23 de novembro de 2024

Problemas dermatológicos crescem desde o início da pandemia

Se do nada surgiu um problema dermatológico em você, pode ter certeza que é resultado do estresse causado pela pandemia

Dermatologistas em todo o país identificaram aumento significativo no número de pacientes com problemas de pele desde o início da pandemia. O estresse pelo isolamento social e a falta de Sol, ainda de acordo com esses médicos, serviram como gatilhos para desencadear o aumento e o agravamento de doenças já existentes.

Em princípio, o estresse não é um problema, já que é um mecanismo fisiológico, uma defesa natural do organismo que nos ajuda a sobreviver. O estresse provoca a liberação de mediadores químicos, como a adrenalina, que nos faz reagir com mais eficiência em situações de perigo, por exemplo. Problemas, sim, são os efeitos causados pelo estresse. Quando esses efeitos se tornam crônicos, podem provocar muitos danos à saúde.

O Jornal do Commercio ouviu a dra. Virgínia Vilasboas Figueiras para explicar mais sobre o assunto. Ela é médica dermatologista pela FMT-HVD (Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado), especialista em dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade de Cirurgia Dermatológica, e supervisora do Programa de Residência Médica em Dermatologia da FMT-HVD.

Jornal do Commercio: Quais os principais problemas que a sra. está atendendo decorrentes do estresse causado pela pandemia? 

Virgínia Figueiras: A pandemia e o isolamento social trouxeram muitos questionamentos, medos, ansiedade e estresse. Uma das consequências disso é o surgimento, ou piora, de doenças dermatológicas que podem sofrer influência do estado emocional. As queixas mais frequentes são de queda acentuada de cabelos, acne, rosácea, urticária, psoríase, dermatite atópica ou seborreica.

JC: Como a sra. consegue identificar que esses problemas foram resultado do estresse pela pandemia? Houve um aumento significativo de casos? 

VF: Algumas dessas doenças possuem normalmente períodos de piora e melhora, sendo a associação com estresse bem documentada na literatura, porém, o estresse pode não ser o único responsável pelo início ou exacerbação da doença. Há outros ‘gatilhos’ ou fatores de piora para acne, por exemplo, como o uso frequente e prolongado de máscaras. Certamente houve um aumento significativo das queixas relacionadas a essas doenças desde o início da pandemia.

JC: Desses problemas, qual, ou quais os mais graves?

VF: Todas essas doenças têm um impacto na autoestima e na qualidade de vida. A psoríase é a mais relacionada à comorbidades porque acarreta uma inflamação crônica que não atinge apenas a pele, mas várias partes do organismo.

JC: Esses problemas são psíquicos, ou causados por alguma bactéria, vírus ou fungo? São transmissíveis? 

VF: A maioria desses casos que aumentaram são de dermatoses inflamatórias crônicas, não transmissíveis, com um componente emocional importante na etiologia e evolução da doença, porém, outra situação que vivenciamos no consultório nesse período, são de manifestações cutâneas associadas à covid-19.

JC: Por que o corpo age dessa forma, com reações na pele? Quem provoca essas reações, é o sistema nervoso central? 

VF: A pele acumula diversas funções no organismo humano, dentre elas proteger contra as agressões ambientais e fazer trocas fisiológicas essenciais. Além disso, delimita a área corporal, apresentando o indivíduo ao outro e ao mundo. Através dela, é possível manifestar emoções que são facilmente perceptíveis, como, por exemplo, ficar pálido com um susto; ruborizado com constrangimentos; suar ou ficar arrepiado diante de situações que causem medo. É um órgão de comunicação e percepção visível, que possui ligação com o sistema nervoso central. No entanto, diversas informações sobre os processos e as reações psíquicas relacionados às doenças de pele ainda não são entendidas por completo.

JC: Quem sofre mais com esses problemas, crianças, adolescentes ou adultos? Homens ou mulheres? 

VF: Essas doenças podem afetar qualquer idade e gênero, porém tenho observado maior frequência entre adultos.

JC: O que pode ajudar a evitar, ou até tratar, dessas reações: alimentação, exercícios, Sol? 

VF: É importante divulgar medidas ativas para promover saúde e bem-estar, como manter um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, alimentar-se de forma adequada, praticar atividade física, fazer algo que goste e se preocupar com a qualidade do sono. Além disso, é essencial buscar ajuda do médico dermatologista, psiquiatra e psicólogo quando necessário. Os atendimentos online têm ajudado bastante nesse momento.

JC: Uma vez tratados, e curados, esses problemas podem voltar? 

VF: Podem voltar, pois a maioria dessas doenças tem um curso crônico. Por isso, o acompanhamento dermatológico é sempre importante para o seu controle.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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