Depois de amargar queda nos últimos meses, o dólar retomou o vigor e vem apresentando constantes elevações desde o dia 14 deste mês. Nesta última quinta-feira, a moeda ‘do tio Sam’ assumiu a maior cotação desde 17 de julho de 2009, chegando a R$ 1,90.
Embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha descartado estratégias imediatas para impedir este aumento gradual, foi a intervenção do BC (Banco Central) na venda que impossibilitou a alta de 5% na moeda americana e a cotação de R$ 1,95.
O professor de economia da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), José Alberto Machado, argumenta que a apreciação do dólar já era uma expectativa nacional, pois “em patamares muito baixos ele estimula importações, diminui competitividade dos produtos brasileiros no exterior, aumenta o consumo e descontrola a inflação”.
Desta forma, o economista emérito do Corecon/AM (Conselho Regional de Economia do Amazonas) avalia a recuperação da moeda estadunidense como positiva para economia brasileira. Entretanto, Machado argumenta que esta alta em ritmo veloz é prejudicial, “porque desorganiza as finanças das empresas”. “É isso que o BC tenta conter”, destacou.
O conselheiro titular da entidade, Daniel Azevedo da Silva, afirma que “as empresas que contraíram dívidas ou empréstimos na moeda americana acabaram ficando prejudicadas com esta repentina alta”. De acordo com Silva, esta elevação não é reflexo da crise internacional, mas característica de especulações que ocorrem no mercado.
O deputado José Ricardo Wendling (PT) salienta que esta elevação pode favorecer o setor de componentes, estimulando a produção local e reduzindo a concorrência com os produtos chineses. Por outro lado, ele enfatiza que dificultará o setor importador.
Além do mais, Machado analisa que o déficit da balança comercial amazonense terá um índice mais elevado, em virtude do arrocho no custo dos insumos. “Como não exportamos nem 3% do que produzimos, o aumento dos insumos não terá contrapartida em aumento de exportação”, considerou.
Neste caso, Daniel Azevedo da Silva ressalta que, além de pagar mais caro pelos insumos, as empresas terão mais gasto com fretes e algumas taxas que são calculadas pelo valor da moeda americana. Desta forma, o economista pondera que, se a situação se mantiver, esses gastos deverão ser “fatalmente repassados aos consumidores”.
Previsões
Assim como o ministro, que não acredita em um “patamar aceitável” para a taxa de câmbio, o presidente do Conselho, Erivaldo Lopes, descarta qualquer projeção, salientando apenas que “o real não pode apreciar, nem depreciar demais”.
Silva, conselheiro titular do Corecon/AM, também acredita que é difícil encontrar a melhor taxação para a moeda americana, em virtude de sempre haver empresas que ganharão ou perderão em qualquer ritmo, tanto alta quanto baixa. Contudo, ele salienta que, “passado esse momento, o dólar deverá voltar para a faixa de R$ 1,67”.
Já José Alberto Machado vai além. O professor analisa que uma estabilização da taxa em R$ 2,5, no prazo de doze meses poderia ser útil para a economia brasileira.