25 de novembro de 2024

Seca histórica ameaça vendas de fim ano no comércio varejista do Amazonas

Os níveis extremamente baixos dos rios e a severa estiagem, que limitam parte da navegação, principal rota de transporte de carga no Amazonas, devem impactar o volume de vendas do comércio varejista em um período de maior movimentação para o segmento. Datas como Black Friday e as tradicionais festas de fim de ano estão ameaçadas caso o cenário dos níveis de águas continue a cair. 

Um cenário preocupante na ótica de lideranças do comércio ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio. O presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, não descartou possíveis danos econômicos e surgem num momento em que a atividade comercial ainda sofre os efeitos da guerra na Ucrânia. 

“Ainda não saímos dos efeitos de 2022, quando houve a corrida do petróleo, a guerra da Ucrânia, o aumento da taxa Selic, o aumento da taxa de juros, ainda a imprensa das famílias brasileiras, que continua elevada. E hoje nós estamos vivenciando ainda uma parte dessas dificuldades que aconteceram em 2022, e ainda por cima nós estamos num processo de estiagem que com certeza vai trazer novos eventos de dificuldades para a economia do Estado do Amazonas, e principalmente para as cidades e população do interior do Estado”. 

O rio atingiu níveis muito baixos neste verão que as embarcações foram forçadas a reduzir a sua carga em até 50%, um grande problema, segundo ele, já que os navios vão ter dificuldades para atracar nos portos de Manaus. Sem o carregamento, os preços dos produtos tendem a subir por conta da escassez e do aumento do frete de entrega, principalmente no período da Black Friday deste ano, em novembro.

“Então isso traz uma série de dificuldades de abastecimento, isso vai repercutir com certeza nas próximas datas que é o Black Friday. O Dia das Crianças não, porque para esta data os empresários estão com mercadorias e todo mundo compra com um pouco de antecedência e nós estamos praticamente próximo ao dia 12 de outubro, então talvez essa interferência repercute mais no momento do Black Friday”, analisou ele. 

Por outro lado, o presidente da CDL Manaus, Ralph Assayag, ameniza, e pontua que o foco das lideranças empresariais do setor para o momento, está sendo a estiagem nos municípios no Alto Solimões. “Estamos trabalhando para ver o que pode acontecer se baixar muito em relação ao abastecimento de Manaus. Para o Dia das Crianças não há nenhum problema porque a carga já está toda na cidade de Manaus. Em relação ao final do ano é muito difícil de falar porque nós não fizemos nem pesquisa em relação à Black Friday e Natal, pois nós estamos trabalhando muito forte na maior estiagem que nós temos aí de mais de 13 anos”.

Por conta da estiagem, algumas companhias marítimas já informaram que a operação será interrompida  temporariamente por possuírem navios de grande porte sem possibilidade de navegação. “Isso tudo preocupou muito a gente, então o foco do trabalho agora é em cima deste ágio, até que as mudanças climáticas favoreçam. É uma questão de tempo, sobre como vai se manter,  o que vai acontecer, qual é o tempo que ela realmente vai ficar para que a gente possa depois pensar em Black Friday e final do ano”, ponderou. 

Na percepção do presidente da assembleia geral da ACA, Ataliba David Antonio Filho, o movimento do varejo da área metropolitana para o período da Black Friday traz a sensação de incerteza na economia. “Eu vejo com preocupação as políticas públicas econômicas e a insegurança dos cidadãos que circulam para consumir no centro e nos bairros, além de uma previsão de movimento do varejo na nossa região metropolitana inibido pela dúvida de uma maior estabilidade econômica”, declarou. 

Ele também não esconde a preocupação com o desabastecimento nos municípios que dependem do transporte fluvial e locomoção aos seus municípios. “Excluindo os municípios da Região Metropolitana,  os demais estão isolados no que diz respeito à chegada de insumos”. 

A seca que afeta o Estado do Amazonas está tendo repercussões significativas no transporte de cargas por hidrovia e pode potencialmente afetar o escoamento da produção da Zona Franca de Manaus. As empresas de logística que operam na região estão alertando para a necessidade de planejamento logístico mais abrangente e eficaz, especialmente considerando que a seca é um problema recorrente na área.
 

Ameaça à indústria 

De acordo com a Abac (Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem), o baixo nível de água estão ameaçando a segurança do abastecimento para a indústria, os gargalos nas entregas devem impactar a Zona Franca de Manaus, que não consegue escoar seus produtos, o que, dependendo da duração da crise, pode causar desabastecimento no mercado no Sul e Sudeste, em especial na “Black Friday”.

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio

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