As intensas chuvas que atingiram as bacias dos rios Negro e Solimões elevaram a cota do rio Negro para 25,39 metros, medição acima do esperado para o atual período do ano, segundo o CPRM (Serviço Geológico do Brasil). A cheia se intensificou nas últimas semanas e o nível de cota acende o alerta dos especialistas que não descartam uma possível cheia.
Em comparação aos últimos anos, a pesquisadora responsável pelo sistema de alerta hidrológico do Rio Amazonas, Luna Gripp considera os níveis dos rios acima da normalidade. A explicação do motivo da alta do rio Negro agora, é a soma da grande quatidade de chuvas na Bacia do Rio Negro e tambem a grande quantdade de chuvas em algumas das Bacias que drenam para o Solimoes.
Apesar de ser uma condição preventiva, a especialista diz que a fase vai depender da situação meteorológica e a forma de como as chuvas vão ocorrer e delimitar se a cheia vai ser de grande magnitude ou não.
“Ano passado, tanto o rio Negro quanto o Solimões tiveram esse comportamento, em janeiro começaram num nível muito acima do esperado. No entanto, a partir de fevereiro as chuvas foram ocorrendo abaixo e a tendência do nível dos rios foi se normalizando quando chegou em junho a cota não foi tão alta”.
Ao avaliar as principais estações de monitorameno ao longo das cidades principais como São Gabriel da Cachoeira, Santa Izabel do Rio Negro, Barcelos, Manacapuru, Coari e inclusive Manaaus, o nível do rio hoje é acima do esparado.
Setor acompanha
O status de cheias se repete todos os anos, às vezes de forma intensa, por isso a necessidade de comparar o comportamento dos rios ano a ano. É importante destacar que além do impacto às populações ribeirinhas, o setor primário acompanha a situação em razão de uma série de impactos, principalmente em perdas na produção rural do Estado. Segundo o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, ainda não é possível sinalizar perdas. E diz que ainda é cedo para prever possíveis impactos para o setor.
“Nas calhas de rio de nosso Estado a situação é de normalidade, à exceção da calha do Purus, pois os rios Acre e Purus estão começando a transbordar. A situação é de normalidade, mas estamos acompanhando com atenção porque em se mantendo a intensidade das chuvas e da elevação do nível das águas, pode ser que daqui a um tempo o nível extrapole à normalidade da subida das águas.“ É necessário observar o comportamento do rio nas próximas semanas”.
O possível evento de cheias causa preocupação porque os níveis fluviais acima do esperado prejudicam a produção rural dos municípios, principalmente nas áreas de várzeas, que incluem os municípios nas calhas dos rios Juruá e Purus. A exemplo do ano passado, as culturas de maracujá e banana foram afetadas nas áreas de várzeas, além da alface e do cheiro verde, cultivados nesses locais.
Segundo o presidente da Faea, Muni Lourenço, os municípios nas calhas do rio Negro e Solimões também apresentaram no ano passado níveis comprometedores, com reflexo de prejuízos econômicos. “As perdas de produção agrícola também afetaram o município de Manacapuru, que atingiu a produção de fibras, juta e malva. O diagnóstico das cheias também atingiu a pecuária. “Foi necessário a antecipação de transferência dos rebanhos para terra firme, o que elevou os custos. Os pecuaristas criam rebanhos nessas áreas de várzeas e precisam deslocar os animais para áreas mais altas. E essa iniciativa tem custos que pesam na renda do produtor.
Muni relata ainda que a perda de produção agrícola compromete as rendas de parte desses produtores. E a grande preocupação é que esses agricultores possuem dívidas de crédito rural urbano e com o volume de perdas há a necessidade de renegociar as dívidas.
Ele lembra que os municípios de Guajará, Ipixuna, Eirunepé e Itamarati, na calha do Juruá, chegaram a declarar situação de emergência.
O Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Estado do Amazonas),
está monitorando a questão da cheia junto aos produtores rurais em todo o Estado. “Em Manaus, a cheia se concretiza em meados de junho e estamos entrando ainda na segunda quinzena de fevereiro. Se essa cheia que se espera vir mesmo é preocupante. Pois as áreas de várzeas poderão ser afetadas e trará prejuízo aos produtores. Mas ainda é muito cedo. Temos que aguardar como será o comportamento da chuva daqui pra frente”, avalia o diretor técnico do Idam, Luiz Herval.
Foto/Destaque: Adneison Severiano/G1 AM