14 de setembro de 2024

Planejamento financeiro 2023 -especialistas destacam como se organizar

Ano novo sempre começa com uma série de gastos embutido no orçamento das famílias. É sabido que todo início de ano há a necessidade maior de recursos, pois quem tem filhos, deve comprar o material escolar e uniformes. Há os impostos e também as dívidas parceladas, contraídas em dezembro. Cumprir as metas em 2023 em vários aspectos  é sempre um desafio. O Jornal do Commercio ouviu alguns especialistas que orientam sobre a importância de manter o equilíbrio nos gastos e organizar as finanças com planejamento. 

Para o especialista em finanças Nahan Said, a primeira atitude a ser tomada é a redução dos gastos, agora é o momento de buscar soluções para comprar o que é necessário de forma mais barata e não comprar o desnecessário. Um exemplo de comprar mais barato são livros de segunda mão que estejam em boas condições. Também é importante verificar oportunidades para fazer um extra e aumentar a renda.

O segundo ponto, segundo ele, é fazer a análise de tudo o que deve ser pago no mês e realizar o controle dos gastos no dia a dia (anotar ou digitar em planilhas) para não perder o controle do que está se gastando. “É muito importante evitar os gastos corriqueiros do dia como lanches na rua, ao invés disso, deve-se achar promoções em supermercados e cozinhar em casa. Esses gastos corriqueiros somados no final do mês, pagam uma conta da residência provavelmente”. 

E em terceiro, sempre fazer uma reserva financeira para que em situações de aperto não haja necessidade de recorrer aos bancos e consequentemente ter que pagar juros altos.

Fábio Louzada, planejador financeiro CFP e CEO da Eu me banco Educação, destacou que o planejamento financeiro não deveria ser tabu para os brasileiros, muito pelo contrário, planejar as finanças é para todos, independentemente da renda mensal. “Usar o planejamento financeiro é importante tanto para pessoas endividadas quanto para as que buscam equilíbrio no orçamento para viver com mais liberdade, sem a pressão de estar com a conta no vermelho. É o ponto de partida para começar a investir, realizar sonhos e olhar para o futuro, num horizonte que abraça objetivos como adquirir bens ou até mesmo planejar a aposentadoria”. Segundo ele, qualquer um pode traçar um planejamento fazendo um alinhamento básico de gastos versus despesas, ou contratar um planejador financeiro que tenha a certificação CFP, emitida pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro). Este profissional está apto para elaborar um plano mais completo focado não só em colocar as finanças nos eixos, como também traçando o melhor caminho para se alcançar os objetivos de curto, médio e longo e prazo com base no estilo de vida e perfil do investidor. 

Pontos a desenvolver um planejamento

De acordo com Louzada, o primeiro ponto para dar início a um planejamento financeiro é entender quais são os seus gastos fixos e variáveis. Quando você separa o gasto variável, você consegue identificar alguns gastos desnecessários, que podem ser reduzidos no próximo mês. “Por isso, recomendo anotar os gastos por pelo menos três meses, para identificar o padrão. Olhando os gastos fixos que são realmente necessários, ficará fácil ter uma linha de corte e remover gastos supérfluos ou assinaturas de serviços que não estejam sendo necessários no momento. Gastos invisíveis, como Uber e iFood, podem comprometer 20%, 30%, 40% da renda. Como o gasto é praticamente diário você acaba não sentindo no bolso, mas faz toda a diferença na saúde financeira”, citou. 

Ele reiterou que dentro do planejamento as famílias não podem deixar as dívidas de fora. A pessoa deve tomar cuidado para não deixar o nome “sujo”, prejudicando o score de crédito.  Quando o nome vai para órgãos de proteção de crédito, mais complicada fica a vida financeira e o acesso ao crédito em emergências acaba envolvendo juros mais altos. A dica é pagar as parcelas da dívida em dia e, em casos de inadimplência, buscar o banco ou lojista para negociar, com o objetivo de chegar a taxas menores e parcelas que caibam no bolso do consumidor, sem prejudicar os gastos essenciais.

