19 de setembro de 2024

Repique da pandemia traz de volta período de incertezas nas escolas particulares

Depois de atravessar meses de recuperação gradual no volume de negócios, o setor de educação privada do Amazonas amarga a abertura de um novo flanco de incertezas, a partir do medo gerado pelo repique da pandemia pela variante ômicron. O segmento mais vulnerável é justamente o mais abalado pelas duas ondas anteriores: o de educação infantil. A situação é ainda pior quando se levado em conta a polêmica criada em torno da vacinação de crianças contra a covid-19.  

Pelo sim, pelo não, o Sinepe-AM (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Estado do Amazonas) ressalta à reportagem do Jornal do Commercio que não vai exigir atestado de vacinação de seus alunos, “em respeito à decisão de cada família”. Da mesma forma, a entidade empresarial informa, em texto distribuído por sua assessoria, que já recomendou às instituições associadas que retomem as aulas presenciais de forma gradual (ver boxe), a partir de 3 de fevereiro. 

“Um recente estudo da FVS-RCP [Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto] nos mostrou que está previsto o pico dos casos da Covid-19 e suas variantes, além da Influenza, entre o fim janeiro e início de fevereiro, então consideramos mais prudente adiar o retorno presencial”, justificou a presidente do Sinepe-AM, Laura Cristina Andrade, observando que o momento é de prezar as vidas dos colaboradores e alunos, e que a medida de retorno é uma recomendação, mas não uma imposição às empresas associadas.

Além das datas de retorno, o sindicato patronal ressalta que também tem buscado reforçar a adoção dos protocolos em todo o ambiente escolar, incluindo a higienização dos cômodos e móveis, e o controle do fluxo para evitar aglomerações. Também está prevista uma capacitação técnica para os gestores e coordenadores das instituições associadas. As devem continuar enviando relatórios à FVS-RCP, informando se há ocorrências de covid-19 entre seus alunos, colaboradores e familiares. 

“Momento de incertezas”

O Sinepe-AM não dispõe de números regionais de desempenho de vendas e geração de empregos, mas aponta que o ano foi de recuperação para o segmento, no Amazonas. Dados da Sedecti (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação) calculados a partir das Contas Regionais do PIB Brasil, do IBGE alta para atividade no terceiro trimestre de 2021. Educação e saúde privada teriam avançado 16,37%, na comparação com igual período de 2020, sem descontar a inflação. Vale lembrar que, na mesma comparação, o PIB amazonense (+18,02%) e seu setor de serviços (+17,38%) tiveram resultados melhores. 

As estatísticas mais recentes do “Novo Caged” informam, por sua vez, que o segmento de serviços de educação gerou 99 novos postos de trabalho com carteira assinada, na passagem de outubro para novembro. A maior parte do saldo positivo veio de Manaus (+93), em detrimento do interior (+6). No total, foram 423 admissões e 324 desligamentos, gerando variação positiva de 0,55% no estoque (18.010 ocupações). No acumulado dos 11 meses iniciais do ano, a atividade avançou 5,24% e gerou 896 novos empregos – 800 deles na capital.

“Houve crescimento e o mercado vinha aquecido, com geração de empregos. Mas, com essa situação que hoje a gente vive em nosso Estado, os negócios pararam de novo e caíram um pouco”, disse a executiva à reportagem do Jornal do Commercio. “Sobre os próximos meses, nem vou me comprometer em responder. Infelizmente, vivemos um momento de incertezas. Mas nossa expectativa é que a curva [de contaminação] comece a cair em fevereiro, segundo as informações repassadas pelas autoridades. Dessa forma, poderemos ter um retorno seguro, com todos os protocolos, sem ter de recuar o ano letivo em nenhuma etapa de ensino”, emendou.

Inadimplência e polêmicas

A presidente do Sinepe-AM também não soube precisar a atual taxa de inadimplência das escolas particulares do Amazonas. Antes da pandemia, o percentual de mal pagadores entre as escolas infantis girava entre 8% a 10%, conforme relatos anteriormente concedidos pela entidade empresarial à reportagem do Jornal do Commercio. O percentual teria chegado ao pico de 50%, nos meses da primeira onda, tendo refluído ao longo de 2020, para voltar aos 40%, durante o pico da segunda onda, no primeiro bimestre de 2021.

Laura Cristina Andrade avalia, no entanto, que o nível de calote foi sendo atenuado a partir do segundo trimestre do ano passado, a partir do programa da flexibilização dos serviços e do aumento de circulação de pessoas, que se seguiram ao programa de vacinação em massa e ao refluxo temporário das estatísticas locais da covid-19. “Só agora que nós estávamos nos recuperando e reestruturando as nossas escolas. A taxa diminuiu um pouco, porque voltamos à normalidade, entre aspas, com os protocolos. Agora, com toda essa situação novamente, o índice provavelmente deve disparar”, alertou.

No entendimento da executiva, a chegada ômicron ao Amazonas foi “péssimo” e configura um “verdadeiro atraso” para o segmento de educação, porque as famílias ficam inseguras. “A gente entende, porque é muito complicado [para as empresas] lidar com as novas variantes, ao mesmo tempo em que entende a insegurança das famílias, mantém os protocolos e mostrar que estamos comprometidos e que a escola é um lugar seguro. Mas, tudo isso faz parte”, assinalou.

Sobre a polêmica em torno da vacinação de crianças, a presidente do Sinepe-AM avalia que, se for feita alguma exigência em torno da aplicação do imunizante em seus filhos, pode haver resistências dos pais e piora na situação das escolas. A dirigente ressalta, contudo, que “é favor da vacina”. “Sou vacinada com a terceira dose, vou vacinar meu filho e faço acompanhamento junto à equipe voluntária da Coronavac. Espero que a gente consiga um número muito alto de crianças vacinadas, porque a situação seria bem melhor assim. Mas, não podemos interferir na decisão dos pais, que podem pensar diferente. Tem uma série de situações de religião, de política…”, finalizou.

Boxe: Ensino infantil deve ser o primeiro a retomar aulas presenciais

Em virtude do cenário epidemiológico do Amazonas, a orientação do Sinepe-AM é que, a partir do dia 31 de janeiro, o ensino fundamental I, II e médio retornem na modalidade 100% online. A recomendação inclui o retorno gradual ao ensino presencial, a partir do dia 3 de fevereiro, sendo que o primeiro segmento a retomar 100% as atividades nesse sentido será o ensino infantil. A partir de 14 de fevereiro, será a vez do ensino fundamental I fazer isso, sendo seguido pelo ensino fundamental II (dia 16), ensino médio e técnico (dia 21) e ensino superior (dia 22). O Sinepe-AM informa que as recomendações estão em concordância com os órgãos estaduais de saúde e foram votadas em assembleia pelas associadas.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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