na primeira (3.232). Os dados são da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia.
A despeito da flexibilização gradual das restrições à circulação de pessoas e do atendimento presencial nos segmentos não essenciais, as solicitações pelo benefício foram puxadas pelo setor terciário. Serviços responderam por 38,63% (2.689) dos registros e comércio, por 28,52% (1.985). Indústria (22,87% ou 1.592), construção (9,01% ou 627) e agropecuária (0,98% ou 68) ocuparam as posições seguintes. Todas as atividades sofreram piora, em relação a fevereiro.
Os valores pagos no Amazonas encostaram nos R$ 29,27 milhões, no mês passado, sendo que o valor médio das parcelas foi de R$ 1.340,84 –em um total de 21.828 parcelas pagas localmente. A maior demanda veio com um acréscimo de 25,19% em relação ao montante total do mês anterior (R$ 23,38 milhões). No confronto com os números do mesmo mês de 2020 (R$ 39,98 milhões), entretanto, houve retração de 26,79%.
Em paralelo com a demanda maior, ficou mais difícil conseguir o benefício e a taxa de habilitação do seguro-desemprego experimentou retrocesso em todas as comparações. Em torno de 81,1% dos requerentes do Amazonas (5.648) obteve o benefício no mês passado, fatia menor do que as registradas em fevereiro de 2021 (86,8% ou 4.724 segurados) e março de 2020 (91% ou 5.669).
A performance do Estado reforçou a tendência da média nacional. O Brasil registrou 586.205 solicitações de seguro-desemprego, em março de 2021 e amargou acréscimo de 20,58% ante fevereiro de 2021 (486.154) e incremento de 9,19% em relação ao valor de 12 meses atrás (536.842). Em todo o país, foram pagos quase R$ 2,63 bilhões a título de seguro-desemprego, 20,09% a mais do que no mês anterior (R$ 2,19 bilhões) e 2,95% a menos do que o contabilizado em março do ano passado (R$ 2,71 bilhões).
Idade e instrução
Em razão do recrudescimento da pandemia, 93,5% (6.506) dos registros foram realizados pela web. Assim como ocorrido em fevereiro, a maioria esmagadora dos trabalhadores amazonenses que buscou seguro-desemprego no mês passado pertencia ao sexo masculino, com 62,92% (4.380) das solicitações. As mulheres, por sua vez, responderam por apenas 37,08% (2.581) dos registros. No mês anterior, os números foram 60,24% (3.239) e 39,76% (2.138), respectivamente.
Com 34,73% do total, a faixa etária que requereu mais formalizações pelo seguro-desemprego no Amazonas foi novamente a de 30 a 39 anos (2.411), seguindo a tendência dos meses anteriores. Na sequência vieram aqueles que tinham de 40 a 49 anos (21,34% ou 1.481), entre 25 e 29 anos (20,28% ou 1.408), de 18 a 24 anos (13,84% ou 961), entre 50 a 64 anos (9,74% ou 676) e 65 anos ou mais (0,29% ou 20).
Em termos de grau de instrução, 73,12% dos solicitantes do benefício no Amazonas tinham ensino médio completo (5.075). Foram seguidos de longe por aqueles que contavam com o superior completo (8,38% ou 582), fundamental completo (5,50% ou 382), fundamental incompleto (5,26% ou 365), médio incompleto (4,58% ou 318), superior incompleto (3,13% ou 217), ou eram analfabetos (0,32% ou 22).
A faixa salarial predominante entre os trabalhadores amazonenses que pediram seguro-desemprego no mês passado foi novamente a que vai de 1,01 a 1,5 salário mínimo (44,59% ou 3.095). Em seguida, estavam os que ganhavam de 1,51 a 2 mínimos (18,81% ou 1.306), até 1 mínimo (16,42% ou 1.140), entre 2,01 e 3 mínimos (12,78% ou 887), de 3,01 a 4 mínimos (3,69% ou 256), entre 5,01 e 10 mínimos (2% ou 139), de 4,01 a 5 mínimos (1,58% ou 110) e acima dos 10 mínimos mensais (0,40% ou 28).
MPEs e vacinação
Para o presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas), Marcus Evangelista, os números da base de dados do Ministério da Economia são mais um reflexo local da segunda onda da pandemia e a confirmação de que o recrudescimento da crise da Covid-19 foi mais sentido pelas pessoas jurídicas com menos capital de giro –e com menos capacidade de suportar períodos mais longos de portas fechadas e vendas pífias –, assim como também pelos trabalhadores menos qualificados e de menor remuneração.
“Sabemos que as empresas começaram a demitir de novo, neste ano. Tivemos um alento, no segundo semestre de 2020, até que a segunda onda veio em janeiro de 2021. Quem estava contratando, recuou novamente, e aguarda a normalização da economia. Pelos números, é possível perceber que a grande maioria dos trabalhadores que procuraram o seguro-desemprego são das faixas salariais mais baixas e que trabalhavam em micros e pequenas empresas”, lamentou.
Na avaliação de Marcus Evangelista a economia está precisando de uma dose de confiança para deslanchar e voltar a gerar empregos. Isso depende, conforme o presidente do Sindecon-AM, essencialmente do avanço do programa de vacinação –que sofreu reveses nos últimos dias. “A gente acredita que, com a imunização em massa e vencida a questão da Covid, a economia possa voltar a normalizar a partir deste segundo semestre”, finalizou.
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