Não faltaram análises e advertências por parte do setor produtivo a respeito de relevantes novidades que vinham ocorrendo na economia brasileira desde o último trimestre de 2007. O Iedi, uma das entidades que participou do debate, advertiu sobre diversos pontos.
O grau de utilização da capacidade de produção da indústria parou de aumentar nos meses finais de 2007 e passou a apresentar leve tendência de queda nos primeiros meses de 2008.
Isso indicou que, embora a demanda tenha aumentado seu ritmo de crescimento no mesmo período, a capacidade produtiva, vale dizer, a oferta potencial na economia passou a acompanhar esse processo. A produtividade da indústria teve expressiva evolução em 2007 e no primeiro trimestre de 2008. Os maiores ganhos de produtividade foram acompanhados por aumento do emprego e de um crescimento inferior ao da produtividade, porém expressivo, da remuneração real média das pessoas ocupadas no setor. Crescimento não inflacionário, em outras palavras, foi a indicação dada pelos novos dados da situação econômica brasileira no período recente.
Aumentos
inflacionário
Cerca de metade da inflação do ano passado foi devida a alimentos, a mesma causa principal da inflação acumulada nos três primeiros meses de 2008. Por outro lado, a inflação de produtos industriais dentro do IPCA manteve uma trajetória de variação de apenas 2,5%. Basicamente os aumentos de alimentos decorreram de um fenômeno mundial, provocado por fatores como: a) a demanda aquecida de alimentos por parte das populações dos países em desenvolvimento; b) aumento do preço do petróleo que incide nos custos da logística e insumos utilizados na agropecuária; c) pressão de preços devido à conversão de terras e produtos agrícolas para a fabricação de combustível; e d) valorização de preços de commodities decorrente de menor atratividade de outras aplicações, dada a diminuição das taxas de juros internacionais, especialmente nos EUA.
As novas projeções de crescimento dos EUA e mesmo em países emergentes como a China –no primeiro caso, resultando em taxas de variação do PIB muito próximas a zero ou mesmo negativas no corrente ano; no segundo, com uma desaceleração já constatada no primeiro trimestre do elevado crescimento desse país– concorrem para que a “bolha” de preços de commodities e, como conseqüência, os preços de alimentos refluam e facilitem o controle da inflação no Brasil.
Alta da Selic supera debates sobre juros
Cabe sublinhar, conforme o Iedi, que em nenhum momento se negou o ímpeto com que a demanda da economia vem evoluindo. Os itens acima servem de contraponto a essa evolução, tornando-a passível de controle sem aumento de juros. Aguardar um pouco mais os resultados de processos muito positivos que vêm se desenvolvendo na economia brasileira e os desdobramentos da crise internacional, era o que se propunha para a política monetária.
O aumento de 0,5% da taxa básica Selic, que passou de 11,25% ao ano para 11,75% ao ano, tornou o debate sobre a necessidade de aumento da taxa de juros superado e introduziu um outro, qual seja, o das repercussões da reorientação da política monetária.
No plano das expectativas, que é o plano mais adequado de análise dos efeitos da medida, uma elevação da taxa de juros como a anunciada tem indubitavelmente um impacto sobre as avaliações dos agentes. O Banco Central procurou minimizar esse impacto, notando que um aumento maior no início do processo de reorientação da política serve para, potencialmente, abreviar sua duração.
Por outro lado, a periodicidade atual das reuniões do Copom, de 45 dias, significa na prática que o aumento da taxa de juros é, em bases mensais, inferior a 0,5%. Mas tudo isso não passa de detalhes ou tecnicidades para quem toma as decisões relevantes na economia.