A importância do potássio para a produção de fertilizantes ganhou maior visibilidade com a guerra entre Rússia e Ucrânia, que já demora mais de 100 dias no Leste Europeu. Das terras russas é de onde vêm mais de 95% dos insumos para abastecer o agronegócio brasileiro, que responde, hoje, por quase 50% de todo o PIB brasileiro.
O Amazonas tem uma jazida mineral que poderia abastecer durante 200 anos consecutivos todo o mercado nacional, reduzindo gastos com transportes. As jazidas encontradas em Autazes poderiam gerar mais empregos e renda. No entanto, gargalos ambientais dificultam a sua exploração.
Desde 2008, a Potássio do Brasil tenta montar uma mina no município amazonense, considerado a terra do leite. Os benefícios são intensos, imprimindo mudanças significativas no aspecto socioeconômico. Mas restrições de órgãos ligados ao meio ambiente travam o andamento do projeto.
O entendimento é que os impactos seriam danosos ao povo Mura, nativo da região onde se encontra o minério. O presidente da Potássio do Brasil, Adriano Espeschit, garante, porém, que o projeto Potássio Autazes é extremamente limpo, ao contrário dos que muito alardeiam, principalmente as lideranças ambientalistas.
Pelo menos 2.600 empregos diretos seriam criados logo no início da mineração, sem contar com os gerados indiretamente. “Viemos aqui para ficar. A Potássio do Brasil já se manifestou com mais de 30 programas que vão beneficiar diversas atividades relacionadas à extração mineral, criando oportunidades aos pequenos produtores regionais, dando subsídios de fertilizante, sem a necessidade de desmatar as florestas, que empobrece os solos”, ressalta ele.
Consultada, a população de Autazes referenda o empreendimento. E a empresa só está esperando o sinal verde para dar início aos trabalhos, segundo Adriano Espeschit. O potássio é extremamente estratégico para o País. E também para o Amazonas. O sentimento é que essas atividades poderiam se somar à ZFM, viabilizando uma nova matriz econômica, que sempre está na pauta das discussões.
O mineral será explorado em profundidades de 800 metros. E os resíduos, que são o cloreto de sódio, o mesmo sal de cozinha usado no preparo dos alimentos, vai ser devolvido ao subterrâneo. “Todas as áreas impactadas serão recuperadas ao fim da vida útil das jazidas. É nosso compromisso”, acrescenta Espeschit.
Ele participou da live ‘JC às 15’, comandada pelo jornalista Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.
Jornal do Commercio – A Potássio do Brasil desenvolve aqui o Projeto Potássio Autazes. A empresa já está há muito tempo na região. Como podemos pontuar a atuação do grupo?
Adriano Espeschit – Faço um breve histórico para mostrar como a Potássio do Brasil vem trabalhando nesse projeto. Desde 2018, requeremos algumas áreas para fazer as pesquisas referentes a esse insumo mineral, que é o cloreto de potássio.
E identificamos uma excelente jazida no município de Autazes. Por isso, o nome Projeto Potássio Autazes. Em 2016, fomos surpreendidos pela suspensão do licenciamento ambiental por causa de uma ação civil pública que previa a suspensão do licenciamento por seis meses até a deflagração do processo de consulta ao povo Mura.
Esse processo já começou desde 2019 e nós estamos aguardando a continuidade do licenciamento ambiental para iniciarmos a construção da mina com uma planta de fertilizantes no município de Autazes.
O processo que vamos utilizar é de extração desse minério a 800 metros de profundidade através de dois poços profundos. Após o beneficiamento, esse cloreto de potássio será transportado em barcaças através do sistema de hidrovias da Amazônia, que é muito eficiente.
E o resíduo, que é apenas o cloreto de sódio, o sal de cozinha, vai retornar para o subterrâneo, ou seja, para os espaços vazios que vamos ter na mina. Então, é um projeto extremamente limpo, sem muito impacto ambiental e com excelentes benefícios socioeconômicos para toda a região.
JC – A população anseia pelo projeto. Podemos listar os benefícios esperados?
AE – Viemos para ficar aqui por bastante tempo. Somente as obras desse projeto gerarão em torno de 2.600 empregos diretos, em média. Após a implantação, temos uma vida útil de 23 a 25 anos de duração com a geração de 1.300 empregos diretos.
E vários, milhares de empregos indiretos. Além disso, a Potássio do Brasil já se manifestou com mais de 30 programas que vão beneficiar diversas atividades relacionadas à extração mineral.
Como, por exemplo, programas de pesca, extrativismo, cuidados com populações carentes, tudo isso.
JC – Você falou sobre a questão com o povo Mura. De alguma forma, eles serão impactados com a extração? Como está essa relação de um empreendimento tão esperado com as comunidades indígenas?
AE – A gente trabalha em conjunto com todas as entidades que legislam sobre as atividades minerais. E uma delas é a Funai. Ela nos deu um termo de referência para que pudéssemos fazer um estudo de componente indígena, documento que a Potássio do Brasil já produziu desde 2015.
