Preservação da memória no JC

Em: 2 de janeiro de 2025
Theodore Roosevelt era naturalista, mas veio à Amazônia para caçar

Se pararmos para pensar o quanto o acervo do Jornal do Commercio tem guardado de informações em suas páginas, sobre Manaus e o Amazonas, é coisa para deixar louco qualquer pesquisador de história. Para mostrar a riqueza dessa memória preservada, vamos fazer um passeio aleatório pelos 121 anos de circulação do JC e selecionar algumas publicações curiosas, engraçadas e históricas do mais antigo jornal da Amazônia em circulação.

A edição de 31 de dezembro de 1905 traz o anúncio da Grande Companhia Italiana de Ópera e Operetas que iria se apresentar uma semana depois no ‘Theatro’ Amazonas. Isso mesmo, Teatro com Th. Os assinantes do JC teriam 10% de desconto no ingresso.

Em 31 de dezembro de 1907 o Bazar Amazonense vendia ‘cintos, modelo dos notáveis Sportmann do Foot-ball Club, de Londres’. Vale lembrar que quem trouxe o futebol para Manaus foram os ingleses, no início do século 20, quando vieram trabalhar na construção do roadway (rodo), o porto da cidade. Em 1914 vários deles ainda trabalhavam em Manaus e tiveram que ir embora convocados para lutar pelo seu país na Grande Guerra, depois Primeira Guerra Mundial.

E quem disse que Manaus não conhecia crimes violentos? No dia 09 de janeiro, de 1911, no botequim Campos Elyseos, localizado na rua Theodureto Souto, Sebastião Delmiro da Silva matou com um tiro de revólver, Manoel Correia de Araújo por este ‘ter galhofado’ do chapéu de uma das mulheres que acompanhavam Sebastião.

Castelo Branco, com Arthur Reis, veio a Manaus em 1964, e passeou, tranquilo
Castelo Branco, com Arthur Reis, veio a Manaus em 1964, e passeou, tranquilo

 

X.P.T.O., cerveja manauara       

No dia 30 de abril de 1914 o JC estampava: ‘Roosevelt chegou esta madrugada a Manáos’. Theodore Roosevelt Jr. foi um político, militar, naturalista, historiador e escritor norte-americano, o 26º Presidente dos Estados Unidos de 1901 a 1909. Junto com o militar sertanista Cândido Mariano Rondon, desbravou lugares inexplorados na Amazônia. Uma foto imensa ilustra a matéria de página inteira, na capa, e uma frase perdida no imenso texto diz que o ex-presidente naturalista, ‘fizéra magníficos tiros na arte arriscada da caça’. O conceito de naturalista parecia ser outro.

E quem bebeu X.P.T.O., cerveja fabricada em Manaus? Um anúncio da ‘Grande Cervejaria Amazonense’, no JC de 10 de dezembro de 2017, destaca que a cervejaria é a ‘mais moderna e bem montada da América do Sul’. Entre suas cervejas, que o anúncio diz serem as melhores do Brasil: Amazonense, Yankee, e X.P.T.O. e ainda tinha o ‘schopp’. A empresa pertencia aos empresários paraenses Miranda Corrêa, que fizeram fortuna, em Manaus. Também fabricavam o gelo Crystal. Foram proprietários da Casa de Schopps e Gêlo Crystal, localizada na av. Eduardo Ribeiro, onde hoje funciona a Riachuelo.

A Casa de Shcopps dos Miranda Corrêa ficava onde hoje é a Riachuelo
A Casa de Shcopps dos Miranda Corrêa ficava onde hoje é a Riachuelo

No dia 2 de janeiro de 1924 o JC era apenas um jovem de 20 anos e dava notas vindas do mundo todo: da Inglaterra falava que o médico egípcio James Hasson descobrira o micróbio da lepra; da Alemanha destacava a eleição presidencial. Naquele ano o futuro ditador Adolf Hitler havia acabado de sair da prisão por tentar dar um golpe e derrubar o governo alemão. Se quem mandou soltá-lo adivinhasse o futuro não teria feito aquilo. Da Itália vinha a informação de que havia acontecido uma grande reunião do partido fascista dos quais participaram 120 diretores de jornais. Naquela época a grande imprensa já ficava do lado de quem estava no poder. Do Paraguai a nota lembrava a morte de Carlos Lopes, filho do ‘dictador’ Solano López, o presidente daquele país morto por brasileiros durante a Guerra do Paraguai (1864/1870).

 

Guerra e política

Arthur Cezar Ferreira Reis, foi governador e historiador do Amazonas. No JC de 21 de fevereiro de 1932, um anúncio divulgava o lançamento de seu livro ‘História do Amazonas’, à venda por dez mil réis, nas livrarias Manaos Musical, Escolar, Acadêmica, Palácio Real e Clássica. Quem é ‘das antigas’ lembra das livrarias Escolar e Acadêmica, na rua Henrique Martins, quase uma em frente a outra. Arthur Reis era filho de Vicente Reis, então proprietário do JC, e chegou a ser diretor de redação do jornal. Governou o Amazonas de 1964 a 1967.

Arthur Reis era filho do dono do JC e foi diretor de redação do jornal
Arthur Reis era filho do dono do JC e foi diretor de redação do jornal

Em 25 de junho de 1944 a Segunda Guerra Mundial caminhava para seu fim e a manchete do JC, em ‘letras garrafais’, como se dizia antigamente, proclamava: ‘Iniciada a evacuação de Cherburgo – apesar de Hitler haver ordenado a resistência até o último homem as tropas alemãs fogem pelo mar’.

Dez anos depois, o mundo não estava em paz. A manchete ‘Acumulam os EE.UU. gigantescas quantidades de poderosas bombas atômicas e de hidrogênio’, do JC de 31 de julho de 1954 deixam isso bem claro.

Em 1º de setembro de 1964 os militares governavam o Brasil e o então presidente Castelo Branco se encontraria com seis governadores, em Manaus, conforme manchete do JC, mas governar não estava fácil, tanto que a manchete principal era: ‘Novo Ato Institucional em projeto’. Quatro anos depois, em 1968, o famigerado AI 5 calaria o Brasil. Será que estamos caminhando para isso, novamente?

Para esta edição, de 121 anos do jornal, encerramos por aqui, mas no próximo ano traremos mais informações que ficaram para a história nas páginas do JC.            

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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