“Em 2023, se possível, recomendo a todos que planejem as suas finanças de modo a não depender do cartão de crédito. O cartão de crédito parece um dinheiro infinito, mas pode ser uma grande cilada. Como o dinheiro não sai automaticamente da conta corrente, fica a impressão de que essa fatura nunca vai chegar, mas ela chega. Então se a pessoa viu algum produto e ficou interessada, o melhor é respirar fundo, tirar um dia para pensar se aquela oferta é algo urgente de verdade e, se possível, guardar dinheiro para comprar à vista”, alertou. 

Por fim, com o orçamento mensal planejado, o caminho para montar uma reserva de emergência e começar a investir fica mais bem pavimentado. Dentro da sua renda mensal, e ciente de todos os custos de vida, entenda tudo que está sendo comprometido dos seus ganhos e identifique quanto irá sobrar de dinheiro para usar em gastos variáveis e investimentos. “Pare de falar “Neste ano eu quero investir” e comece a efetivamente separar, mês a mês, 5%, 10%, 15% dos seus rendimentos. Com o tempo isso se torna um hábito e ajuda a passar por momentos de emergência com mais tranquilidade, bem como facilita o pagamento de contas como IPTU, IPVA e compra de material escolar, recorrentes em todo início de ano, sem prejudicar o orçamento da família”, orientou o especialista.

As expectativas de 2023, para grande parte dos economistas, é que “será o ano mais desafiador na economia”. Traduzindo isso em números -que impactam diretamente o bolso dos brasileiros -a previsão, por exemplo do BC (Banco Central), é que o IPCA (Índice Nacional dos Preços ao Consumidor Amplo) ficará em 5,31% e a inflação em 5,62%. Já a Selic (taxa básica de juros) ficará em 12,25%. Isso porque, a expectativa é que os impostos e tributos federais (que foram reduzidos agora em 2022), devem voltar a subir, segundo os economistas, em 2023. Diante dessa notícia, a educadora financeira Aline Soaper, revela como conter os gastos em 2023 e como fazer um planejamento financeiro.

Fábio Louzada é planejador financeiro CFP e CEO da ‘Eu me banco Educação

“A renda dos trabalhadores continua uma das menores já registradas pelo IBGE. Em comparação a 2021, por exemplo, ela caiu 5,1%. Quando falamos de salário-mínimo, o valor fixado para 2023, é de R$ 1.302. Além disso, os preços no grupo alimentos e bebidas -que mais pesam no custo de vida das famílias pobres -continuam elevados, no acumulado de 2022, até dezembro. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 5,9%. Os grupos transportes e alimentação foram os que impactaram de forma mais expressiva, o IPCA de dezembro de 2022. Somado a isso, um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, 80% das famílias brasileiras estão endividadas. Ou seja, as projeções mostram que será um ano muito difícil para a população brasileira. Com a perspectiva de risco fiscal e as incertezas no cenário global, a população brasileira deve se preparar para apertar os “cintos”, do ponto de vista dos gastos, para o próximo ano”, alerta Aline Soaper.

Dicas gerais, para controlar os gastos em 2023 e se planejar financeiramente

1 – Coloque no papel ou em uma planilha tudo que você recebe, e os gastos mensais que você tem. É fazer um planejamento financeiro, para saber o custo de vida atual, qual valor necessário para a família manter as necessidades básicas;

2 – Os alimentos e produtos de higiene, foram os que mais pesaram no bolso dos brasileiros em 2023, por isso, é essencial fazer uma pesquisa de preços do que vai comprar. Se for o caso substitua produtos que estão mais caros, por outros de marcas menos famosas;

2 – Evite excessos dentro do orçamento familiar. Para isso, faça uma revisão do seu orçamento e veja o que é supérfluo. Ou seja, aquela assinatura de streaming que você pouco usa, aquele aplicativo do celular que você assinou e esqueceu, as cobranças automáticas que você coloca no cartão de crédito, etc. Pense que, em momentos de crise, é preciso direcionar o dinheiro para o que é essencial;

3 — Evitar adquirir novas dívidas, principalmente se você não sabe se vai ter como pagar as que ficaram de 2022;

4 – Aumentar a renda é uma possibilidade de aumento do consumo. Para isso, o aperfeiçoamento profissional é essencial.

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio

Veja também

Pesquisar