Esse termo de referência identificou potenciais impactos em duas terras indígenas e em duas vilas, que foram escutadas, ouvidas e que contribuíram para as atividades desse estudo de componente indígena.
Além disso, quero deixar registrado que tive oportunidade de ter trabalhado com indígenas canadenses. E eles possuem um incrível modelo de negócio que pode muito bem ser aplicado se o povo Mura desejar implantar situações semelhantes.
O povo canadense indígena que eu cheguei a trabalhar possui hoje mais de 15 empresas prestando serviços para as empresas de mineração. E retiram minerais das terras indígenas próximas às terras que eles possuem lá no Canadá.
JC – Sabemos da importância estratégica desse mineral para o País. Recentemente, vimos que o conflito da Rússia com a Ucrânia gerou toda uma preocupação em relação ao abastecimento do agronegócio. E mais uma vez, acendeu a chama da necessidade de termos de produzir esses insumos aqui na região. Esse projeto ganha mais visibilidade agora?
AE – O agronegócio brasileiro é totalmente dependente de fertilizantes, não só o cloreto de potássio, mas também de nitrogênio e fósforo. Hoje, o Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes. E, no caso do potássio, essa dependência chega a mais de 95%.
Nós só temos uma mina em operação em Rosário do Catete, interior do Estado de Sergipe, que inclusive está terminando a sua vida útil. Daqui a pouco nós vamos ser 100% dependentes de importação.
Não só o conflito entre Rússia e Ucrânia, mesmo as sanções à Bielo-Rússia, que antecederam a guerra, fizeram com que essa comercialização mundial fosse bastante afetada.
Consequentemente, o preço dos fertilizantes aumentou bastante. Podemos esperar, inclusive, aumentos de bens alimentícios ao longo dos próximos meses, quiçá anos.
JC – Quando se fala em mineração, muita gente tem uma interpretação equivocada. Há um senso comum de que a atividade é impossível de se associar ao meio ambiente. Porém, é uma opção para uma nova matriz econômica com foco na sustentabilidade. Como avalia essa questão?
AE -Os tempos mudaram. Hoje, você consegue fazer muitas atividades, que antes eram consideradas poluidoras, de forma sustentável. O próprio projeto Potássio Autazes é um exemplo disso. Já conversamos com diversas instituições, inclusive com a Universidade Federal do Amazonas, Universidade Estadual do Amazonas e outras entidades para que a gente tenha um projeto sustentável.
Esse projeto vai garantir que a gente faça uma operação verdadeiramente sustentável. Para citar alguns exemplos de benefícios, você imagina 2,4 milhões de toneladas de cloreto de potássio, que é a nossa produção anual prevista, deixarão de viajar mais de 10 mil milhas para chegarem aqui no Brasil.
Isso através de navios que vêm queimando combustíveis e gerando gases de efeito estufa. Então, este impacto vai deixar de existir. Nós vamos estar trazendo outras demandas e outros programas para este projeto.
Como, por exemplo, subsídio de fertilizantes para pequenos produtores regionais. Eles vão ser capazes de diminuir a necessidade de eventuais desmatamentos que fazem hoje. E vão poder enriquecer seus solos já degradados.
Isso é que faz com que haja a redução de desmatamentos em pequenas propriedades no Amazonas.
JC – A Amazônia é uma referência ambiental, que ultrapassa até as nossas fronteiras. O mundo se sente dono e defensor da conservação da região. De alguma forma, isso retrai muitos investimentos. Como enxerga essa situação? Podemos encontrar um ponto de equilíbrio entre a visão conservacionista e o aproveitamento dessas riquezas?
AE – Isso é de fundamental importância. O projeto Potássio Autazes já passou por audiências públicas. A população foi ouvida, apoiou a iniciativa. Estamos agora na consulta ao povo Muro.
A gente acredita que é possível conviver com uma atividade dentro da condição de vizinhança. Ou seja, seremos bons vizinhos das terras indígenas. O nosso projeto está 100% fora das áreas indígenas. E temos o compromisso de geração de empregos locais.
Vamos treinar pessoas, criar condições para que a população que queira trabalhar no projeto possa ser preparada para isso.
Com convênios com Senai, sistema S, universidades, para que as pessoas possam ter um emprego industrial numa região que não tem essa tendência. Autazes é conhecida como a terra do leite. E a região onde a gente está implantando a parte de superfície do projeto já foi degradada no passado.
Ela hoje não é mais uma floresta amazônica. É um pasto porque havia criação de gado lá. A nossa mina é subterrânea. Não tem aquelas cavas mostradas em reportagens da imprensa. De qualquer forma, mesmo se houvesse esse tipo de coisa, é possível depois você fazer a recuperação das áreas afetadas.
Temos diversos exemplos no Brasil e no mundo de áreas que já foram mineradas e que hoje são utilizadas pela sociedade. Então, isso é muito importante porque é todo um trabalho que tem começo, meio e fim. É um trabalho que demanda muito tempo. Vamos estar convivendo com Autazes durante dezenas de anos. E faremos com que tudo isso seja totalmente recuperado.
Temos o compromisso de não ter nenhuma obra mantida depois que a gente terminar a extração do projeto Potássio Autazes.