18 de setembro de 2024

Projeto ‘Zine de Encruza’ conta histórias do passado

Fanzines, ou apenas zines, são produções baratas, geralmente xerocopiadas, feitas por quem ainda não tem dinheiro para bancar a edição de um livro de forma mais profissional. Nos bares de Manaus circulam alguns propensos poetas e contistas, vendendo seus zines, com suas poesias e contos, tentando consagrar seus nomes e trabalhos.

“A idéia do projeto ‘Zine de Encruza’ surgiu com a vontade de fazer algum tipo de literatura marginal. Frequentávamos bares da cidade e víamos escritores vendendo aqueles livretos e contando histórias e contos fantásticos. Então, eu e meus amigos resolvemos nos reunir e escrever sobre essas histórias que povoam o imaginário popular. Escolhemos esse formato de zine porque é propício para vender nesse ambiente”, explicou Danna Dantas, uma das idealizadoras do projeto.

O ‘Zine da Encruza’ é um projeto literário idealizado por um grupo de amigos que frequenta o Centro de Manaus. Suas vivências, na capital e no interior do Estado, os levou a sentir certo encanto pelo tempo de vida dos espaços e pelas histórias de quem os ocupou antes. Em momentos descontraídos, num bar localizado num cruzamento, conversando sobre o passado e sobre as histórias das suas famílias, a encruzilhada se tornou um local de encontro dos amigos, daí o nome ‘Zine de Encruza’.

A trilogia ‘Os jovens terão sonhos, os velhos terão visões’ busca a valorização da escrita amazonense, de suas tradições orais e sua visão sobre si.

“Unindo escritores e ilustradores, a idéia é que nossa terra, nossas experiências e nossas tradições sejam contadas e representadas por nós”, disse Danna.

Memórias afetivas

Diferente dos poetas e escritores solitários, dos zines tradicionais, o ‘Zine de Escuta’ foi contemplado no edital Prêmio Feliciano Lana, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, e contou com a participação de mais de 15 profissionais, entre escritores e ilustradores.

O conceito fundamental do projeto, que é o sentimento compartilhado de quem cresceu envolto em lendas, foi apresentado para todos os participantes. A partir daí, os escritores tiveram liberdade para escrever os textos, em formatos variados, manifestando os temas que mais lhes tocavam dentro do conceito. Com o material escrito finalizado, entraram em ação os ilustradores, que puderam escolher quais textos gostariam de ilustrar.

“Esse arranjo deu certo porque todos os participantes têm em comum essas experiências amazônicas, e assim, os significados de cada história foram construídos a partir do cruzamento das visões do escritor e ilustrador. Cada história é uma encruzilhada”, falou.

Não se trata de lendas urbanas, ou lendas tradicionais amazônicas, mas narrativas já conhecidas por todos que já ouviram histórias sobre espíritos antigos, conviveram com superstições, ou que aprenderam a confiar na intuição dos mais velhos.

“São diversas memórias festivas, histórias contadas por nossas mães, nossos avós, sonhos noturnos, experiências vividas em comunidades indígenas, vivências de terreiros em Manaus e lembranças da infância”, informou.

O título da trilogia, ‘Os jovens terão sonhos, os velhos terão visões’ é uma adaptação de um versículo bíblico (… os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões) pensado no sentido de reconhecer as tradições repassadas oralmente por mães e avós.

Se sintam representados

“O objetivo do ‘Zine de Encruza’ é que no futuro, eventualmente, se façam outras chamadas de fanzines para dar oportunidades a novos escritores e ilustradores e montar outra composição porque ‘Os jovens terão sonhos, os velhos terão visões’ é, hoje, uma trilogia de zines, mas no futuro pode ser uma plataforma muito interessante para divulgar a literatura marginal amazonense e mostrar para todo mundo que é possível se fazer uma literatura popular que interesse às pessoas, que escrever é uma coisa de prática, e quanto mais se pratica, é mais uma possibilidade de se produzir um conteúdo cultural de qualidade para a região”, afirmou Veridiana Tonelli, também idealizadora do projeto.  

Apesar de os ‘zines’ serem obras de produção simplificada, ainda assim têm um custo financeiro para sua impressão e divulgação. Nesse sentido, o conceito do ‘Zine de Encruza’ é o mesmo, porém, como Danna e Veridiana puderam contar com o apoio financeiro do Estado, optaram por valorizar a produção dos artistas que compõem a equipe do projeto e trabalhar com uma diagramação criativa e impressão colorida nos três volumes.

A trilogia estará disponível para venda a partir de 5 de novembro, sexta-feira, por pedidos através do Instagram do ‘Zine de Encruza’, e também estarão sendo vendidos nos bares do Centro, especialmente no Bar Basquiat, que fica na encruza das ruas Ferreira Pena com Silva Ramos.

“Queremos que os leitores se sintam representados e se reconheçam nos sonhos e visões de vida retratados”, concluiu Danna.     

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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