13 de setembro de 2024

Serviços do Amazonas estão em queda, na contramão da média nacional

O setor de serviços do Amazonas encolheu pelo segundo mês consecutivo, em julho. A retração de 0,6% ante junho – que teve a mesma quantidade de dias úteis – foi a terceira do ano nesse tipo de comparação e veio na contramão da média nacional, em um mês negativo para metade das unidades federativas do país. O crescimento em relação ao mesmo mês do ano passado não passou de 0,1%, em ritmo muito mais fraco do que o do levantamento anterior (+3,2%). O Estado ainda conseguiu fechar os acumulados do ano (+3,7%) e dos últimos 12 meses (+5,8%) no azul, mas vem perdendo terreno. 

O desaquecimento dos serviços posicionou o Amazonas abaixo da média nacional em todas as comparações, em um mês tradicionalmente de férias. Embora tenham ido pouco além da estabilidade na variação mensal (+0,5%), os serviços brasileiros avançaram 3,5% sobre julho de 2022, sendo favorecidos principalmente pelo transporte de cargas, serviços prestados às famílias – especialmente restaurantes e hotéis – e “outros serviços”. A progressão se manteve também nos aglutinados de 2023 (+4,5%) e dos últimos 12 meses (+6%). Os dados são da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), do IBGE.

O IPCA mais ameno de julho (+0,12%) reduziu o descolamento da receita nominal dos serviços ante o volume de serviços, embora não tenha sido suficiente para salvar as vendas. A variação mensal do faturamento a preços correntes ficou próxima ao resultado efetivo das vendas, ao recuar 1%, reforçando a perda de junho (-1,3%). A comparação com junho de 2022 indicou estagnação (+0,2%), mas dilapidando novamente os acumulados do ano (+6,6%) e dos 12 meses (+9,5%). O Estado ficou atrás das médias nacionais (+0,2%, +4,6%, +8,5% e +11%) em todas as comparações. 

Estados e atividades

Com o recuo de 1,5% perante maio, o Amazonas desceu da 17ª para a 16ª posição do ranking, em meio a 14 resultados negativos. A lista foi liderada por Goiás (+5,6%) e Rondônia (+3,8%), com os piores resultados ficando em Roraima (-8,9%) e Pará (-3%). Em relação ao mesmo mês de 2022, o Estado (+0,1%) caiu da 20ª para a 23ª colocação, em uma lista com o Mato Grosso (+30,5%) e o Amapá (-3,3%) nos extremos. Também caiu para o 21º melhor número no acumulado do ano (+3,7%), em um rol também liderado pelo Mato Grosso (+17%) e encerrado pelo Amapá (-1%).

O IBGE-AM reforça que, em virtude do tamanho da amostragem, a pesquisa no Amazonas ainda não apresenta os dados desagregados por segmentos. O progresso mensal de 0,5% para os serviços de todo o país se disseminou em três das cinco atividades. Só os serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,1%); e de informação e comunicação (-0,2%) declinaram. O primeiro grupo foi desfavorecido por empresas de atividades jurídicas, de administração de cartões de desconto, de programas de fidelidade e de consultoria de gestão, entre outros. O segundo foi puxado para baixo por portais, provedores de conteúdo, desenvolvimento de softwares e distribuição de programas de TV,.

Em contraste, o segmento de transportes (+0,6%) retomou a liderança, sendo favorecido principalmente pelo transporte de cargas. Os serviços prestados às famílias (+1%) emendaram seu quarto resultado positivo seguido, sendo alavancados pela alta do faturamento de hotéis, restaurantes e parques de diversões, dado que julho é mês de férias. Já os “outros serviços” voltaram a ganhar musculatura, em virtude do maior vigor dos serviços financeiros auxiliares – “o mais importante em termos de receita, conforme o IBGE.

Cenários diferentes

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, reforça que, embora a queda registrada pela atividade tenha sido “pequena”, é significativa para um setor que vinha colhendo bons resultados até maio. “Felizmente a comparação com o mesmo mês do ano passado ficou praticamente estável. Mesmo assim, o acumulado de crescimento em 2023 declinou, colocando o Amazonas entre nas últimas posições a nível nacional nesse indicador. A média móvel trimestral está positiva em 0,7%. O que ainda traz esperança de que a próxima divulgação da pesquisa, traga um resultado melhor para a atividade aqui no Estado”, amenizou.

Já o cenário nacional se mostra mais positivo. Em matéria postada no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, assinala que, em julho, o setor de serviços de todo o Brasil operou 12,8% acima do patamar pré-pandemia – registrado em fevereiro de 2020. Além disso, chegou ao segundo maior nível da série histórica da sondagem ficando 0,9% abaixo do pico alcançado em dezembro do ano passado. 

“Em 2023, os serviços vêm mês a mês com resultados muito próximos ao ponto mais alto da série. Então as forças que operaram dentro do setor no ano passado continuam atuando, como o transporte de cargas, em função do aumento da produção agrícola e do comércio eletrônico, e os serviços de tecnologia da informação, beneficiados pela busca das empresas que queriam oferecer seus bens e serviços nas plataformas digitais”, analisou.

Férias e endividamento

Para o presidente em exercício da Fecomercio-AM, os números do IBGE indicam que, após atingir índices expressivos de crescimento, o setor de serviços está entrando em um “período de acomodação” e até de “saturação”. O dirigente lembra que julho é um mês “quase que exclusivamente” de férias e que o êxodo temporário de boa parte da base de consumidores do Amazonas pode ter arrefecido o desempenho das empresas locais.  

“Vários fatores podem ser arregimentados para uma explicação. Um deles é que o consumidor está a cada dia mais empobrecido, sem acesso a crédito e negativado. Mas, o governo tenta, através de medidas que envolvem a adesão dos bancos, resolver essas pendências”, ponderou.

A ex-vice-presidente do Corecon-AM, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, lembrou que os serviços têm peso expressivo para a geração de emprego e renda do Amazonas. “Os números refletem ainda as dificuldades enfrentadas pelo cenário macroeconômico. Mas, apesar dos indicadores negativos, acreditamos que o avanço do arcabouço fiscal e da reforma Tributária no Congresso, bem como o início do processo de queda da taxa de juros, devem contribuir para um segundo semestre com resultados mais positivos no setor”, encerrou.

Boxe ou coordenada: Setor de serviços continua contratando

A perda de vigor dos serviços ainda não se refletiu nos empregos. De acordo com os dados mais recentes do ‘Novo Caged’, o setor recuperou a liderança do ranking de atividades econômicas do Amazonas, em julho. O mês foi marcado por um aumento de 0,81% nos estoques e criação de 1.821 postos de trabalho celetistas, em dado muito mais forte do que o de junho (+377). Os números mais relevantes vieram do grupo que reúne informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (+1.122). No acumulado do ano, o setor de serviços gerou 10.049 vagas (+4,67%) e segue liderando a oferta de oportunidades no Estado, especialmente nas micro e pequenas empresas.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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