O PIB nacional cresceu 1,2% na virada do quarto trimestre de 2020, para o primeiro trimestre deste ano, totalizando R$ 2,048 trilhões, em valores correntes. Foi o terceiro resultado positivo na soma de bens e serviços produzidos no Brasil, nesse tipo de comparação. O desempenho positivo foi puxado pela agropecuária (+5,7%), indústria (+0,7%) e serviços (+0,4%), possibilitando o retorno do Produto interno Bruto ao patamar pré-pandemia. Os investimentos foram maiores, mas o consumo das famílias mergulhou.
Na comparação com o mesmo trimestre de 2020, o PIB brasileiro cresceu 1%, puxado novamente pela agropecuária (+5,2%) e pela indústria (+3%), mas não por serviços (-0,8%) – que foi o setor mais impactado pelo retorno das medidas de isolamento social, durante a ascensão da segunda onda. Os investimentos escalaram 17% e o consumo das famílias caiu 1,7%, assim como o do governo (-4,9%). O Produto Interno Bruto anualizado, por outro lado, aponta ainda para uma retração de 3,8%. Os dados foram divulgados nesta terça (1º), pelo IBGE.
Os números surpreenderam o mercado, que aguardava um crescimento trimestral não superior a 0,7%. Ainda não foram divulgados os dados dos Estados, mas lideranças classistas ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio apontam que os resultados do Amazonas devem ter sido significativamente diferentes da média nacional, dada a cronologia diferenciada da segunda onda da pandemia em nível local. Há um consenso, contudo, que os próximos meses devem ser de crescimento, apesar da alta da inflação e do desemprego.
Na agropecuária, a alta trimestral foi puxada pela melhora na produtividade e no desempenho de produtos como a soja, que tem maior peso na lavoura brasileira e previsão de safra recorde este ano. Na indústria, o avanço veio das indústrias extrativas (+3,2%), da construção (+2,1%) e de eletricidade, gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (+0,9%), mas as indústrias de transformação (-0,5%) – que caracterizam o PIM – andaram para trás.
Nos serviços, que contribuem com 73% do PIB, houve resultados positivos em transporte, armazenagem e correio (+3,6%), intermediação financeira e seguros (+1,7%), informação e comunicação (+1,4%), comércio (+1,2%) e atividades imobiliárias (+1,0%). Outros serviços – que incluem alojamento e alimentação, assim como os demais serviços às famílias – ficaram estáveis (+0,1%), sendo mais afetos pela crise da covid-19 e pelas restrições governamentais para conter a segunda onda.
Consumo x exportações
O consumo das famílias (-0,1%) foi contido pela inflação nos alimentos, desaquecimento do mercado de trabalho e suspensão temporária do auxílio emergencial, conforme a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. O tombo foi maior, em relação ao acumulado de janeiro a março do ano passado (-1,7%). O consumo do governo também andou para trás, em ambos os cenários (-0,8% e -4,9%, na ordem).
Os investimentos (+4,6%) foram puxados pela produção interna de bens de capital, desenvolvimento de softwares e a atividade de construção e pela Repetro ( regime aduaneiro especial que permite ao setor de petróleo e gás adquirir bens de capital sem pagar tributos federais). A “Formação Bruta de Capital Fixo” escalou ainda mais ante o mesmo trimestre de 2020 (+17%), no melhor dado desde o segundo trimestre de 2010. A balança comercial brasileira subiu nas exportações (+3,7%) e nas importações (+11,6%), mas o vigor foi menor, no confronto com 2020 (+0,8% e +7,7%, respectivamente).
Demanda reprimida
O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, lembra que o primeiro trimestre foi um período marcado pelas dificuldades decorrentes da segunda onda, que ajudaram a agravar a crise da covid-19 e solapar as projeções positivas da indústria para o início de 2021. O dirigente diz, entretanto, que a indústria nacional têm demonstrado sinais de recuperação, a despeito de o consumo ainda estar sendo muito afetado pelas dificuldades financeiras impostas pela crise sanitária.
“De igual modo, as indústrias possuem alguns problemas no fornecimento de insumos e variação cambial, que dificultam uma retomada constante dos indicadores. Mas, temos uma expectativa positiva para o segundo semestre. Existe uma forte demanda reprimida para os bens de consumo que, a partir de uma mitigação da pandemia, deve favorecer o segmento industrial no curto e médio prazo”, ponderou.
Aquecimento e expansão
Em sintonia, o presidente da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Jorge de Souza Lima, concorda que o varejo passou tempos difíceis no começo do ano, com dois meses de portas fechadas e flexibilizações graduais, e também aponta para o papel fundamental da demanda reprimida para ajudar a alavancar as vendas dos próximos meses. O dirigente diz que os próximos meses devem ser de crescimento para o varejo, a despeito dos obstáculos da inflação e do desemprego, embora o aquecimento não se dê da mesma forma para todos os segmentos.
“Venho visitando alguns ‘atacarejos’ e observei que o segmento está se expandindo, com a inauguração de novas lojas, especialmente em bairros da cidade que estão recebendo novos lançamentos imobiliários. A zona Leste é um exemplo disso. Ao mesmo tempo, vemos redes de lojas de departamentos tradicionais de Manaus se expandindo para o interior do Amazonas. Ainda vejo algumas dificuldades para o subsetor de calçados e confecções, especialmente os do Centro, que foram prejudicados pela cheia. Mas, a maior parte dos comerciantes com que converso estão otimistas e acreditam que a economia está se recuperando”, contou.
Dólar e exportações
Já o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, observa que os dados divulgados pelo IBGE mostram que a agropecuária continua com resultados positivos e consistentes, colocando o setor rural com papel central no crescimento da economia brasileira, assim como na geração de empregos e nas exportações.
“O saldo da balança comercial bateu recorde histórico no mês de maio e isso decorre principalmente pelo patamar do dólar que favorece a exportação. Nossa expectativa é de que esse desempenho se mantenha crescente, principalmente pelo aumento das exportações para o mercado chinês, que vem demandando produtos do agronegócio brasileiro”, encerrou.
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