A indústria do Amazonas tombou pelo terceiro mês consecutivo, em novembro, ainda sob os impactos logísticos da vazante histórica. A produção caiu 4,2% frente a outubro, que teve dois dias úteis a mais. Foi o segundo pior desempenho do país e o sexto resultado negativo do ano, nesse tipo de comparação, embora o recuo tenha sido menor que o anterior (-4,5%). O confronto com novembro de 2022 mostrou retração de 10,3% – a maior do Brasil. Seis dos dez segmentos ficaram em baixa, especialmente o de bens de informática. Na média nacional, o setor cresceu 0,5% e 1,3%, respectivamente.
A manufatura amazonense ainda conseguiu consolidar o acumulado do ano no azul, com apenas 2,4% de acréscimo, mas voltou a perder posições no ranking. Nesse cenário, a indústria extrativa seguiu no vermelho e a expansão da indústria de transformação foi sustentada por quatro de seus subsetores, com destaque para combustíveis, máquinas e equipamentos. Em 12 meses, o avanço já caiu para 1,5%. Em contraste, a indústria brasileira estagnou em ambas as comparações (+0,1% e 0%, na ordem). Os números são da Pesquisa Industrial mensal e foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A regressão de 4,2% ante setembro manteve o Amazonas no penúltimo lugar, superando apenas Pernambuco (-9,7%), em um mês com cinco quedas entre as 17 unidades federativas investigadas pelo IBGE. Os melhores resultados vieram do Paraná (+5,4%) e do Espírito Santo (+4,3%). O tombo de 10,3% na variação anual fez o Estado descer da 15ª para a 17ª posição, em um rol liderado pelo Paraná (+21,2%). A indústria amazonense caiu para a quinta colocação no ranking do acumulado ano (+2,4%), que teve Rio Grande do Norte (+12,2%) e Ceará (-5,8%) nos extremos.
Informática em baixa
Na comparação com novembro de 2022, a indústria extrativa (óleo bruto de petróleo) subiu 2,8%, depois de submergir seguidamente nos quatro meses anteriores. A indústria de transformação descambou 11,2%, aprofundando as perdas de setembro (-1,9%) e outubro (-7,9%). Somente quatro de seus segmentos avançaram, com as altas se restringindo a petróleo e combustíveis (gás natural, com +24,3%); bebidas (+13,1%); produtos de metal (lâminas, aparelhos de barbear, estruturas de ferro, +17,4%); e produtos químicos (metais preciosos, inseticidas, nitrogênio e desinfetantes, com +5,4%).
O pior desempenho veio da divisão de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (celulares, computadores e máquinas digitais, com -33,7%). Mas a lista vermelha incluiu também produtos de borracha e material plástico (-26%); “produtos diversos” (artefatos de joalheria, isqueiros, lentes oculares, lápis, e fitas para impressoras, com -24,2%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (conversores, alarmes, condutores e baterias, com -19%); máquinas e equipamentos (condicionadores de ar e terminais bancários, com -14%); e até “outros equipamentos de transportes” (motocicletas e suas peças, com -1,1%).
No acumulado dos 11 meses mostra, a indústria de transformação expandiu 2,6% e a extrativa ficou negativa em 1,5%. Os incrementos de produção vieram de derivados de petróleo e combustíveis (+24,6); produtos de metal (+13,2%); produtos químicos (+8,8%); e “outros equipamentos de transporte” (+7,6%). No outro extremo ficaram os segmentos de “produtos diversos” (-7,2%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-5,4%); equipamentos de informática e produtos eletrônicos e ópticos (-1,6%); bebidas (-0,9%); borracha e material plástico (-0,6%); e máquinas e equipamentos (-0,6%).
Juros e seca
Em texto postado na Agência de Notícias IBGE, o analista da pesquisa, Bernardo Almeida, considera que a redução dos juros impactou no crescimento do setor em âmbito nacional. “É possível fazer uma relação com o avanço de 0,5% como efeito de uma política monetária mais expansionista. A queda da taxa de juros causa impacto direto na renda disponível das famílias, de maneira que o crédito está menos encarecido. Não podemos esquecer que os juros ainda estão em patamares elevados, mas conseguimos ver uma melhora na renda disponível das famílias, o que aumenta o consumo e impacta diretamente na cadeia produtiva industrial”, frisou.
O pesquisador destaca ainda que outro ponto que teria contribuído para o desempenho seria a melhora na massa salarial do trabalhador, o que também impacta da renda e consumo das famílias. “Estou falando de uma melhora na taxa de desemprego, impactando diretamente a cadeia industrial produtiva. Além disso, o crédito menos encarecido ajuda a diminuir as incertezas frente ao cenário macroeconômico, impactando nas decisões por parte dos produtores. Isso influencia na tomada de decisões, que se tornam mais otimistas, mais uma vez melhorando o ritmo da produção”, afiançou.
Ao jornal Valor Econômico, o analista do IBGE apontou a seca recorde de 2023 como a principal razão para a terceira queda consecutiva no ritmo de trabalho da indústria amazonense, detectada pela sondagem mensal. “O setor vem sofrendo nesses três meses com a seca, que gera custos adicionais de transporte, que pressionam o custo de produção. Ainda há dificuldade para a chegada de insumos e para o escoamento da produção”, ressaltou Bernardo Almeida.
“Relativa estabilidade”
O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Antonio Silva, assinalou que, embora negativos, os números estão dentro dos prognósticos do segmento, levando em conta os impactos logísticos da seca recorde de 2023. O dirigente ressalta que, durante outubro e novembro, o Estado chegou a ficar 49 dias sob “estiagem severa” e com o nível do rio Negro abaixo dos 14 metros.
“No cômputo global, os números denotam uma relativa estabilidade do Polo Industrial de Manaus. Altamente suscetível, contudo, a fatores exógenos, a exemplo da seca, que impactou diretamente as operações fabris. Dezembro ainda foi um mês afetado pela estiagem, mas nossas expectativas são de que os indicadores industriais comecem a apresentar uma leve recuperação, devendo se estender em ritmo lento durante o primeiro trimestre de 24, desconsiderados os efeitos sazonais sobre esses resultados”, finalizou.