16 de setembro de 2024

Serviços em alta no Amazonas

O setor de serviços do Amazonas seguiu na trajetória inversa à média nacional e emendou uma segunda alta consecutiva, em fevereiro. Em mês de ômicron em expansão, e já sob os efeitos econômicos iniciais da guerra na Ucrânia, a atividade local subiu 2,4% ante janeiro, embora em ritmo menor do que o do levantamento anterior (+4,6%). Em contraste, a divisão de serviços de informação e comunicação puxou um recuo global de 0,2% para a atividade em todo o país. É o que revelam os dados da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), divulgada pelo IBGE, nesta terça (12).

Na comparação com fevereiro do ano passado, o incremento foi de 11,5%, em que pese a fraca base de comparação. No período, o setor estava de portas fechadas e limitado apenas a divisões que trabalhavam com delivery, transportes e atividades remotas, em razão da segunda onda e das políticas de isolamento social. Com isso, os serviços do Amazonas já acumulam incrementos de 9,9%, no bimestre, e de 12%, em 12 meses. O Estado superou a média nacional (+7,4%, 8,4% e +13%, respectivamente) em quase todas as comparações.

Assim como ocorrido na média nacional, o volume de serviços registrado no Amazonas voltou a se descolar da receita nominal do mesmo período, em virtude da inflação. O avanço na variação mensal foi de 1%, e ficou abaixo do número de janeiro (+7,6%). No confronto com fevereiro de 2021, a elevação foi de 16,6%, levando os acumulados do ano (+17,9%) e dos 12 meses (+18,1%) no campo positivo. As respectivas médias nacionais foram +1,5%, +13,1%, 14,1% e +17,2%. O choque das commodities, em decorrência do conflito europeu, e o repique internacional da pandemia, sinalizam mais inflação.

Com o acréscimo mensal no volume de serviços (+2,4%), o Estado subiu da sétima para a quinta posição, entre os maiores valores do setor em todo o país capturados no ranking do IBGE. Nada menos do que 13 das 27 unidades federativas amargaram recuos no volume de serviços – contra 12, na sondagem anterior. Tocantins (+13,8%), Mato Grosso (+6,6%) e Roraima (+4,7%) tiveram os melhores números. Na outra ponta, Distrito Federal (-3,4%), Rondônia (-3,2%) e Santa Catarina (-2%) ficaram no rodapé. 

Com a variação do bimestre consolidada no azul (+12%), o Amazonas recuperou a 11ª colocação no ranking nacional, após cair para a 17ª, no mês anterior. Mato Grosso (+22,3%), Alagoas (+22,1%) e Roraima (+17,6%) subiram ao pódio, enquanto Distrito Federal (-0,9%), Rio de Janeiro (+1,2%) e Rondônia (+2,7%) tiveram os piores desempenhos. Em relação ao mesmo mês de 2021 (+8,5), o Estado avançou da 16ª para a nona posição, em uma lista iniciada por Roraima (+23%) e encerrada por Rondônia (-3,9%). 

“Posição confortável”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, ressaltou à reportagem do Jornal do Commercio que os números mostram os serviços como um ponto fora da curva entre os demais setores econômicos do Amazonas. Na análise do pesquisador, os dados sinalizam desempenho positivo também no curto prazo, a despeito do cenário econômico adverso e dos impactos negativos do panorama geopolítico global e da instabilidade política decorrente do ano eleitoral. 

“Fevereiro foi o segundo mês do ano em que a pesquisa mostrou crescimento. De certa forma, a atividade tem conseguido superar indústria e comércio e apresentar acumulados de crescimento bastante consistentes. A posição do Estado foi bastante confortável, em relação às demais unidades federativas. O dado da média móvel trimestral é positivo e mostra também que há boas perspectivas de expansão para os próximos meses”, analisou.

Pandemia e guerra

O IBGE-AM reforça que, em virtude do tamanho da amostragem, a pesquisa no Amazonas ainda não apresenta os dados desagregados por segmentos. Em âmbito nacional, duas das cinco atividades investigadas pelo IBGE recuaram na variação mensal: serviços de informação e comunicação (-1,2%) e outros serviços (-0,9%), que acumularam, respectivamente. Em contrapartida, transportes (+2%), serviços profissionais, administrativos e complementares (+1,4%) e os prestados às famílias (+0,1%) assinalaram expansões do mês.

Em entrevista concedida recentemente à reportagem do Jornal do Commercio, o conselheiro da Abrasel-AM (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes Seção Amazonas), Jean Fabrizio, assinala que o faturamento das empresas vem crescendo “de forma tímida”, não dando margens a comemorações. De acordo com o dirigente, “a grande maioria” dos empresários ainda se encontra endividada, por conta da pandemia, e os impactos econômicos da guerra na Ucrânia pioraram o cenário. “O preço dos insumos vem crescendo a cada dia e, certamente, as empresas que quiserem se manter no mercado terão de repassar ao consumidor, ou tenderão a fechar as portas. Este assunto tem sido pauta de discussões constantes entre os empresários”, finalizou.

O presidente da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, lembra à reportagem do Jornal do Commercio que os estabelecimentos de comércio e serviços estavam de portas fechadas, em razão da segunda onda, o que ajuda a explicar o crescimento expressivo na base anual, detectado pelo levantamento do IBGE. O dirigente alerta, no entanto, que o aumento dos custos e dos índices de inadimplência apresentam obstáculos ao crescimento, no curto prazo.

“É muito bom que a gente observe que os serviços se recuperaram mais rápido, pois não dependem de uma série de fatores que o comércio, por exemplo, depende, a exemplo de frete, variação cambial e pagamento antecipado de tributos. O crescimento mensal mostra que o setor de serviços está se recuperando com muito mais velocidade. O fato de o Estado se destacar em um panorama nacional de números negativos é uma boa notícia, apesar de ainda vivermos algumas conturbações, pela alta nos custos e da inadimplência. Os encargos em termos de juros foram excessivos e o Banco Central já sinaliza uma taxa Selic de 13,75% para segurar a inflação. Na minha avaliação, isso não vai gerar grandes efeitos, mas desviar recursos da produção para especulação, sem criar empregos ou gerar impostos”, arrematou.    

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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