13 de setembro de 2024

Produção agrícola do Amazonas fatura mais e reduz áreas de plantio, aponta IBGE

A agricultura do Amazonas registrou expansão de 8,72% no valor de produção de suas lavouras temporárias e permanentes, após a chegada da pandemia e o começo da guerra na Ucrânia. Entre 2019 e 2022, o montante arrecadado com o valor arrecadado com produtos primários saltou de R$ 1,10 bilhão para R$ 1,83 bilhão, em sintonia com o aumento dos preços dos alimentos. Em paralelo, o Estado registrou um recuo de 3,22% na área colhida, que passou de 117.817 (2019) para 114.022 (2022) hectares. No período, as safras somaram toneladas 1,15 milhão de toneladas. Mas, entre os 31 produtos agrícolas cultivados no Estado, apenas 15 aumentaram a produção.

As lavouras temporárias do Amazonas alcançaram R$ 1,25 bilhão, em 2022. Os produtos que se destacaram foram mandioca (R$ 923,39 milhões e 767.634 toneladas), melancia (R$ 70,14 milhões e 45.286), abacaxi (R$ 177,43 milhões e 37.562) e cana-de-açúcar (R$ 14,48 milhões 37.239). As lavouras permanentes somaram R$ 578 milhões, tendo como evidencia o açaí (R$ 178 milhões e 90.616), a banana (R$ 210 milhões e 88.664), a laranja (R$ e 22.027) e o maracujá (R$ 64 milhões e 13.551). É o que revela a pesquisa PAM (Produção Agrícola Municipal) 2022, do IBGE. 

Na análise do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, fatores externos e cambiais impulsionam o Brasil a um novo recorde no valor de seus produtos agrícolas. O valor de produção das principais culturas do país atingiu o recorde de R$ 830,1 bilhões em 2022, com alta de 11,8% em relação ao ano anterior. Foi a maior safra de grãos já registrada na série histórica, com 263,8 milhões de toneladas, alta de 3,8% frente a 2021. A área plantada do país foi de 91,1 milhões de hectares, com alta de 5,2%, ou 4,5 milhões de hectares a mais do que em 2021. Dez culturas concentraram 88,5% de todo o valor bruto gerado, sendo que a soja e o milho representaram 58,2% do valor total.

Fatores climáticos, como a estiagem prolongada iniciada ainda em novembro de 2021, inibiram o desempenho da soja, arroz e da 1ª safra do milho. Mesmo assim, a produção agrícola do país bateu recorde, com 263,8 milhões de toneladas e alta de 3,8%. E diferente do ocorrido no Amazonas, as áreas cultivadas e colhidas cresceram: a soja avançou 150% e quase 2 milhões de hectares nesse quesito, enquanto o milho subiu 78,9% e 1,7 milhão de hectares. A despeito do aumento da oferta, as duas culturas ficaram mais caras (+1,3% e +18,6%, respectivamente). Já o arroz foi um ponto fora da curva, ao encolher 18,9%, no valor da produção, e 7,6%, na quantidade produzida.

Temporárias e permanentes

Na lavoura temporária, o Amazonas alcançou valor de produção de R$ 1,2 bilhão, com 93.201 hectares de área plantada e 92.154 hectares de área colhida. Ao analisar um período mais amplo, o IBGE-AM concluiu que as lavouras temporárias do Estado registraram ganho de 47% em termos de valores de produção, entre 2012 e 2022. Mas, a área plantada encolheu 36%, no mesmo período. Os principais produtos desse grupo foram mandioca, abacaxi, melancia e cana de açúcar. A soja surgiu como a quarta produção de maior valor, no ano passado, graças à produção de Humaitá e Boca-do-Acre.

A mandioca é o produto mais importante da lavoura temporária no Estado, com 767.634 toneladas e R$ 923,39 milhões em 2022. Nesse ano, contudo, a oferta se distribuiu por todos os municípios amazonenses. Manacapuru produziu 126 mil toneladas, porém, registrou uma queda de 20% em relação a 2019, voltando ao mesmo patamar de 2012. Tefé foi o segundo maior produtor com 90.760 toneladas e manteve registrado nas safras de 2012 e de 2019.

O abacaxi surge como o segundo produto de maior valor de produção da cultura temporária, com toneladas, que somaram R$ 177,43 milhões. Itacoatiara, Careiro e Humaitá foram os maiores produtores no ano passado. Itacoatiara foi o município dominante na produção, com 21.600 toneladas e passou a ocupar 18º lugar no ranking nacional. A melancia foi o terceiro produto do grupo com maior quantidade produzida em 2022, com produção de 45.286 toneladas e R$ 70,14 milhões em valores de produção. Manicoré, Novo Aripuanã e Humaitá foram os três principais produtores do Estado. 

Entre lavouras permanentes do Amazonas, os produtos com maior área colhida são banana (6.142 hectares), açaí (5.890), guaraná (5.890), laranja (1.233) e cacau (1.203). Em termos de quantidade produzida, o açaí (90.616 toneladas) passa à liderança, sendo seguido por banana (88.664), laranja (22.027), maracujá (13.551) e mamão (12.895). Os maiores valores de produção vieram da banana (R$ 210 milhões), o açaí (R$ 178 milhões), maracujá (R$ 64 milhões) e mamão (R$ 39 milhões). 

A banana é um produto presente na maioria dos municípios amazonenses, sendo que Manicoré, Novo Aripuanã e Humaitá são os principais produtores. O açaí é o segundo produto de maior importância e Codajás é o maior produtor dessa cultura no Estado, com 70.000 toneladas – e também ocupa a 9ª posição do ranking nacional. Já a cultura do guaraná está concentrada principalmente em Maués, o segundo maior produtor do país. Urucará, Presidente Figueiredo e Apuí também se destacaram na cultura, em 2022.

Fator preço

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, destacou à reportagem do Jornal do Commercio que as áreas plantadas e colhidas no Amazonas “caíram sensivelmente em relação a dez anos atrás” e que a elevação ocorrida nos valores da produção são “fruto de aumento nos preços”, sem evidências de aumento de produtividade. “Analisando individualmente os produtos, vemos que os que reduziram produção estão em quantidade bem maior do que aqueles que subiram”, comparou.

O pesquisador assinalou ainda que, em todas as variáveis, as lavouras temporárias levam “grande vantagem” sobre as lavouras permanentes. “A mandioca está presente em todos o Estado e é o produto da lavoura temporária com maior valor de produção. A cada ano, o abacaxi figura entre os principais itens do grupo, indicando que está com sua produção em ascendência, sendo que Itacoatiara figura entre os seus principais produtores no Brasil. Melancia e cana de açúcar também possuem destaque”, listou. 

O presidente da Faea, Muni Lourenço, avalia que a pesquisa do IBGE mostra um panorama favorável para a agricultura amazonense. “De maneira geral, os dados mostram aumento do valor bruto da produção, ainda que com ligeira redução de área cultivada. Merece destaque o crescimento da produção de açaí, com Codajás entre os municípios de maior produção do país e o guaraná, com Maués na segunda colocação nacional. Dados como esse atestam a grande importância social e econômica do setor primário, principalmente para os municípios do interior do Estado”, afiançou.

Mas, de acordo com o dirigente, uma combinação de fatores contribui para que os produtos agrícolas do Amazonas não alcancem desempenho ainda melhor, principalmente no caso dos produtos com maior vocação regional. A lista incluiu questões climáticas, aumentos de custo de produção e questões de infraestrutura. “Por exemplo, no açaí, o município houve dificuldade para os produtores com o escoamento da produção na estrada, que compreende a maior parte da produção”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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